segunda-feira, 20 de julho de 2009

CV:ENTREVISTA COM JORGE XAVIER DIRECTOR DO HOTEL TRÓPICO DE CABO VERDE

JORGE XAVIER GESTOR DO HOTEL PESTANA TRÓPICO NA CIDADE DA PRAIA
HOTEL PESTANA TRÓPICO NA CIDADE DA PRAIA

Jorge Xavier,Director do Hotel Pestana Trópico da Cidade da Praia.
O gestor de 40 anos é licenciado em Gestão Hoteleira pela Universidade do Algarve. Está em Cabo Verde desde 2003. Nesta entrevista a José Sousa Dias, da Agência Lusa, fala da ocupação do Hotel Pestana Trópico, do difícil ano de 2009 e da estratégia do grupo para o Arquipélago.

José Sousa Dias-Qual foi a estratégia do Grupo Pestana para apostar em Cabo Verde, mais concretamente na Cidade da Praia?
Jorge Xavier-O investimento do Grupo Pestana deu-se na sequência do início da política de expansão do Grupo. Depois de sair da Madeira e ir para Portugal Continental, avançou para a internacionalização e resolveu começar a investir nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), nomeadamente em Moçambique, no início da década de 90. Esse desenvolvimento tem continuado e teve o passo seguinte, a nível da África, com a aquisição do Hotel Trópico, em 2003, a um empresário português. Depois, deu-se continuidade com a expansão em São Tomé e Príncipe.Prevemos também a expansão para Angola num futuro próximo. Essa foi a principal razão, integrada na política de expansão do Grupo. Outra razão tem naturalmente a ver com o facto de este hotel ter sido identificado como uma boa oportunidade de negócio e depois de uma série de meses de negociações, adquiriu-se a unidade em Abril de 2003.
Qual foi o montante do negócio?
Comprámos a totalidade da empresa detentora do Hotel Trópico à Empresa de Empreendimentos Turísticos. Ficou em cerca de 1,1 milhões de escudos (cerca de 10 milhões de euros). Comprou-se não só o hotel, como também a dívida. O empréstimo que foi concedido está totalmente pago. Conseguimos amortizar o investimento em cerca de sete anos.
A taxa de ocupação tem sido positiva?
A taxa de ocupação é sempre positiva, até porque este hotel tem apenas 51 quartos (incluindo quatro suites e três executivas). Tem-se mantido acima dos 80% de forma consistente. Temos praticamente sempre garantida uma ocupação de 40 quartos, com excepção de 2004, que foi o nosso ano «horribilis». Mas 2003, 2005, 2006, 2007 e 2008 foram bons anos, sobretudo depois da abertura do novo aeroporto internacional da Praia que deu um grande impulso à actividade na ilha de Santiago.
A estratégia do Grupo Pestana poderá estender-se a outras ilhas de Cabo Verde?
Com certeza que sim. Estamos dependentes das propostas que surgirem e têm sido algumas. Não têm é sido propostas consistentes, que mereçam a nossa aposta.
E com um projecto próprio para abrir unidades hoteleiras noutras ilhas?
Temos muitos projectos em andamento pelo mundo fora, em Miami, Berlim, Londres, já em fase de construção ou de finalização. Temos alguns novos projectos em carteira, mas não foi julgado oportuno reforçar o investimento em Cabo Verde a esse nível. Estamos constantemente a investir neste hotel e a ponderar uma expansão. A breve prazo e quando for julgado oportuno avançar para uma situação dessas, pois então avançaremos.
Falou em expandir o espaço físico do Hotel? De que forma?
São mais 41 quartos a juntar às actuais unidades de alojamento. Passaremos dos actuais 51 para 92 com a duplicação de uma das alas do hotel. Isso responderá à procura que temos tido a longo dos últimos anos. A cidade, aliás, sofre muito com a falta de alojamento de qualidade.
Dada a proximidade de Cabo Verde e as raízes históricas e culturais, o Grupo Pestana equaciona um investimento na Guiné-Bissau?
Não me parece. No actual contexto em que a Guiné-Bissau está mergulhada, acho altamente improvável que o Grupo Pestana se envolva num negócio desses. Não quer dizer que não o faça no futuro. Mas o Grupo Pestana avança devagar e seguro. Dá sempre passos muito seguros e estuda muito bem todos os processos antes de avançar. Como tal, sendo a Guiné-Bissau um contexto com um elevado grau de imprevisibilidade, não me parece que ofereça o retorno necessário para o investimento vultuoso que costumamos fazer.
Qual é a perspectiva de um empresário português, ligado ao Grupo Pestana, sobre o actual momento económico em Cabo Verde?
Bom, não sou propriamente empresário, sou um gestor, um quadro de uma empresa. Digo isto por uma questão de exactidão. O momento que se vive actualmente é de pausa, de uma certa de estagnação. É um ciclo que termina e outro que está para começar. Estamos numa espécie de interregno, naquele chamado «chove, mas não molha». Isso tem-se notado na nossa actividade, temos tido uma ligeira quebra na nossa facturação ao longo deste ano, sobretudo desde Dezembro, que se tem mantido. O nosso desafio agora é equilibrar as coisas para que possamos manter as nossas margens.
Até que ponto a crise está a afectar-vos?
A média que referi (acima dos 80%) tem sido constante ao longo dos últimos cinco/seis anos. Mas este ano tem sido um pouco abaixo disso. Quando vai terminar este ciclo não sei. Este ano tem sido para esquecer. Só em 2010 é que, como se diz por cá, "arribará" um bocadinho. Ainda é cedo para dizer alguma coisa. Este ano, estou convencido de que não passaremos de uma situação de uma certa estagnação.
Do ponto de vista de um gestor que está em Cabo Verde há seis anos, acha que o arquipélago é bom para o investimento português?
Com certeza que sim. Portugal tem estado sempre nos primeiros lugares das tabelas de investidores externos. Há muitas coisas que nos ligam a Cabo Verde: raízes históricas, de sangue, culturais, etc. Faz todo o sentido continuar a investir em Cabo Verde. Embora seja um mercado um pouco difícil de trabalhar, devido à descontinuidade territorial, temos um universo de clientes relativamente reduzido - não chega a meio milhão de pessoas - mas continua a ser vantajoso para as empresas que vêm para cá. Claro que é preciso que essas empresas estejam bem conscientes do que vêm encontrar, estudem bem o mercado e a realidade local. Se há muitas empresas que fazem um bom trabalho de casa com projectos consistentes, também há muitos empresários que vêm à aventura e, como tal, às vezes os resultados não são os melhores. A legislação cabo-verdiana é atractiva?
A legislação é atractiva, nomeadamente com a isenção de impostos nos primeiros 10 anos do investimento externo. No nosso caso, tendo obtido o Estatuto de Utilidade Turística, não pagamos o IUR, o chamado IRC, pois estamos isentos nos primeiros cinco anos e, nos cinco anos subsequentes, só pagamos 50%. Isso é já um grande incentivo. Não há nenhum custo na transferência para o exterior dos rendimentos aqui obtidos, há facilidade para trazer quadros de fora e posso dizer que as autoridades de Cabo Verde têm sido de uma simpatia e de uma cooperação inexcedíveis.
Que conselhos daria a um investidor português apostar em Cabo Verde?
Primeiro, estudar bem o mercado e conhecer bem a realidade local e identificar as oportunidades de negócio, que as há. Agora, há que estudar bem e não vir para cá à aventura. Há pessoas que aparecem aqui no hotel, e nesse caso tenho uma visão privilegiada, que parece que fizeram a mala no dia anterior e resolveram comprar o bilhete de avião para vir a Cabo Verde. E nem sequer fazem reserva de hotel, o que é absolutamente inacreditável. Mas isto pode ser também o reflexo da crise que se vive em Portugal e que leva as pessoas à procura, de alguma forma fruto do desespero, de novos mercados.Se as pessoas estudarem bem a realidade local, tiverem bons contactos, terão grandes probabilidades de ter sucesso no negócio. A AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) tem sido importante no apoio ao empresariado português?A AICEP tem um papel fulcral, sobretudo no acolhimento e aconselhamento ao empresariado português.
Cabo Verde é um arquipélago no meio do Oceano Atlântico. Até que ponto crê que pode tornar-se uma plataforma para África, América e Europa?
Uma das grandes vantagens de Cabo Verde é a sua posição geoestratégica. Mais ou menos a distâncias próximas de três continentes. Mas é um país muito especial.A experiência que aqui se obtém não penso que seja possível utilizar noutros locais. Cabo Verde é um bom exemplo em muitas coisas e, sendo um bom exemplo em muitas coisas, infelizmente não vemos esse exemplo reproduzido noutros países, sobretudo nos países vizinhos na costa africana. Se as coisas aqui são fáceis porque as autoridades cooperam, as leis existem e a justiça funciona, isso não acontece, infelizmente, nos países vizinhos.Cabo Verde é um país africano mas tem muito de europeu. Não vejo como se possa passar essa experiência para outros países. Cabo Verde é, de facto, um país muito especial, no bom sentido.
Oje/Lusa


2 comentários:

  1. Deu-me vontade de conhecer Cidade de Praia. Sou brasileiro, resido na cidade de Campo Grande no Estado de Mato Grosso do Sul e tenho interesse em investir em transporte urbano alternativo. Que possibilidades há para se investir em transporte aí?
    Aldo Silva Rocha

    ResponderEliminar

Comentar com elegância e com respeito para o próximo.