quarta-feira, 22 de abril de 2009

O "OBAMA"DE ROTERDÃO


O “OBAMA” DE ROTERDÃO
Segunda-feira, 5 de Janeiro, Ahmed Aboutaleb toma posse como novo Presidente de Câmara de Roterdão. O Ex Secretário de Estado para Assuntos Sociais e membro do partido Trabalhista (PvdA), será o primeiro autarca de origem marroquina na Holanda.
Para a maioria dos habitantes de origem estrangeira da cidade de Roterdão, a nomeação de Aboutaleb é uma lufada de ar fresco no cinzento panorama político da Holanda; fala-se mesmo que ele é o Obama da Holanda;
Ahmed Aboutaleb, de 48 anos, casado, pai de três filhos, é filho de um Imã e nasceu na localidade de Beni Sidel, em Marrocos. Aos 16 anos chegou a Holanda com a família onde trocou o seu sonho de ser poeta para ser jornalista.
Aboutaleb desempenhou várias funções importantes antes de chegar a Câmara de Roterdão. Formou-se em engenharia e telecomunicações, foi assessor de imprensa e relações públicas em Amesterdão, fundou e dirigiu a organização Fórum, dedicada aos problemas do multiculturalismo. Foi Vereador em Amesterdão de 2004 a 2007, ocupando a pasta da Educação, Juventude e Diversidade.
Em 2007, Ahmed Aboutaleb foi nomeado Secretário de Estado Para Assuntos Sociais e Emprego no IV Governo Balkenende (Coligação CDA/PvdA/União Cristã). Na altura foi o primeiro marroquino a ocupar um lugar importante no seio de um Governo holandês. É de relembrar que também neste Governo Balkenende tem mais uma muçulmana de origem Turca :Nebahat Albayrak, Secretária de Estado da Justiça que, tal com Aboutaleb, tem dupla nacionalidade: Turca e Holandesa.
Roterdão, segunda cidade da Holanda depois de Amesterdão, é o principal pólo económico da Holanda e conta cerca de 600 mil habitantes oriundas de quase 200 nacionalidades diferentes. Cerca de 50% da população da cidade é de origem estrangeira sendo as maiores comunidades oriundas da Turquia, Marrocos, Suriname, Antilhas Holandesas, Cabo Verde, China, e do Leste Europeu.
QUAIS OS PROBLEMAS QUE O ESPERAM?
Os Jovens de origem estrangeiros são acusados pelos medias holandeses e políticos como sendo jovens problemáticos que causam vários problemas a cidade. Interrogado a este respeito, a mensagem de Aboutaleb foi muito claro: os jovens marroquinos que levam uma vida normal contarão com o seu apoio; mas aqueles que optem pela marginalidade, que causam problemas serão tratados com dureza.
No plano urbanístico, a cidade ainda não tem um centro harmonioso desde da segunda Guerra Mundial;
O desemprego também é outro ponto que vai exigir muito deste autarca. Assim com os cursos de integração que são um autêntico desastre; apoios ou não as organizações estrangeiras que fazem trabalho social.
Questionado se está a altura para enfrentar esses desafios ele responde que precisa de um pouco de tempo para pôr em pratica as suas ideias mas que não pode fazer milagres por não ter a varinha mágica nas suas mãos;
Um ponto a não ser negligenciado pelo novo autarca tem a ver com a coligação que governa a cidade formada pelos Partidos (VVD,CDA, Verdes e PvdA), pois os vereadores são todos “Brancos” e o maior Partido da oposiçào da cidade é o Leefbaar Rotterdam o Partido de Pim Fortuyn. Aboutaleb terá que ser um negociador hábil para gerir também mais esse problema.
O Partido do novo Autarca de Roterdão parece também não estar muito virado para facilitar a vida dos “estrangeiros” na Holanda. Recentemente a Presidente do Partido (PvdA), Lilianne Ploumen, criticou o modelo de tolerancia para com a integração dos estrangeiros na Holanda aproximando perigosamente do pensamento dos populistas como Geert Wilders. Lilianne Ploumen defende também a aprendizagem obrigatoria do holandes assim como o fim do principio da dupla nacionalidade. Aboutaleb tem duas nacionalidades (marroquina e holandesa)
CRITICOS DA NOMEAÇÃO
Para o lider da extrema direita belga (Vlaams Belang) a islamização da cidade de Roterdão é um facto. Escreve De Winter no seu site que esta nomeação alimenta ainda mais a arrogancia dos marroquinos na Europa.Para O lider do partido PVV (Partido para a Liberdade) Geert Wilders (considerados por muitos com extrema direita) , Roterdão vai tornar-se uma Rabat e, em breve, vamos ter um imã a servir de arcebispo. “É uma loucura!" a nomeação de um presidente de origem muçulmana em Roterdão. “É um trabalho de idiotas” acrescentou.
De uma forma geral, todos os partidos na cidade portuária aceitarem bem a nomeação de aboutaleb excepção feita ao Leefbaar Rótterdam, o partido criado pelo politico assassinado Pim Fortuyn que reagiu com furia a nomeação do novo homem forte da cidade. Este partido considera inaceitável um adepto do Ajax principal equipa da cidade de Amsterdão (“inimiga” da Feyenoord de Roterdão ) possuindo duas nacionalidades ser Presidente da cidade de Roterdão;

I.W. OPSTELTEN
O Presidente cessante divide um pouco as opiniões no tocante ao seu desempenho como presidente da cidade portuária de Roterdão. Para alguns ele soube gerir bem o pós morte de Fortuyn (politico populista assassinado em 2002 por um activista dos direitos dos animais). A cidade passou a ser mais segura para os municipes; A formação das coligações pós eleições municipais foram conseguidos relativamente rapidos e sem grandes sobressaltos. A agenda cultural parece ter-se consolidado com uma temporada de festivais que fazem da cidade um ponto turistico importante. No desporto a cidade passou a organizar várias actividades e sob a liderança de Opstelten o “Tour de France”de bicicleta de 2010 terá pelo menos uma etapa em Roterdão.
Os criticos de Ivo Opstelten pensam que a cidade tornou-se menos social com politicas de afastar a camada mais desfavorecidas do centro da cidade; vários bairros sociais com aluguer relativamente baixos foram demolidos para dar lugar a moradias de luxo que só podiam ser habitadas por classe de media alta. A Policia tornou mais autoritária e repressiva sobretudo com as pessoas de origem estrangeira (Na Holanda os Presidentes de Câmara é que são também chefes da Policia).
Recorda-se ainda que muitos Rádios Migrantes foram a falência por perderem o apoio que antes tinham do Municipio de Roterdão (Rádios que desempenhavam um papel importante na integração do seu público alvo na cidade com informações na própria lingua); No tocante aos caboverdianos perderam todo o espaço que tinham em termos de realizaçòes de festas para angariaçào de fundos porque a Policia de Roterdão com a força que tinha confundiu a ordem publica com autoritarismo e cada relatorio feito era responsavel pelo encerramento de muitas Salas de Convivios.
No entanto Opstelten nao vai terminar a sua carreira politica. Ele foi nomeado em 2008 Presidente do Partido Liberal (VVD) na Oposição.
OPINIÃO DO CABOVERDIANO ANTÓNIO SILVA (POLITICO E PROFESSOR)
Instado a dar sua opinião sobre a nomeação de Aboutaleb, o ex-deputado Municipal pelo CDA e professor da Escola Superior IN Holland, Antonio Silva, caboverdiano, teceu as seguintes considerações sobre o assunto: “Na Holanda os burgomestres são formalmente nomeados pela Coroa por um periodo de seis anos, pondendo o período abranger vários anos. Trata-se de um procedimento de pouca transparência e por vezes severamente criticada por especialistas na area de Direito Constitucional.
Eu, pessoalmente, contava que o actual burgumestre de Maastricht (…..cidade da Declaraçãodo acordo de Schengen), Sr. Gerd Leers, viesse a ser nomeado mas isso infelizmente nao aconteceu. Depois de um periodo de 30 anos de governação socialista (PvdA sempre esteve no poder em Roterdão) e 10 anos de lideranca Liberal (Opstelten; Partido Liberal) contavamos desta vez com a nomeacao de um burgomestre do CDA. A nomeação de Aboutaleb foi uma grande surpresa; Há muito que havia rumores nesse sentido, mas tendo em conta a experiencia de Gerd Leers e sua carreira politica eu pessoalmente tinha quase a certeza que ele viria ser nomeado.
Eu, efectivamente, enquanto deputado Municipal, trabalhei estreitamente com burgumestre Opstelten, discutimos variadissimas vezes a possibildade de cooperacçã como nosso País, Cabo-Verde; Considero Opstelten um grande amigo dos caboverdianos. Espero que a nova governação sob lideranca de Aboutaleb, de facto, venha a ser vantajosa para os nossos conterraneos e que mutuamente haja mais confianca e cooperaçao em prol do progresso geral dos habitantes da grande cidade Roterdao.”
RESUMINDO:
Recorda-se que o mandato de um Autarca na Holanda é de seis anos podendo ser reeleito.
Apesar de não se ter destacado muito como governante; A, Aboutaleb é muito conceituado no País considerado mesmo o imigrante modelo pela sua integração na Holanda e espera-se que ele faça um trabalho positivo na cidade mais caboverdiana da Holanda, contribuindo para melhorar o relacionamento entre as diversas comunidades existentes na cidade. Caso falhe o que é bastante improvável mas não impossivel, todos os estrangeiros poderão em certa medida pagar pelo fracasso; serem mais hostilizados e sofrer ainda mais discriminações em todos os sectores da vida pública principamente na procura de um emprego.
Mas de uma forma geral todos confiam no Obama de Roterdão para comandar bem os destinos do Municipio nos próximos anos.
Norberto B. C. Silva
Publicado no Liberal dia 04 de Janeiro 09

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