sábado, 24 de outubro de 2009

TPI:SÉRVIOS INDIFERENTES AO JULGAMENTO DE KARADZIC QUE COMEÇA SEGUNDA FEIRA


HAIA-Depois de 13 anos de fuga e mais de um ano na prisão, Radovan Karadzic finalmente enfrentará julgamento em Haia a partir de segunda-feira. Mas os sérvios e muitos muçulmanos bósnios perderam interesse pelo ex-líder – estão cansados de olhar para o passado. Só os muçulmanos bósnios que foram vítimas da brutalidade sérvia irão assistir cuidadosamente a este julgamento. Para eles, a guerra ainda é muito presente.

Radovan Karadzic é acusado de 11 crimes de guerra e genocídio por ter sido o responsável por planejar as atrocidades cometidas durante a guerra na Bósnia, entre 1992 e 1995. No total, acredita-se que mais de 100 mil civis e soldados foram mortos durante a guerra na Bósnia, incluindo 7 mil muçulmanos bósnios – homens e meninos – assassinados em 1995 no massacre de Srebrenica.
Esquecido pelos sérvios
O total de mortes inclui 25 mil sérvios. Mas o início do julgamento de Karadzic não deve despertar muito interesse ou clamor público na República Sérvia, na Bósnia (entidades políticas autônomas da Bósnia e Herzegovina) ou na própria Sérvia.
Nos anos que se seguiram à guerra, Karadzic foi quase esquecido pela maioria dos sérvios na Sérvia e nos territórios sérvios da Bósnia e Herzegovina. Muitos dos mitos que o cercavam se desvaneceram.
Poucas pessoas acreditavam que Karadzic algum dia seria preso. Foi uma grande surpresa quando foi divulgada a notícia, em 22 de julho de 2008, de que o ex-líder estava detido no prédio do tribunal de Belgrado, acusado de genocídio e crimes de guerra.
E a surpresa aumentou quando detalhes de sua vida como Dragan David Dabic vieram à tona. Por alguns anos, o ex-presidente viveu em plena luz do dia em um subúrbio de Belgrado, se passando por um especialista em medicina alternativa, visitando pacientes e convenções, e de vez em quando até cantando.
Herói caído
Radovan Karadzic não é mais o herói sérvio que foi no passado. Na verdade, muitos sérvios o veem como um obstáculo à integração à União Europeia. Logo depois de sua prisão, apenas algumas pessoas apareceram para protestar em frente ao tribunal onde estava detido. Para elas, Karadzic sempre será um herói, ou, como diz uma canção sérvia, um ‘Srpski Sin’, um filho da Sérvia.
Sem dúvida, os primeiros dias de julgamento serão transmitidos extensivamente nos dois países – como aconteceu com julgamento do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic. No entanto, os canais de televisão abandonaram rapidamente as transmissões ao vivo quando ficou evidente que quase ninguém estava assistindo. Não há razão para acreditar que será diferente no caso Karadzic.
Sombras da guerra
Na Bósnia, no entanto, a história é muito diferente. Mais de 80% dos civis mortos na guerra era muçulmanos bósnios, ou Bosniaks – as vítimas da tentativa sérvia de fazer uma ‘limpeza étnica’ na região. E muitos daqueles que sobreviveram ainda vivem nas sombras da guerra.
Katheryne Bomberger dirige uma organização em Sarajevo que ajuda a localizar e identificar os restos mortais de pessoas que desapareceram durante o conflito armado. Até agora, a equipa de Bomberger assistiu na identificação de mais de 6300 corpos enterrados em valas comuns em Srebrenica. É uma parte essencial do processo de recuperação, diz Bomberger.
“Muitos deles tiveram suas famílias inteiras dizimadas, qualquer evidência de sua existência foi apagada. Eles têm governos negando a existência de seus filhos. Ser capaz de identificar por meio de DNA um filho de uma mãe que ouviu do governo que esta pessoa não existe, permite não apenas enterrá-los mas resgatar sua identidade e existência – que eles tiveram uma vida, que tiveram um filho, que tiveram alguma coisa.”
Aprisionados
Mas para a geração mais nova na Bósnia, a guerra é uma coisa do passado. E mesmo a população de muçulmanos bósnios de meia-idade provavelmente não dará atenção ao julgamento em Haia. Eles – assim como os sérvios – se sentem aprisionados pelo passado e querem ‘sacudir a poeira’.
Quem quer que ligue a televisão na segunda-feira para ver Karadzic no banco dos réus, ficará desapontado. Radovan Karadzic, que estará representando a si mesmo diante do tribunal, anunciou esta semana que não irá ao julgamento no primeiro dia.
A defesa não recebeu tempo e recursos suficientes para se preparar”, escreveu Karadzic em uma carta ao tribunal. “Este processo não está pronto para começar.”
O tribunal, por sua vez, diz que o julgamento começará na data prevista. Isso acontecendo ou não, para os sobreviventes em Srebrenica, já vem tarde demais.
RNW-Por Hermione Gee e David-Jan Godfroid

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