quinta-feira, 30 de abril de 2009

FERIADO NACIONAL HOLANDÊS

Rainha Beatriz e a familia do seu filho Willen Alexander
Súbditos aproveitam para fazer o que não é permitido nos outros dias
HOJE É O “DIA DA RAINHA NA HOLANDA”

Roterdão, 30 de Abril – Hoje, 30 de Abril, é feriado nacional na Holanda, mas também nas Antilhas holandesas e em Aruba, pois é o dia da Rainha (Koninginnedag). Por toda a Holanda há festas e é permitido vender quinquilharias nas ruas e há espetáculos dos mais variados estilos (muita música e muita dança). Há mesmo uma vitrina para os jovens talentos se apresentem e representem ao público. Sons de violinos, violoncelos e flautas são os mais tradicionais nesse dia mas há também shows de bandas nacionais e estrangeiras, pois a Holanda transforma-se, a cada dia que passa, numa sociedade multicultural. Por exemplo, em Roterdão a população de origem estrangeira é maior que a autóctone e o Presidente da Câmara é de origem estrangeira Ahmed Aboutaleb (nasceu em Marrocos).
A cor predominante hoje é a cor laranja, a cor da família real holandesa, e por isso a maioria dos habitantes e residentes no País trazem vestido algo de laranja nos seus trajes. O Dia da Rainha é o único dia do ano em que as pessoas podem vender coisas na rua sem permissão. É por este motivo que se podem encontram imensas feiras neste dia.
Tradicionalmente, celebra-se o dia da Rainha em 30 de Abril para comemorar o aniversário da já falecida Juliana, mãe da actual Rainha Beatrix. Segundo A Radio Nederland, a primeira vez em que a festa celebrou-se de maneira pública, foi a 31 de agosto 1885, aniversário da então ainda princesa Wilhelmina, mãe da Rainha Juliana. Os liberais deram a idéia, com a intenção de promover a unidade nos Países Baixos. Diz a emissora pública holandesa que embora a Rainha Beatrix é aniversariante a 31 de janeiro (em pleno inverno), a festa continua sendo celebrada em 30 de Abril, quando o clima já está mais ameno e coincide com o dia em que em 1980, Beatrix subiu ao trono e ela determinou que a festa seja sempre celebrada em 30 de Abril, em homenagem à sua mãe, Rainha Juliana.
Apesar de ser comemorada por toda a Holanda, a cidade onde a festa é mais rija, é na capital holandesa Amsterdão, onde todos os anos milhares de turistas chegam para comemorar o dia e pois claro deleciar com as liberdades que só a Holanda oferece com a venda de drogas nos coffesshops.
Posters para atrair turistas, com imagens trabalhadas em Photoshop, causou polémica e foram retiradosEste ano, apesar da crise financeira, são esperados na capital cerca de 750 mil visitants o que constitui uma enorme receita nessa época de crise. Todos os anos, a rainha Beatriz celebra o seu aniversário numa cidade diferente. A família real está hoje na na cidade de Apeldoorn, onde haverá um desfile nos jardins do Palácio Het Loo e também na mesma cidade a rainha Beatriz fará a abertura de uma exposição sobre o centenário de sua mãe, a rainha Juliana, falecida em 2004 (20 de Março).
MONARQUIA E POLÍTICA NA HOLANDA
Aproveitamos este dia para dar mais informações sobre a influência da realeza holandesa na politica dos Países Baixos. Na Holanda o Governo é formado pelo Rei (Rainha de Acordo com a Constituição) e os ministros.
Esta interpretação do conceito 'Governo', onde o chefe de Estado é parte do Governo, não é comum em muitas outras monarquias da Europa ocidental, onde o Governo somente é composto de ministros. Desde a revisão da Constituição em 1848, os Países Baixos são uma monarquia constitucional com um sistema parlamentar. 'Monarquia constitucional' significa que a Constituição determina e regula a divisão das competências de poder entre o Rei e outras entidades do Estado. São os ministros que respondem ante o Parlamento pelas atuações do Governo. O Rei não tem nenhuma responsabilidade política e, portanto, não pode ser convocado pelo Parlamento para prestar contas. A Rainha Beatriz no Dia dos Príncipes (Prinsjesdag) Uma das muitas funções do Rei como chefe de Estado é pronunciar anualmente o Discurso do Trono, que é o Discurso de Abertura do Parlamento, (o Dia dos Príncipes Infantes tem lugar cada ano na terceira terça-feira do mês de setembro). No Discurso do Trono são expostos os planos do Governo para o próximo ano parlamentar.
O Rei também desempenha um papel importante na formação dos Governos. Depois das eleições, o Rei consulta os líderes dos grupos parlamentares, os presidentes da Primeira e da Segunda Câmara do Parlamento, e o vice-presidente do Conselho de Estado. Baseando-se em seus conselhos, o Rei nomea um informador - pessoa encarregada de examinar quais partidos estariam dispostos a formar juntos o novo gabinete - pois, até hoje, nunca nenhum partido conseguiu uma maioria absoluta em eleições. Caso fique claro quais partidos estão dispostos a formar juntos o Governo, não há necessidade de nomear um informador. O resultado das negociações entre os partidos denomina-se 'Acordo de Governo'.
No Acordo de Governo são declarados os planos para o período governamental de quatro anos. Em seguida, o Rei nomea um 'formador', pessoa encarregada de formar um gabinete. O formador normalmente se torna Primeiro Ministro. Depois da primeira reunião oficial do gabinete, o Rei toma o juramento dos novos ministros, que são nomeados por Decreto Real, o que na prática significa que os próprios ministros decidem sobre sua nomeação.
O Decreto Real é assinado pelo rei, validando assim a decisão, e pelo Primeiro Ministro em nome dos ministros. Além destas tarefas oficiais, o chefe de Estado se reúne regularmente com o Primeiro Ministro, outros políticos e pessoas proeminentes do mundo económico e cultural. Todos os ministros juntos formam o conselho de ministros, que é presidido pelo Primeiro Ministro. As tarefas do Governo estão a cargo dos ministros. Entre essas tarefas se encontram a gestão executiva, a preparação da legislação, a execução de leis, a supervisão das províncias e municípios, e as relações exteriores.
Norberto B.C.Silva para Liberal
Fontes: Radio Pública Holandesa
e Embaixada da Holanda no Brasil

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O HOMEM FORTE DE CABOVERDE EM BRUXELAS


O HOMEM FORTE DE CABO VERDE NO CORAÇÃO DA EUROPA COMUNITÁRIA
Fernando Jorge Wahnon Ferreira nasceu na cidade da Praia a 4 de Dezembro de 1955. Completou os estudos secundários em 1975, no Liceu Adriano Moreira, e estudou Direito na Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa. Regressa a Cabo Verde, ingressa no Ministério dos Negócios Estrangeiros e inicia a sua carreira como diplomata em 1984. Trabalhou nas Embaixadas de Cabo Verde em Haia (Holanda), Lisboa (Portugal) e Estocolmo (Suécia). No Ministério dos Negócios Estrangeiros desempenhou, de entre outras, as seguintes funções: Assessor do MNE, Director da Cooperação Multilateral e ainda Director Geral da Cooperação Internacional. Desde 2000 está colocado em Bruxelas (Bélgica), como Embaixador de Cabo Verde junto dos Paises do Benelux (Belgica, Holanda e Luxemburgo) e como Representante Permanente junto da União Europeia.

Rádio Atlântico - A Holanda anunciou o corte de ajuda a Cabo Verde no dia 3 de Abril de 2009. O que representa para Cabo Verde essa medida do Governo Holandês?
Fernando Wahnon - Creio que o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde já terá respondido em tempo a essa questão numa outra entrevista. Uma vez que a questão me é colocada, aproveito para esclarecer que o anúncio feito pelas autoridades holandesas corresponde a uma decisão tomada por este país que só agora se tornou do domínio público, a qual foi alvo de consultas prévias entre os dois Governos.
Acrescentaria que a decisão ora anunciada de dar por finda a ajuda pública ao desenvolvimento é unilateral e soberana e que a mesma terá efeito a partir de 2011. Porém, e de momento, realço que todos os instrumentos existentes no quadro da política de desenvolvimento da Holanda são aplicáveis a Cabo Verde, bem como a ajuda orçamental. Todavia, importa esclarecer que o fim anunciado da ajuda pública holandesa ao desenvolvimento de Cabo Verde não significa o termo da relação de cooperação entre os dois Estados que, aliás, continuam a manter excelentes relações.
Com efeito, as relações entre Cabo Verde e a Holanda abandonam uma lógica tradicional e própria ao então anterior estado de desenvolvimento do país, para passarem para um patamar superior de relacionamento político e de cooperação económica mais adequada à nova fase de desenvolvimento que Cabo Verde alcançou. Note-se, que a nota de imprensa do MNE holandês, refere ainda que as relações de cooperação se desenvolverão igualmente com base nos progressos alcançados no quadro da Parceria Especial entre Cabo Verde e a UE.
RA - Alguns analistas conhecedores dos meadros da cooperação entre os dois países pensam que ainda é possivel fazer com que Haia volte atrás se a diplomacia agir em concertação com pessoas influentes dentro da Comunidade como já aconteceu na passado. Comunga dessa ideia?
FW: Mais do que emitir um juízo de valor, gostaria de referir que a diplomacia tem códigos de conduta específicos e que quem nela intervém tem o dever de as conhecer. Limito-me a comentar que as influências ou toda e qualquer acção que possa contribuir para uma melhoria do entendimento ou de uma maior convergência de interesses são sempre bem-vindas. Se a Comunidade entende dispôr dos instrumentos e de meios adequados que possam contribuir para atingir tais objectivos julgo que será sempre uma atitude positiva.
RA - Outros apontam que o encerramento da Embaixada de Cabo Verde em Haia foi um grande erro, pois o Consulado como é evidente não tem as mesmas atribuições que uma Embaixada. Quer comentar?
FW: Permita-me que antes de responder, faça um comentário prévio a alguns ecos que chegaram ao meu conhecimento, segundo os quais, a decisão holandesa de retirar Cabo Verde da lista de países de concentração da ajuda pública ao desenvolvimento se ficaria a dever ao encerramento da Embaixada em Haia. Compreendo e aceito que as pessoas possam ter diferentes interpretações ou justificações para determinados situações, o que é natural, humano e democrático. Mas, já que me consente esta incursão, diria que deveremos tratar este tipo de questões de forma desapaixonada e com algum sentido de objectividade. Assim sendo, na minha opinião, não há ligação nenhuma entre o encerramento da Embaixada em Haia e o anúncio ora feito pelo Governo holandês. Procurar trazer como justificação uma situação ocorrida há cerca de 10 anos não me parece nem prudente nem objectivo e, seguramente, não leva em devida consideração a seriedade com que os responsáveis holandeses lidam com as questões de desenvolvimento.
De entre outros elementos, contribuem para atestar esta minha convicção, o facto de as autoridades holandesas terem anunciado, com base em certos critérios, o fim da ajuda pública ao desenvolvimento a sete países. Desses sete países, apenas Cabo Verde e a Arménia, não estão representados em Haia, o que significa que os outros cinco têm Embaixadas residentes junto do Governo holandês. Se a lógica que presidiu à tomada de tal decisão fosse a de ter uma Embaixada residente, como justificar tal decisão face aos países que se encontram representados em Haia? Por outro lado, a Holanda mantém, na maioria dos casos, a sua ajuda pública ao desenvolvimento a países que, tal como Cabo Verde, têm representações residentes em Bruxelas, como justificar esta situação face a tal argumento? Agradeço-lhe o ter-me dado a oportunidade de esclarecer eventuais dúvidas que poderiam existir sobre esta matéria.
Regresso agora à sua questão inicial, a de saber: se o encerramento da Embaixada em Haia terá sido ou não um erro. Diria que esta questão não pode ser vista de forma isolada, mas sim num aspecto mais global e no enquadramento das circunstâncias então prevalecentes, uma vez que foi como tal que ela se apresentou. Não necessito de me referir ao quadro macroeconómico ou mesmo aos constrangimentos das finanças públicas do nosso país porque as conhece bem.
Tendo este quadro como cenário, parece-me que todos compreenderão bem, que, para um país com as limitações financeiras de Cabo Verde era difícil manter uma Representação em Haia, outra em Bruxelas e um Consulado Geral em Roterdão. A decisão tomada pelo Governo de então, visou a continuidade da protecção consular à nossa Comunidade no quadro de uma política de apoio e proximidade para com esta, tendo optado pela manutenção do Consulado em Roterdão.
O que eu gostaria que retivesse é que o encerramento da Embaixada na Holanda não se ficou a dever a uma atitute menos reflectida ou indevidamente ponderada. Note, se faz favor, que, o que lhe acabo de dizer, não deverá ser entendido como uma limitação ao direito que cada um terá de expressar a sua opinião ou de emitir os juízos de valor que julgar conveniente fazer. Trata-se sim, de uma realidade, uma vez que o Estado não inventa dinheiro.
O que gostaria ainda que pudesse ficar claro, é que a decisão de encerrar uma Embaixada, como a de Haia, – com o peso histórico e afectivo então existente e ainda hoje prevalecente – foi algo de muito dificil e penoso. Aliás, este tipo de exercício em geral, é extremamente complexo e francamente desagradável. Relembro ainda que, no quadro da reestruturaçao do serviço diplomático, à época imposto por razões de índole financeira, foram igualmente encerradas as Embaixadas em Singapura, Abidjan, Maputo e Estocolmo.
Regressando ainda à parte da sua questão, como diz e bem, um Consulado não é uma Embaixada e o direito internacional distingue muito bem os dois casos. Aliàs, é por essa razão, que as relações políticas e diplomáticas são geridas pela Embaixada que se encontra em Bruxelas e as relações consulares pelo Consulado Geral que se encontra em Roterdão. Penso ainda que, com a actual situação, foi encontrado um compromisso possível, interessante e adequado na defesa dos interesses políticos e diplomáticos de Cabo Verde e da Comunidade residente na Holanda, pelo que concluiria dizendo que não terá sido um erro, mas que, seguramente, terá sido uma opção de muito difícil decisão.
RA - Durante a sua estadia na Holanda teve reuniões com governantes holandeses? Em caso positivo pode dizer-nos se foi proveitoso ou não?
FW: A sua questão não corresponde inteiramente à realidade dos factos, porquanto não mantive nem encontros, nem qualquer tipo de contacto com Governantes holandeses. Tive sim, uma reunião de trabalho no Ministério dos Negócios Estrangeiros holandês, para tratar de questões referentes às relações políticas e de cooperação bilaterais. Nessa base, essa reunião encontra o seu adequado enquadramento no plano de trabalho anual.
RA - A Casa da Cultura foi inaugurada no mês de Novembro de 2008 sem ter um estatuto e um órgão directivo. Podia esclarecer-nos em que ponto está o processo da Casa da Cultura (Casa de Cabo Verde) em Roterdão?
FW: Como sabe a Casa da Cultura foi inaugurada pelo Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros em Novembro de 2008, e desde então tem vindo a ser utilizada. O que pretendemos é poder ter uma Casa da Cultura representativa e que sirva efectivamente os interesses da Comunidade no seu geral. Esse é o nosso objectivo e é nele que temos vindo a trabalhar. Para tal, o Sr. Cônsul Geral, pessoa a quem aqui rendo justa homenagem pela dedicação com que tem abraçado esta causa, tem feito um grande esforço e levado a cabo um trabalho muito e meritório com vista a que a Casa de Cultura possa funcionar da forma mais adequada.
Importará ainda considerar que uma instituição desta natureza, que se quer aberta, descomplexada e atenta ao desenvolvimento, afirmação e divulgação da cultura caboverdeana em Roterdão, necessita préviamente de criar e reunir os necessários e indispensáveis consensos para o seu pleno funcionamento, sendo que os estatutos, são, incontornávelmente, um desses consensos.
RA - Mudando agora de assunto, a Parceira Especial entre a União Europeia e Cabo Verde para muitos representa um ganho muito grande para Cabo Verde. Que ganhos são esses?
FW: Decorrido um ano e meio sobre a aprovação da Parceria Especial, várias acções têm sido desenvolvidas com vista à implementação do seu Plano de Acção. Nessa base, várias reuniões têm ocorrido entre as Partes e estamos a trabalhar num programa de trabalho mais preciso. Mas, desde já lhe diria que um grande ganho está à vista e esse ganho é a natureza do diálogo político que Cabo Verde passou a ter de forma institucionalizada com a União Europeia.
Por outro lado, e em termos mais práticos, importa considerar que a Parceria Especial deve ser encarada como um processo e que faz parte desta necessidade de se empreenderem mudanças e adquirir novos procedimentos a nível das estruturas nacionais, sendo que é à Parte cabo-verdiana que compete decidir quais as mudanças que pretende ou se sente preparada para empreender. Trata-se, no fundo, de uma linha de actuação escolhida pelo Governo para o processo de desenvolvimento de Cabo Verde, na qual poderemos contar com apoios da Comissão e dos países da UE para, de forma coordenada e convergente, levar a cabo a modernização do país e da sua Administração. O objectivo é o de tornar Cabo Verde mais competitivo, reforçar o investimento externo e contribuir para a sua melhor inserção na economia internacional, nomeadamente, através de uma melhor integração económica na dupla perspectiva: países da CEDEAO; e, Regiões Ultraperiféricas europeias que nos são mais próximas.
Como pontos marcantes desta caminhada citar-lhe-ia: a realização da reunião ministerial da Troika entre a Cabo Verde e a UE realizada em Maio passado e a assinatura da Declaração Comum relativa à Parceria para a Mobilidade em Junho de 2008. Neste momento, estamos a preparar a próxima reunião com a Troika a nível ministerial que decorrerá na Praia em princípios do mês de Maio.
Concordaria consigo dizendo que se trata, sem dúvida, de um grande ganho para o país, não só ao nível político e diplomático, mas, também pelas repercurssões que a mesma terá no nosso desenvolvimento.
RA - É também Embaixador de Cabo Verde no Reino do Luxemburgo. Como classifica a relação entre os dois países?
FW: Classifico-a como excelente. Assim como excelente é o relacionamento entre os Governantes dos dois Países. Gostaria de realçar o contributo da Comunidade cabo-verdiana residente, a qual tem dado uma grande colaboração para que essas relações tenham atingido o actual nível de entendimento.
RA - Voltando novamente ao corpo diplomático cabo-verdiano, queria lhe colocar as seguintes questões: as nossas embaixadas e consulados na Europa têm pouco pessoal especializado. No seu caso acha suficiente o número de diplomatas que tem ao seu dispor?
FW: Estaria tentado a concordar consigo mas, a verdade é que Cabo Verde é um pequeno país com grandes limitações económicas. Logo, mais importante do que eu possa ou não achar, a realidade é que as missões diplomáticas nacionais são, pelas razões apontadas, reduzidas e é nessa base que temos que trabalhar.
Quanto ao pessoal especializado, lembro-lhe que em Cabo Verde todos os sectores têm falta deste tipo de colaboradores. Esta é uma dificuldade recorrente e, em certa medida, inerente ao nosso estado de desenvolvimento actual. Se quiser, é ainda uma das vulnerabilidades nacionais.
RA - A diplomacia cabo-verdiana é uma diplomacia de proximidade no sentido de envolver as comunidades diasporizadas e as ajudar a resolver os muitos problemas que se lhes deparam?
FW: Pelo menos é o que procuramos fazer. Uma das funções da diplomacia e das missões diplomáticas e postos consulares é a de apoio, protecção, defesa e promoção das comunidades na diáspora: ajudá-las a integrarem-se nas comunidades em que residem; ajudá-las a resolver os problemas que possam ter junto das autoridades locais; e, ajudá-las a resolverem questões em Cabo Verde. Todas essas acções fazem parte do quotidiano das nossas Representações. Acrescentaria ainda que também procuramos sensibilizar as comunidades emigradas no sentido de se envolverem cada vez mais no desenvolvimento de Cabo Verde.
Sei que, apesar dos esforços efectuados, há cidadãos na diáspora que se sentem insatisfeitos com o nosso desempenho, aliás, acredito que muitos possam até ter razões para o efeito. Estou igualmente consciente que importará fazer mais neste domínio, mas também é verdade que, mais uma vez, os recursos existentes são escassos. Mas gostaria de lhe dizer que o Governo está igualmente atento e consciente dessas dificuldades, tendo decidido que a informatização que se vem operando em Cabo Verde será igualmente introduzida nos Consulados e nas Representações Diplomáticas, o que nos irá permitir ganhar em breve uma melhoria substancial na qualidade do serviço que prestamos, nomeadamente, no caso do Consulado Geral em Roterdão.
O que gostaria de dizer de forma honesta e responsável é que procuramos fazer o melhor que sabemos e podemos, sendo certo que temos procurado introduzir melhorias nos serviços prestados, como seja o caso da melhoria significativa do atendimento no Consulado Geral. Isto não quer dizer que engeite as críticas. Penso, aliás, que elas são bem-vindas e essenciais para que a melhoria se possa operar.
RA - Para muitos é preciso rever o conceito da nossa diplomacia com a entrada de Cabo Verde nos países de desenvolvimento médio. Como é que a diplomacia tem que agir para acompanhar o país nos novos tempos?
FW: Com a saída de Cabo Verde do grupo dos Países Menos Avançados, abriu-se uma nova etapa de desafios mas, e é preciso dizê-lo, também de oportunidades, as quais requerem inovação, criatividade e, por vezes, uma certa dose de ousadia na gestão das nossas relações. Sublinharia que este desafio se impõe a todos e que, por razões óbvias, a diplomacia caboverdeana, para não ficar excluída, terá de acompanhar o rumo dos acontecimentos.
A nossa diplomacia tem sofrido mudanças e tem procurado adequar-se às novas circunstâncias, imprimindo, nomeadamente uma abordagem diferente junto dos seus parceiros.
Repare que um dos objectivos da actual diplomacia é a promoção de Cabo Verde e o estabelecimento de contactos com vista a incentivar a cooperação económica e empresarial, levando a que empresários e empresas possam interessar-se e investir no país nas mais diversas áreas, como, por exemplo: turismo; infra-estruturas; transportes, banca e seguros; energias renováveis etc. Importará, por outro lado, saber retirar dividendos dos bons resultados alcançados a nível da boa governação, do clima de segurança, da posição geoestratégica, das leis de protecção de investimento e, do nível de desenvolvimento humano entre outros.
No passado, este não seria seguramente um dos objectivos da nossa diplomacia que visava, essencialmente, a mobilização de recursos no quadro da ajuda pública ao desenvolvimento. Seguramente que o processo não está terminado, mas também lhe digo que nunca o estará, uma vez que o desenvolvimento é, por definição, dinâmico e a diplomacia tem que estar ao seu serviço.
RA - Muitos diplomatas têm sido chamados regularmente a ocupar cargos importantes no Governo e depois regressam novamente à diplomacia. Para muitos é eticamente reprovável. Qual a sua opinião nesta matéria?
FW: Não sei quem são os muitos a que se está a referir ou a que sectores pretende referir-se, aliás, não tenho conhecimento desse entendimento que, em abono da verdade, não deixa de me surpreender. Seja como fôr, em minha opinião, não vejo o que terá de éticamente reprovável um diplomata ser chamado a exercer funções no Governo. Antes de ser diplomata haverá seguramente um cidadão e não vejo, a não ser nos casos previstos na lei, porque é que um cidadão caboverdeano estaria impedido de exercer um cargo governativo no seu país.
Entrevista conduzida por Norberto B. C. Silva
publicado no Jornal online Liberal

sexta-feira, 24 de abril de 2009


Cabo Verde vai perder ajuda pública Holandesa apartir 2011


Holanda de facto vai cortar a sua ajuda a Cabo Verde porque segundo as autoridades holandesas Cabo Verde pertence agora ao grupo de Países de desenvolvimento médio e por esse motivo vai perder a ajuda.Mas o corte não será radical mas gradualmente até 2011.
José Brito, Ministro dos Negócios Estrangeiros, na altura da publicação do primeiro artigo desmintiu a noticia através de um outro jornal digital com sede na cidade da Praia.Conforme escrevemos no primeiro artigo sobre esta matéria o ministro Albert Koenders havia comunicado ao Parlamento holandês, no dia 3 de Abril de 2009, por carta, o corte de ajuda a sete países entre os quais Cabo Verde. Esta notícia foi amplamente divulgada em todos os meios de comunicação social na Holanda entre os quais a credível “Elsevier”.Segundo a notícia do site do Ministério de Desenvolvimento e da Cooperação da Holanda (www.minbuza.nl), esta decisão foi tomada no quadro do programa de avaliação e de transformação dos Acordos de Cooperação e Desenvolvimento. Diz o texto que o Ministro Koenders anuncia sua de decisão de terminar a cooperação com a Bosnia-Herzegovina, Eritreia, Sri Lanka, Albânia, Arménia, Cabo-Verde e Macedónia.Segundo o ministro, a cooperação não é algo infinito. Defende que, em países como Cabo Verde “já não é necessário uma política de cooperação e desenvolvimento” e que “o governo holandês, a partir de agora, vai dar mais atenção aos países que precisam de ajuda efectiva”.Mais, no texto, diz-se mesmo que esta não é uma avaliação só da Holanda, mas é também da Noruega, Dinamarca e Suécia.O ministro Koenders apresentou quatro motivos para terminar efectivamente o programa de cooperação e desenvolvimento com os sete países, entre os quais Cabo Verde: ser-se considerado Pais de Desenvolvimento Médio; no caso de a ajuda efectiva não ser possível por motivos de constrangimentos políticos regionais (violação de direitos humanos por exemplo); no caso de problemas de segurança interna; no caso de se justificar que outros doadores possam contribuir mais eficazmente para o desenvolvimento do país.Mais do que isso, o ministro Koenders defende a importância se ter em conta outros aspectos considerados ainda hoje de “tabus, como a corrupção, a posição da mulher, os exilados, e o aborto”.Diferença de EstiloO anterior chefe da diplomacia caboverdiana Victor Borges que era tido como independente, ao saber da intenção da Holanda em cortar ajuda a Cabo Verde, alegando os mesmos motives que agora, em 2005 entrou em contacto com algumas personalidades caboverdianas residentes na Holanda como António Silva do partido CDA e o ex deputado João Varela (Lista Pim Fortuyn) e graças a influência destes a ajuda não foi cortada mas aumentada. Na altura a ex-ministra do desenvolvimento e da cooperação do governo holandês, Agnes Van Ardenne, visitou o País a diplomacia actuou bem a ajuda foi aumentada.Por isso é estranho, a reacção de José Brito a esta decisão de a Holanda cortar a ajuda de mais de 30 anos a Cabo Verde.Recorde-se que José Brito inaugurou em Novembro do ano passado a Casa de Cabo Verde (Casa de Cultura) na Holanda sem que a mesma tivesse um corpo gerente, estatutos e sobretudo sem se saber o que fazer com a Casa, estando ainda, até hoje, sem funcionar.Por outro lado, recordamos que na Holanda nenhum dos representantes dos partidos políticos (PAICV, MpD, UCID) negou a notícia, apesar de se estranhar também o silêncio dos partidos em Cabo Verde, sobretudo os da Oposição.Também sabe-se que vários são os cidadões cabo-verdianos, na Holanda, de todas as sensibilidades politicas que estão empenhado em sensibilizar o governo holandês a não cortar a ajuda a Cabo Verde, passando por cima da bazofia dos politicos nacionais, o que denota o grau de cidadania dos cabo-verdianos na diáspora e a grande sensibilidade para com os problemas porque passa o País.A noticia pode ser confirmada no seguinte link do governo holandês: http://www.minbuza.nl/nl/actueel/brievenparlement,2009/04/Kamerbrief-inzake-Uitfaseringsstrategie-n-Partnerl.html
NORBERTO SILVA
publicado em vários jornais online

quinta-feira, 23 de abril de 2009

CARLOS VEIGA REGRESSA A POLITICA ACTIVA

Foto:13 de Janeiro de 2007 na Holanda


Sem ambigüidades, Veiga regressa à militância partidária
AFASTADA EM DEFINITIVO A POSSIBILIDADE DE VEIGA SE CANDIDATAR À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Carlos Veiga é candidato à Presidência do MpD.
Para pôr cobro a especulações lançadas a partir de áreas tambarinas desde que se começou a falar no eventual regresso de Veiga, outra afirmação taxativa: “quero também tornar público - explícita e definitivamente - que fica, de todo, afastada a possibilidade de me candidatar às eleições presidenciais de 2011. Agir de outra forma seria politicamente imoral. O MpD saberá encontrar na sociedade cabo-verdiana, de entre as muitas alternativas que existem, a personalidade certa para apoiar nessas eleições”
S. Vicente, 23 Abril – Com “adeus” definitivo à eventualidade de se candidatar às próximas eleições presidenciais, Carlos Veiga acaba de anunciar, aos microfones da RCV, a partir de Mindelo, que regressa à militância partidária, propondo apresentar-se como candidato à liderança do MpD na Convenção que vai decorrer este ano: “Muito preocupado com os graves problemas do País, que a crise internacional tende a agravar, comunico à grande família MpD e a toda a sociedade cabo-verdiana que decidi regressar à militância activa e concorrer às próximas eleições para a presidência do MpD”, disse o antigo Primeiro Ministro.
Com poucas palavras, mas com uma afirmação sem ambigüidades nem rodeios, Veiga deixou claro ao que vem: “Creio poder, conjuntamente com todos, dar um contributo relevante para congregar, mobilizar e galvanizar o partido, as famílias, as empresas e toda a sociedade e constituir uma equipa forte, competente e motivada para ganhar as eleições legislativas de 2011 e garantir uma liderança do país que enfrente as grandes dificuldades deixadas por uma governação já esgotada e os novos desafios que Cabo Verde deve enfrentar com confiança e esperança num futuro melhor”.
Ficou assim colocado ponto final aos ruídos que, nos últimos dias, se têm frito ouvir nos bastidores da política cabo-verdiana. Não há dramatismos, nem perturbações como, desavisadamente, alguns procuraram atingir o que já era dado como certo há semanas: o regresso da figura de referência das hostes ventoinhas. Disse há pouco Carlos Veiga: “Quero frisar que esta é uma candidatura positiva, pelo país e pelo MpD, e não contra quem quer que seja. Muito menos contra os também já anunciados candidatos, Jorge Santos e José Luís Livramento, pessoas que prezo muito, a quem envio um abraço de respeito e companheirismo, e a quem manifesto a minha disponibilidade para trabalharmos em conjunto, em prol dos objectivos do partido”.
Por parte de Veiga, promessa feita, o confronto político não se fará contra companheiros de partido. O adversário fica claramente definido: “a governação já esgotada”, ou seja, o PAICV e José Maria Neves.
Para pôr cobro a especulações lançadas a partir de áreas tambarinas desde que se começou a falar no eventual regresso de Veiga, outra afirmação taxativa: “quero também tornar público - explícita e definitivamente - que fica, de todo, afastada a possibilidade de me candidatar às eleições presidenciais de 2011. Agir de outra forma seria politicamente imoral. O MpD saberá encontrar na sociedade cabo-verdiana, de entre as muitas alternativas que existem, a personalidade certa para apoiar nessas eleições”.
Veiga decidiu-se a atravessar o Rubicão. A cena política de Cabo Verde irá necessariamente redefinir-se.

In Liberal.sapo.cv

quarta-feira, 22 de abril de 2009

SITE DO GOVERNO HOLANDÊS DESMENTE JOSÉ BRITO



Holanda termina relação de cooperação com sete países”, entre os quais Cabo Verde


SITE DO GOVERNO HOLANDÊS DESMENTE JOSÉ BRITO
Roterdão, 14 Abril – “Holanda termina relação de cooperação com sete países” (Bosnia-Herzegovina, Eritreia, Sri Lanka, Albânia, Arménia, Cabo-Verde e Macedónia) é o título de uma notícia que confirma à notícia publicada por Liberal e pela Rádio Atlântico, publicada na semana passada no site do Ministério de Desenvolvimento e da Cooperação da Holanda (www.minbuza.nl). José Brito, Ministro dos Negócios Estrangeiros, na altura viria tentar desmentir a notícia através de um outro jornal digital.
Ora, Liberal já havia noticiado que o Ministro Albert Koenders havia comunicado ao Parlamento holandês, no dia 3 de Abril de 2009, por carta, o corte de ajuda a sete países entre os quais Cabo Verde. Esta notícia foi amplamente divulgada em todos os meios de comunicação social na Holanda entre os quais a credível “Elsevier”.
Segundo a notícia do site do Ministério de Desenvolvimento e da Cooperação da Holanda (www.minbuza.nl), esta decisão foi tomada no quadro do programa de avaliação e de transformação dos Acordos de Cooperação e Desenvolvimento. Diz o texto que o Ministro Koenders anuncia sua de decisão de terminar a cooperação com a Bosnia-Herzegovina, Eritreia, Sri Lanka, Albânia, Arménia, Cabo-Verde e Macedónia.
Segundo o ministro, a cooperação não é algo infinito. Defende que, em países como Cabo Verde “já não é necessário uma política de cooperação e desenvolvimento” e que “o governo holandês, a partir de agora, vai dar mais atenção aos países que precisam de ajuda efectiva”.
Mais, no texto, diz-se mesmo que esta não é uma avaliação só da Holanda, mas é também da Noruega, Dinamarca e Suécia.
O ministro Koenders apresentou quatro motivos para terminar efectivamente o programa de cooperação e desenvolvimento com os sete países, entre os quais Cabo Verde: ser-se considerado Pais de Desenvolvimento Médio; no caso de a ajuda efectiva não ser possível por motivos de constrangimentos políticos regionais (violação de direitos humanos por exemplo); no caso de problemas de segurança interna; no caso de se justificar que outros doadores possam contribuir mais eficazmente para o desenvolvimento do país.

Mais do que isso, o ministro Koenders defende a importância se ter em conta outros aspectos considerados ainda hoje de “tabus, como a corrupção, a posição da mulher, os exilados, e o aborto”.
É estranha, por isso, a reacção de José Brito a esta decisão de a Holanda cortar a ajuda de mais de 30 anos a Cabo Verde.
Recorde-se que José Brito inaugurou em Novembro do ano passado a Casa de Cabo Verde (Casa de Cultura) na Holanda sem que a mesma tivesse um corpo gerente, estatutos e sobretudo sem se saber o que fazer com a Casa, estando ainda, até hoje, sem funcionar.
Por outro lado, recordamos que na Holanda nenhum dos representantes dos partidos políticos (PAICV, MpD, UCID) negou a noticia, apesar de se estranhar também o silêncio dos partidos em Cabo Verde, sobretudo os da Oposição.
Também sabe-se que vários são os cidadões cabo-verdianos, na Holanda, de todas as sensibilidades politicas que estão empenhado em sensibilizar o governo holandês a não cortar a ajuda a Cabo Verde, passando por cima da bazofia dos politicos nacionais, o que denota o grau de cidadania dos cabo-verdianos na diáspora e a grande sensibilidade para com os problemas porque passa o País.
Norberto B. C. Silva
Para LIBERAL

O "OBAMA"DE ROTERDÃO


O “OBAMA” DE ROTERDÃO
Segunda-feira, 5 de Janeiro, Ahmed Aboutaleb toma posse como novo Presidente de Câmara de Roterdão. O Ex Secretário de Estado para Assuntos Sociais e membro do partido Trabalhista (PvdA), será o primeiro autarca de origem marroquina na Holanda.
Para a maioria dos habitantes de origem estrangeira da cidade de Roterdão, a nomeação de Aboutaleb é uma lufada de ar fresco no cinzento panorama político da Holanda; fala-se mesmo que ele é o Obama da Holanda;
Ahmed Aboutaleb, de 48 anos, casado, pai de três filhos, é filho de um Imã e nasceu na localidade de Beni Sidel, em Marrocos. Aos 16 anos chegou a Holanda com a família onde trocou o seu sonho de ser poeta para ser jornalista.
Aboutaleb desempenhou várias funções importantes antes de chegar a Câmara de Roterdão. Formou-se em engenharia e telecomunicações, foi assessor de imprensa e relações públicas em Amesterdão, fundou e dirigiu a organização Fórum, dedicada aos problemas do multiculturalismo. Foi Vereador em Amesterdão de 2004 a 2007, ocupando a pasta da Educação, Juventude e Diversidade.
Em 2007, Ahmed Aboutaleb foi nomeado Secretário de Estado Para Assuntos Sociais e Emprego no IV Governo Balkenende (Coligação CDA/PvdA/União Cristã). Na altura foi o primeiro marroquino a ocupar um lugar importante no seio de um Governo holandês. É de relembrar que também neste Governo Balkenende tem mais uma muçulmana de origem Turca :Nebahat Albayrak, Secretária de Estado da Justiça que, tal com Aboutaleb, tem dupla nacionalidade: Turca e Holandesa.
Roterdão, segunda cidade da Holanda depois de Amesterdão, é o principal pólo económico da Holanda e conta cerca de 600 mil habitantes oriundas de quase 200 nacionalidades diferentes. Cerca de 50% da população da cidade é de origem estrangeira sendo as maiores comunidades oriundas da Turquia, Marrocos, Suriname, Antilhas Holandesas, Cabo Verde, China, e do Leste Europeu.
QUAIS OS PROBLEMAS QUE O ESPERAM?
Os Jovens de origem estrangeiros são acusados pelos medias holandeses e políticos como sendo jovens problemáticos que causam vários problemas a cidade. Interrogado a este respeito, a mensagem de Aboutaleb foi muito claro: os jovens marroquinos que levam uma vida normal contarão com o seu apoio; mas aqueles que optem pela marginalidade, que causam problemas serão tratados com dureza.
No plano urbanístico, a cidade ainda não tem um centro harmonioso desde da segunda Guerra Mundial;
O desemprego também é outro ponto que vai exigir muito deste autarca. Assim com os cursos de integração que são um autêntico desastre; apoios ou não as organizações estrangeiras que fazem trabalho social.
Questionado se está a altura para enfrentar esses desafios ele responde que precisa de um pouco de tempo para pôr em pratica as suas ideias mas que não pode fazer milagres por não ter a varinha mágica nas suas mãos;
Um ponto a não ser negligenciado pelo novo autarca tem a ver com a coligação que governa a cidade formada pelos Partidos (VVD,CDA, Verdes e PvdA), pois os vereadores são todos “Brancos” e o maior Partido da oposiçào da cidade é o Leefbaar Rotterdam o Partido de Pim Fortuyn. Aboutaleb terá que ser um negociador hábil para gerir também mais esse problema.
O Partido do novo Autarca de Roterdão parece também não estar muito virado para facilitar a vida dos “estrangeiros” na Holanda. Recentemente a Presidente do Partido (PvdA), Lilianne Ploumen, criticou o modelo de tolerancia para com a integração dos estrangeiros na Holanda aproximando perigosamente do pensamento dos populistas como Geert Wilders. Lilianne Ploumen defende também a aprendizagem obrigatoria do holandes assim como o fim do principio da dupla nacionalidade. Aboutaleb tem duas nacionalidades (marroquina e holandesa)
CRITICOS DA NOMEAÇÃO
Para o lider da extrema direita belga (Vlaams Belang) a islamização da cidade de Roterdão é um facto. Escreve De Winter no seu site que esta nomeação alimenta ainda mais a arrogancia dos marroquinos na Europa.Para O lider do partido PVV (Partido para a Liberdade) Geert Wilders (considerados por muitos com extrema direita) , Roterdão vai tornar-se uma Rabat e, em breve, vamos ter um imã a servir de arcebispo. “É uma loucura!" a nomeação de um presidente de origem muçulmana em Roterdão. “É um trabalho de idiotas” acrescentou.
De uma forma geral, todos os partidos na cidade portuária aceitarem bem a nomeação de aboutaleb excepção feita ao Leefbaar Rótterdam, o partido criado pelo politico assassinado Pim Fortuyn que reagiu com furia a nomeação do novo homem forte da cidade. Este partido considera inaceitável um adepto do Ajax principal equipa da cidade de Amsterdão (“inimiga” da Feyenoord de Roterdão ) possuindo duas nacionalidades ser Presidente da cidade de Roterdão;

I.W. OPSTELTEN
O Presidente cessante divide um pouco as opiniões no tocante ao seu desempenho como presidente da cidade portuária de Roterdão. Para alguns ele soube gerir bem o pós morte de Fortuyn (politico populista assassinado em 2002 por um activista dos direitos dos animais). A cidade passou a ser mais segura para os municipes; A formação das coligações pós eleições municipais foram conseguidos relativamente rapidos e sem grandes sobressaltos. A agenda cultural parece ter-se consolidado com uma temporada de festivais que fazem da cidade um ponto turistico importante. No desporto a cidade passou a organizar várias actividades e sob a liderança de Opstelten o “Tour de France”de bicicleta de 2010 terá pelo menos uma etapa em Roterdão.
Os criticos de Ivo Opstelten pensam que a cidade tornou-se menos social com politicas de afastar a camada mais desfavorecidas do centro da cidade; vários bairros sociais com aluguer relativamente baixos foram demolidos para dar lugar a moradias de luxo que só podiam ser habitadas por classe de media alta. A Policia tornou mais autoritária e repressiva sobretudo com as pessoas de origem estrangeira (Na Holanda os Presidentes de Câmara é que são também chefes da Policia).
Recorda-se ainda que muitos Rádios Migrantes foram a falência por perderem o apoio que antes tinham do Municipio de Roterdão (Rádios que desempenhavam um papel importante na integração do seu público alvo na cidade com informações na própria lingua); No tocante aos caboverdianos perderam todo o espaço que tinham em termos de realizaçòes de festas para angariaçào de fundos porque a Policia de Roterdão com a força que tinha confundiu a ordem publica com autoritarismo e cada relatorio feito era responsavel pelo encerramento de muitas Salas de Convivios.
No entanto Opstelten nao vai terminar a sua carreira politica. Ele foi nomeado em 2008 Presidente do Partido Liberal (VVD) na Oposição.
OPINIÃO DO CABOVERDIANO ANTÓNIO SILVA (POLITICO E PROFESSOR)
Instado a dar sua opinião sobre a nomeação de Aboutaleb, o ex-deputado Municipal pelo CDA e professor da Escola Superior IN Holland, Antonio Silva, caboverdiano, teceu as seguintes considerações sobre o assunto: “Na Holanda os burgomestres são formalmente nomeados pela Coroa por um periodo de seis anos, pondendo o período abranger vários anos. Trata-se de um procedimento de pouca transparência e por vezes severamente criticada por especialistas na area de Direito Constitucional.
Eu, pessoalmente, contava que o actual burgumestre de Maastricht (…..cidade da Declaraçãodo acordo de Schengen), Sr. Gerd Leers, viesse a ser nomeado mas isso infelizmente nao aconteceu. Depois de um periodo de 30 anos de governação socialista (PvdA sempre esteve no poder em Roterdão) e 10 anos de lideranca Liberal (Opstelten; Partido Liberal) contavamos desta vez com a nomeacao de um burgomestre do CDA. A nomeação de Aboutaleb foi uma grande surpresa; Há muito que havia rumores nesse sentido, mas tendo em conta a experiencia de Gerd Leers e sua carreira politica eu pessoalmente tinha quase a certeza que ele viria ser nomeado.
Eu, efectivamente, enquanto deputado Municipal, trabalhei estreitamente com burgumestre Opstelten, discutimos variadissimas vezes a possibildade de cooperacçã como nosso País, Cabo-Verde; Considero Opstelten um grande amigo dos caboverdianos. Espero que a nova governação sob lideranca de Aboutaleb, de facto, venha a ser vantajosa para os nossos conterraneos e que mutuamente haja mais confianca e cooperaçao em prol do progresso geral dos habitantes da grande cidade Roterdao.”
RESUMINDO:
Recorda-se que o mandato de um Autarca na Holanda é de seis anos podendo ser reeleito.
Apesar de não se ter destacado muito como governante; A, Aboutaleb é muito conceituado no País considerado mesmo o imigrante modelo pela sua integração na Holanda e espera-se que ele faça um trabalho positivo na cidade mais caboverdiana da Holanda, contribuindo para melhorar o relacionamento entre as diversas comunidades existentes na cidade. Caso falhe o que é bastante improvável mas não impossivel, todos os estrangeiros poderão em certa medida pagar pelo fracasso; serem mais hostilizados e sofrer ainda mais discriminações em todos os sectores da vida pública principamente na procura de um emprego.
Mas de uma forma geral todos confiam no Obama de Roterdão para comandar bem os destinos do Municipio nos próximos anos.
Norberto B. C. Silva
Publicado no Liberal dia 04 de Janeiro 09

Holanda-Agostinho Santos não revê pensamento de Cabral na Política actual


Holanda: Agostinho Santos não revê pensamento de Cabral na política actual

À semelhança do que aconteceu pelo 13 de Janeiro, o Expresso das Ilhas volta a abordar mais uma importante data nacional, a partir da nossa emigração. Novamente em Holanda, outra vez com a colaboração de Norberto Silva, da Rádio Atlântico, o 20 de Janeiro dá o mote para a conversa, nas linhas que se seguem. Quando passam precisamente 38 anos após a morte daquele que é considerado o pai da nacionalidade, Amilcar Cabral, o cidadão nacional, emigrante na Holanda, homem da cultura e figura muito conhecida na nossa comunidade radicada naquele país europeu, Agostinho Santos, analisa esta data, que para muitos viria a abrir caminho para o 5 de Julho, momento no qual Cabo Verde torna-se independente. O nosso entrevistado é para a história política em Holanda, o primeiro cabo-verdiano, eleito deputado municipal na cidade de Roterdão. Não descarta por enquanto nova candidatura, daqui a dois anos, mas considera que ainda não fez todo o seu trabalho, na Câmara de Roterdão. Enquanto artista, Agostinho Santos catalisou a simpatia dos nossos conterrâneos, sobretudo na terra das "tulipas". Actor e homem da comunicação, Agostinho Santos prepara por esta altura um documentário sobre os pioneiros da emigração crioula para Holanda. Confira, nesta conversa as influências de Amílcar Cabral na sua vida política, as questões que deixa, as interrogações que levanta em relação à morte de Cabral e também de Renato Cardoso. Também o "fenómeno", Barack Obama que na terça-feira foi empossado.
Expresso das Ilhas - Que importância Amílcar Cabral teve para o despertar da tua consciência politica? Agostinho Santos - Ele é um exemplo para todos os homens que passaram pela experiência de viver sob o jugo colonial. Pessoalmente, interessei-me por coisas de Amílcar Cabral ainda criança na escola primária em Cabo Verde onde senti na pele um pouco de discriminação por ser filho de pobre e por isso tinha que ocupar os últimos lugares na sala de aulas. Isso era algo que eu repudiava muito. Mais tarde, já na Holanda, deparei-me também com problemas de outra ordem e vi que o pensamento de Cabral é um legado muito rico e muito actual, mesmo para quem vive fora do torrão natal.
Ao enveredar para a política, comecei a conhecer melhor a obra desta grande figura, e compreendi o quão importante ele foi para o despertar da minha consciência social e política. O pensamento e legado de Amílcar Cabral contínua a ter impacto por todo o mundo.
Às vezes, em Cabo Verde, penso que apesar da independência a situação social continua igual ou pior. Os pobres tornaram-se cada vez mais pobres e os ricos estão cada vez mais ricos. Não revejo o pensamento de Amílcar Cabral nessa política actual.
É sabido que muitos cabo-verdianos emigrantes participaram na luta desencadeada na Guiné-Bissau. Tem conhecimento disso? Que importância atribui a esse facto? Eu conheço casos de muitos emigrantes que participaram na luta. Foram pessoas que viviam, sobretudo na Europa e tinham mais acesso às informações e uma consciência mais real, em relação ao colonialismo. Reconheço a entrega dessas pessoas, pois foram corajosas na medida em que participaram numa luta sem saber por vezes quem era o inimigo.
Amílcar Cabral deu a sua vida para libertar o seu povo quando podia perfeitamente viver bem, fazendo apenas o seu trabalho de engenheiro.
Cabo Verde tornou-se num país independente após a morte de Cabral e é instalado no país um regime de ditadura que durou 15 anos. Se fosse vivo Cabral seguiria o caminho dos seus companheiros de luta? Pessoalmente, acho que Amílcar Cabral seguiria outro caminho: uma via mais justa e com mais liberdade política, económica e social para os povos da Guiné e Cabo Verde. Acredito que com Amílcar Cabral a unidade entre os dois povos seria diferente a bem de Cabo Verde e Guiné-Bissau. Certamente, não teria o fim que todos nós conhecemos.
Cabo Verde, por exemplo, depois da independência nacional viveu 15 anos de ditadura e Guiné-Bissau é aquilo que conhecemos: uma instabilidade.
Tenho a profunda convicção que com Cabral seria diferente. Cabral era um líder nato, um carismático.
A ditadura nasce quando os líderes não têm capacidade de diálogo e de argumentação, por isso recorrem ao uso da força para impor-se perante outros. "Kem ki ka kre uvi, tem d`senti", era mais ou menos esse o lema.
Em documentos oficiais tornados público, os EUA concluem que Portugal não esteve envolvido na morte de Amílcar Cabral. Se não foram os portugueses quem terá sido, na sua opinião? Bem, nunca se soube de facto quem era o verdadeiro inimigo. Se não foram os portugueses que assassinaram Amílcar Cabral, como dizem os americanos, quem foi então? Guineenses? Cabo-verdianos...? Acho que dificilmente vamos saber a verdade sobre esse crime. Já Agora aproveito para interrogar: quem matou Renato Cardoso? Que se saiba, ele não morreu nas matas da Guiné. E o crime permanece como um segredo.
Olhamos agora o nosso continente: a nossa África é mais conhecida hoje no mundo ocidental pelas desgraças naturais como a fome, epidemias, pobreza generalizada e corrupção. Nelson Mandela é uma das excepções quando se fala bem da África... Nelson Mandela, tal como Amílcar Cabral, é um tipo de orgulho negro. Nunca negam ser negros e africanos. Estados Unidos. Obama toma posse dia 20 como presidente: que efeitos pode ter a sua eleição para os restantes negros da Europa? Será que a velha Europa, onde tradicionalmente apenas pessoas de pele branca chegam a cargos de primeiros-ministros ou presidentes poderá sob o efeito Obama nomear mais governantes negros por exemplo? Estou a pensar em países como Holanda, França, Portugal, Espanha...
Barack Obama está mostrar à Europa que não precisamos saber se a zebra é um cavalo branco com riscas negras, mas sim o que a zebra significa, como animal que é no seu interagir com a natureza. A Europa precisa também ter a consciência de que a cor da pele não deve ser levada em conta, mas sim a capacidade intelectual, e a dimensão humana do indivíduo.
É uma pena que a América tenha deixado passar muito tempo para reconhecer a capacidade de grandes líderes negros, no comando do país, como por exemplo o pastor Martin Luther King que foi "pesadelo dos brancos", só com o poder da palavra, e por isso assassinado por incomodar demais o sistema.
Felizmente, Obama venceu as eleições e isso também pode ter efeitos positivos para os negros, mestiços e outros estrangeiros que vivem na Europa: e como dizia Amílcar Cabral "hora dja tchiga".
Foi deputado municipal, o primeiro cabo-verdiano a chegar a esse cargo, na Holanda: tendo em conta a sua experiência política: quais os grandes desafios que esperam o novo presidente da Camâra de Roterdão? Ele terá uma tarefa muito complicada e como sabe, Aboutaleb é do partido trabalhista (governo de coligação). Mas apesar de ser um partido de centro esquerda, muitas vezes usa a linguagem dos partidos populistas, como Leefbaar Rotterdam (Roterdão harmonioso - partido regional e populista e o segundo da cidade de Roterdão). Eu acredito que se as eleições para burgometre fossem por sufrágio universal e directo que ele não seria escolhido.
No teu caso pessoal, foi deputado municipal e daqui a 2 anos teremos de novo eleições. É candidato? E em caso positivo por qual partido? Eu não afasto a possibilidade de concorrer, pois tenho a consciência que não terminei o meu trabalho, na Câmara Municipal de Roterdão...
Está a par da instalação da Casa de Cultura de Cabo Verde na Holanda? Foi convidado para fazer parte do grupo que neste momento está atrás da instalação da casa? Sim, fui convidado para dar o meu contributo, mas por várias razões não quero participar neste tipo de iniciativas por enquanto. Levando em linha de conta as pessoas que estão nela, acho que o resultado não vai ser positivo é como bater na mesma tecla e sem resultados palpáveis. Por isso não quero gastar energias com isso, por enquanto.
O que é que deve ser feito para que a casa seja útil aos cabo-verdianos, residentes na Holanda? Para dizer-lhe a verdade, não sei. Como sabes consegui há algum tempo arranjar um espaço muito bom para os cabo-verdianos, desenvolvendo várias actividades, investindo meu dinheiro, mas fui boicotado por certos sectores dentro da comunidade e tive também um grande prejuizo financeiro por falta de apoios. Por isso, não estou optimista no tocante à criação dessa casa pois não sei o que é que o nosso pessoal quer como Casa de Cultura, aqui na Holanda.
Acha que é melhor ser uma associação ou fundação a dirigir a Casa de Cultura? Em Roterdão, sabemos como funcionam as fundações. Conhecemos o caso de um apoiado pelo Municipio de Roterdão em que as pessoas fazem da organização, suas casas e onde os cargos de direcção parecem ser vitalícios. É o mesmo "grupinho de amigos", a mesma "família" que disfruta de um bem que devia ser de toda a comunidade.
Imagina um cargo bem pago, para director da referida fundação. São sempre as mesmas pessoas, não há concurso público, não há transparência. Os cargos são ocupados apenas por "amigos". Isso é um escândalo. Pessoalmente, acho que uma associação é a mais democrática, no sentido de evitar que as referidas pessoas/grupos que citei, instalem de uma forma definitiva na direcção da referida Casa.
Entrevista conduzida por Norberto Silva
Publicado no dia 23-1-2009 no Expresso das Ilhas

ELEIÇÕES NA AFRICA DO SUL


JACOB ZUMA DEVE SER O PRÓXIMO PRESIDENTE DA AFRICA DO SUL APESAR DOS PESARES
Mais de 23 milhões (23.181.997) de sul-africanos começaram a votar apartir das 7 horas locais (menos 3 em Cabo Verde) nesta quarta-feira para decidir quem governará o país pelos próximos cinco anos. O acto eleitoral será controlado por mais de 4 mil e oitocentos observadores na sua maioria africanos
Joanesburgo, 22 abril - O País de Nelson Mandela, o rosto da luta anti apartheid, começou hoje a votar logo de manhã cedo de uma forma ordeira e pacifica demonstrado ao mundo que em Africa pode-se realizar eleições livres e justas sem interferências dos países que provocaram a actual crise financeira mundial.
Mais de 23 milhões (23.181.997) de sul-africanos começaram a votar apartir das 7 horas locais (menos 3 em Cabo Verde) nesta quarta-feira para decidir quem governará o país pelos próximos cinco anos.
O acto eleitoral será controlado por mais de 4 mil e oitocentos observadores na sua maioria africanos.
Os resultados oficiais das eleições só serão publicados no Sábado ou Domingo segundo a presidente da Comissão Eleitoral Independente (CEI) Pansy Tlakula, mas os resultados parciais começaram a ser divulgados amanhã quinta feira.
OS PRINCIPAIS PARTIDOS
ANC-CONGRESSO NACIONAL AFRICANO(AFRICAN NATIONAL CONGRESS)
Jacob Zuma,apoiado por Nelson Mandela, é o candidato do Congresso Nacional Africano(ANC) - partido que mantém a hegemonia na política sul-africana há 15 anos -, lidera as pesquisas para suceder o actual presidente Kgalema Motlanthe.Mas segundo a esmagadora maioria das sondagens o ANC deverá perder a maioria qualificada conseguida nas últimas eleições e é creditada no entanto como podendo conquistar 65% a 67% das cadeiras do parlamento(400 lugares).
ALIANÇA DEMOCRÁTICA, (DEMOCRATIC ALLIANCE-DA)
É um partido político com ideologias liberais e é o principal opositor do partido do governo, o Congresso Nacional Africano. Nasceu da fusão do Partido Democrático com o Novo Partido Nacional em 2000.
A fazer fé nas sondagens será o segundo partido mais votado podendo atingir um score entre 11% a 13 % .
A actual é lider do partido é Helen Zille.
CONGRESSO DO POVO(CONGRESS OF DE PEOPLE-COPE)
O Congresso do Povo (COPE), partido criado no fim do ano passado por dissidentes do CNA, também tenta ganhar votos do CNA questionando a honestidade de Zuma.
O Partido é liderado por Mosiuoa Lekota ex-ministro da Defesa que disse no ultimo comício do partido que "Os líderes do partido governista ganham tratamento especial, só os pobres têm que enfrentar a justiça. Estamos cansados de eleger políticos que ganham bons salários, mas continuam roubando o nosso dinheiro", acusou Mosiuoa Lekota.
Projecções de votos para COPE 9% a 11% de acordo com as sondagens.
DADOS DO PAÍS (FONTE EMBAIXADA DA AFRICA DO SUL PORTUGAL)
A República da África do Sul ocupa a parte mais meridional do continente africano, estendendo-se latitudinalmente entre 22º e 35ºS e longitudinalmente entre 17º e 33ºE.
O país cobre uma superfície de 1 219 000 Km2.
Tem fronteiras comuns com as Repúblicas da Namíbia, Botsuana e Zimbabué, e com a República de Moçambique e o Reino da Suazilândia a nordeste. Completamente encaixado na parte sudeste do território sul-africano, fica o Reino montanhoso do Lesoto.
Para ocidente sul e leste, a África do Sul é banhada pelo Oceano Atlântico e pela parte mais meridional do Oceano Índico.
A costa sul-africana estende-se ao longo de cerca de 3 000 km.
O país está dividido em nove províncias, cada uma com o seu próprio Poder Legislativo, Chefe de Executivo Provincial e Membros do Conselho Executivo Provincial.
ECONOMIA (FONTE WIKIPEDIA)
A África do Sul tem ricos recursos minerais. É o maior produtor e exportador de ouro e platina e exporta também uma quantidade significativa de carvão. Durante 2000, a platina ultrapassou o ouro como a maior fonte de rendimento da África do Sul. O país possui também diversos tipos de indústria transformadora e lidera vários sectores especializados que incluem material de caminhos de ferro, sintéticos, equipamento para minas e maquinaria.
A África do Sul é um grande exportador de produtos alimentares. Os seus principais produtos agrícolas são vários tipos de fruta, incluindo citricos, milho, trigo, lacticínios, açúcar de cana, tabaco, vinho e lã.(Dados do Governo Sul Africano)
POLITICA (FONTE WIKIPEDIA)
O governo sul-africano funciona segundo um sistema parlamentar, se bem que o Presidente da África do Sul seja ao mesmo tempo chefe de estado e chefe de governo. O presidente é eleito numa sessão conjunta do parlamento bicameral, que consiste de uma Assembleia Nacional (National Assembly), ou câmara baixa, e um Conselho Nacional de Províncias (National Council of Provinces, NCoP), ou câmara alta.
A Assembleia Nacional tem 400 membros, eleitos em representação proporcional. O Conselho Nacional de Províncias, que substituiu o senado em 1997, é composto por 90 membros representando cada uma das nove províncias da África do Sul, além das grandes cidades.
Cada província da África do Sul tem uma Legislatura Provincial unicameral e um Conselho Executivo liderado por um primeiro-ministro (premier).
Todos os artigos da constituição permanente anunciada em maio de 1996 passaram a vigorar em 30 de Junho de 1997.
Norberto B.C.Silva Para Liberal
Fonte:
Wikepia e agências noticiosas

ANTÓNIO DA GRAÇA FALA SOBRE O 13 DE JANEIRO


A diáspora crioula está intimamente ligada ao país, na celebração de importantes datas. É o caso da nossa comunidade em Holanda, onde o cidadão e investigador, António da Graça, se prontificou a fazer uma radiografia do país, a partir do exterior. Entrevistado por Norberto Silva, da Rádio Atlântico, António da Graça, que é mestre em sociologia e que prepara uma tese de doutoramento na mesma área, aborda nas linhas que se seguem o país. É um olhar atento de um cidadão-emigrante, preocupado com a terra mãe e que quer ver os quadros nacionais a contribuírem na edificação do Estado cabo-verdiano. Confira.

A diáspora deu contributo importante na conquista da liberdade e democracia

Expresso das Ilhas - Apesar da importância do 13 de Janeiro, a data está longe de merecer o consenso dos actores políticos cabo- verdianos. Tem alguma explicação para este facto?
António da Graça - É difícil de fazer uma apreciação desta natureza estando a viver longe da terra natal, como eu, pois, por razões de ordem professional, não tenho podido acompanhar com assiduidade o processo político em Cabo Verde, nos últimos anos. Entretanto, para respoder à sua questao, devo dizer o seguinte: tenho a impressão que em Cabo Verde existe ainda muita instrumentalização política. Há a tendência dos partidos políticos se perfilarem como os únicos e verdadeiros protagonistas de um determinado processo. Portanto, há um certo tipo de ‘apropriação política’ de datas nacionais como apanágio, como suposta vitória deste ou daquele partido. Muitas vezes a intenção é, seja ela manifesta ou latente, tirar dividendos políticos de tudo isso. Mas essa postura da nossa elite política não é nada abonatório para a nossa jovem democracia, pelo contrário. Isso só cria falta de confiança política e institucional e enfraquece o grau de coesão social da sociedade contribuindo, cada vez mais, para a polarização e crispação políticas.

E o que os actores políticos devem fazer então?
A meu ver, os políticos deveriam reconhecer o papel de todos os cabo-verdianos para desenvolvimento e cristalização de processos nacionais simbolizados em datas consideradas históricas. E para esclarecer melhor a minha opinião, vou pegar duma data nacional concreta: a Independência, por exemplo: deve ser sempre visto não simplesmente como a conquista dum partido político, mas também como uma luta secular de resistência cultural de todos os cabo-verdianos, independentemente das suas convicções e afiliações partidárias. Da mesma forma pode-se racciocinar quanto ao Dia da Liberdade e Democracia. Isso porque, por exemplo, as reivindicações de forma organizada quanto ao pluralismo político e liberdade de expressão tiveram como primeiros protagonistas a gente ligada à UCID, já nos fins dos anos setenta e princípios dos anos oitenta, do século passado. Portanto, a diáspora e outras camadas sociais da sociedade cabo-verdiana deram também um contributo extremamente importante na conquista da liberdade de expressão e democracia.

Mas não é justo então que partidos políticos comemorem essas datas?
Defendo, seriamente, que devemos valorizar as pessoas e entidades que contribuiram para a realização de coisas importantes na nossa terra, mas devemos também dissociar, e bem, o que constitui património duma Nação e o que simboliza trabalho específico duma entidade política ou social. Partindo dessa óptica de raciocínio deveriam e devem essas datas nacionais serem assumidas como património da Nação global cabo-verdiana. A meu ver, essas datas são o fruto do sacrifício de todos os filhos cabo-verdianos, sem excepção. Essas datas podem servir de catalizadoras da coesão social e consolidação da consciência nacional, mas para isso deve-se evitar a apropriação desses símbolos históricos nacionais, por quem quer que seja. Sei que não é fácil por que vive-se em Cabo Verde um sistema de polarização política. Assim, o processo torna-se mais complexo porque a actual elite política esteve directamente ligada ao processo que deu lugar à institucionalização das datas nacionais, mas encaro também isso como um percurso normal que estamos atravessando em Cabo Verde. Devemos, sim, criticar a elite política e reivindicar quando necessário, mas não dramatizar o caso.

O que falta fazer em Cabo Verde para que a democracia esteja verdadeiramente consolidada?
A consolidação da democracia depende de vários factores: em primeiro lugar, é preciso que haja mais coerência entre a retórica e a praxis política, ou seja, os actores políticos devem estar em estado de extravasar os interesses sectoriais dos seus partidos e colocar os interesses supremos da Nação global acima de tudo. Seguidamente, devemos ter em conta que, tal como a cultura, a democracia é um processo dinâmico: é construída paulatinamente. É preciso não esquecermos que a democracia e a participação política têm uma importante e profunda faceta cultural. Esta dimensão cultural está intrinsicamente ligada às competências necessárias para o exercício da cidadania. Por isso, para constuirmos e aperfeiçarmos a cultura cívica e política em Cabo Verde, necessitamos duma sociedade civil dinâmica e verdadeiramente autónoma, com movimentos associativos de cidadãos e profissionais. Esta dinâmica constitui aquilo que o grande pensador Francês, Alexis de Tocqueville, chamou de ‘escolas da democracia’. É essa sociedade civil que, a meu ver, vai estabelecer a ligação de ponte, que vai fazer o papel de intermediário, e que vai se posicionar como instrumento reivindicativo e de defesa de interesses entre o poder político e os dirigidos. Mas para chegarmos a tal ponto é preciso diminuirmos as desigualdades sócio-económicas e investirmos sériamente na potencialidade humana da nossa gente.

Pensa que poderá ser fácil o processo de consolidação da democracia, em Cabo Verde?
Não, não vai ser um processo fácil, sobretudo porque Cabo Verde, como país aberto ao mundo, assimila todo o tipo de valores. E hoje temos normas e valores no país que colidem frontalmente com a essência dos ideais da liberdade e da democracia. Em termos politicos, Cabo Verde precisa de construtores de consensos, de homens e mulheres que põem acima de tudo os interesses da Nação: de homens promotores e respeitadores da ética política: de líderes verdadeiramente carismáticos, que têm autoridade moral. Vejo nos últimos tempos alguns sinais muito positivos e isso me leva a acreditar que estamos num bom caminho. Devemos ter paciência porque, por exemplo, os líderes carismáticos, como Amilcar Cabral, Nelson Mandela, e já agora o génio e grande intelectual, Barack Obama, não são frutos de noite para o dia. O processo, o contexto, dita muitas vezes o aparecimento dessas personalidades.
Mas em Cabo Verde é preciso respeito mútuo entre os membros da elite política que devem servir de exemplo à sociedade. É preciso, a nível da sociedade em geral, respeito e confiança institucional: confiança política e confiança social. Mas a cultura política em Cabo Verde, mesmo a nível das camadas mais previlegiadas, tem muitas fraquezas, mas isso é relativamente normal. Somos uma Nação relativamente jovem e, nessa perspectiva dinâmica, todas as sociedades estão numa aprendizagem contínua. Temos um grande exemplo aqui na Holanda: assistimos a uma discussão calorosa, às vezes até azeda, quanto ao debate público e político sobre o conceito que nós todos dizemos defender que é a liberdade de expressão.

Consta que Primeiro-Ministro assumiu o 13 de Janeiro, como data importante. Inspira-lhe algum comentário?
Quanto a mim a declaração do Sr. Primeiro-Ministro é de grande significado, pela forma extremamente oportuna e potenciais implicações positivas do mesmo acto. Alguns dirão que foi um pouco tarde, outros afirmarão que se trata duma manobra política, mas eu direi que a declaração, parece ser fruto duma visão acertada, e esclareço porquê: ao exortar todos os cabo-verdianos a comungarem uma data histórica nacional, deu um passo significativo para a construção da coesão social do país, porque os conceitos ‘liberdade’ e ‘democracia’ são valores, são ideiais e fontes de inspiração ‘dos que lá ficaram’ e de ‘nós aqui no ‘terra longe’.
O Primeiro-Ministro deu um valoroso ‘pontapé de saída’ no início dum ano novo que se augura ser auspicioso para Cabo Verde. Um ano cheio de desafios. Um ano que é necessário construir-mos o consenso sobre questões cruciais para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do nosso sistema político.

A diáspora cabo-verdiana teve e tem a sua importância na consolidação da democracia nacional. Tendo em conta a sua experiência baseada na vivência de muitos anos no exterior, como classifica essa importância destacando o contributo dos nossos conterraneos espalhados pelo mundo nesse processo.
Diria que sobretudo a diáspora estabelecida nos países da Europa, é influenciada pelas normas e valores da democracia ocidental. Essa democracia já atingiu patamares elevados de cultura cívica e política e, dum lado, isso tem contribuído para a elevação da qualidade do exercício de cidadania e participação política dos nossos patrícos. Para ser mais prático e claro, tomamos como exemplo a Holanda. Mesmo desprovidos de pouca formação académica, esta comunidade deu um contributo significativo, sobretudo na luta pela Independência nacional. Falei também do papel histórico da UCID que deu um contributo importantíssimo para o processo de democratização do país. Isso foi reconhecido públicamente aqui na Holanda pelo actual Primeiro-Ministro, através dum programa da então rádio “Voz de Cabo Verde”. Mas também, no meu trabalho de investigação foi-me gratificante verificar que dirigentes de todos os partidos politicos, com representação parlamentar reconhecem o papel dinâmico e extremamente positivo de grupos políticos da diáspora no processo de democratização do país.
Mas o contributo da nossa Diáspora transcende, ultrapassa, em grande escala a participação directa e factual dos activistas políticos no processo de institucionalização e desenvolvimento da nossa democracia. As minhas observações críticas me autorizam a defender que há um papel muito maior da diáspora que foi, é e continuará a ser, a forma indirecta de influenciação dos valores e cultura política em Cabo Verde. Vou dar um exemplo: os políticos em Cabo Verde acreditam que a nossa diáspora influencia, significativamente, as pessoas e familiares e outras, durante as eleições. Portanto, defendo que há transferência de conhecimentos, atitudes e valores.

Cabo Verde é dos poucos países do mundo em que a população não residente é maior que a residente. No entanto, exceptuando o governo (de Carlos Veiga), os quadros nacionais, na diáspora, não têm sido chamados a dar o seu contributo nos sucessivos governos do país. O porque que isso não acontece, sobretudo quando as remessas dos emigrantes ajudam muito o desenvolvimento do país?
Não vou falar das remessas financeiras dos emigrantes: primeiro porque isso já é do conhecimento geral, depois, porque defendo que o emigrante dever ser visto como uma grande potencialidade, noutras áreas. Mas isso depende também das prioridades, das visões e das estratégias dos decisores políticos. A minha opinião pessoal é que os governos de Cabo Verde, até agora, não elaboraram uma visão estratégica à altura para a mobilização e aproveitamento das chamadas ‘remessas sociais’. Países de emigração como o México, a República Dominicana, a Índia, o Gana, as Filipinas e a Escócia usufruem, grandemente, dessas tais chamadas remessas sociais porque elaboraram planos estratégicos e investiram sériamente nas suas diásporas. Isso é uma das formas de aproveitamento das potencialidades organizadas, do conhecimento dos quadros profissionais e académicos.
Mas o envolvimento da diáspora no desenvolvimento não tem que ser necessáriamente só através da participação no governo ou departamentos governamentais. Pode e deve ser também noutras areas. Para além da participação económica, sou de opinião que a nossa diáspora pode também dar um contributo significativo na consolidação da sociedade civil, em Cabo Verde, na mobilização de recursos nos países de acolhimento e na transferência das remessas sociais. Mas, para isso, é necessária vontade política, competência à frente de instituições vocacionadas para o trabalho com a diáspora e estratégias bem definidas. E para ser muito sincero, penso que há um grande défice nesse sentido e tenho a percepção que ainda não estamos sintonizados na mesma onda.

Cabo Verde tem vários quadros qualificados nos países ditos desenvolvidos, mas não se nota a preocupação dos governos em criar “lobbys” que poderiam ajudar o país em conseguir mais investimentos ou ajudas. Acha que temos um país com governantes “arrogantes” demais?
Conforme referi atrás, temos uma certa potencialidade humana e organizativa na Europa. Isso se traduz, entre outros, num número significativo de quadros altamente qualificados nalguns países, e numa dinâmica associativa de alguma expressão e utilidade. É isso que se intitula de ‘remessas sociais’. Também, sustento que é oportuno a quem de direito elaborar uma visão estratégica sobre a forma e instrumentos que devem ser utilizados para a mobilização dessa tal potencialidade, seja ela individual ou colectiva. Até este momento não conheço nenhum estudo ou plano abrangente nesse sentido e Cabo Verde merece ter instrumentos dessa natureza à altura. Isso porque existe nos países europeus recursos importantes que poderiam ser mobilizados pela nossa diáspora em benifício de determinados sectores, em Cabo Verde. Relativamente paradoxal é que esses recursos são muitas vezes aproveitados por outras diásporas africanas, mas não pela nossa própria diáspora. Exemplos disso são organizações relativamente poderosas e influentes de outros africanos na Inglaterra, França e Holanda.
Apesar desses aspectos críticos devemos relativizar as coisas, levando em linha de conta o seguinte: conheço um número razoável de quadros cabo-verdianos na Europa que afirma fazer trabalho de ‘lobby’, a favor de Cabo Verde. Congratulo-me também com a criação recente do programa Dias de Cabo Verde que visa mobilizar e enquadrar quadros nacionais duma forma individual. O nosso associativismo na Europa é indiscutivelmente um potencial se for bem uitlizado, mas não deixa de ter as suas grandes fraquezas. Posso adiantar ainda que já existe um grupo selectivo de quadros e organizações cabo-verdianas na Europa, apostado na elaboração para breve dum projecto nesse sentido. A nossa intenção é utilizar o sistema de redes como instrumento estratégico. Fomos recentemente recebidos em audiência pelo Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperaçao e Comunidades e ficamos altamente satisfeitos pela receptividade dele e doutros representantes de instituições governamentais do nosso país. Em breve, pensamos entrar em contacto com sectores da sociedade civil em Cabo Verde. Da nossa parte, pensamos que é esta a forma de dar um modesto contributo para o desenvolvimento de Cabo Verde, mas isso implica, obviamente, co-participação e co-responsabilidade.
Norberto Silva para o Jornal Expresso das Ilhas

Deputada Holandesa Kathleen Ferrier




Deputada holandesa defende que a ajuda a Cabo Verde não deve ser cortada abruptamente
“JÁ É TEMPO DE A EUROPA FAZER UMA BOA POLÍTICA DE IMIGRAÇÃO”

Mais uma interessante entrevista do nosso colaborador Norberto Silva, da Rádio Atlântico, na Holanda. A sua entrevistada, Kathleen Getrud Ferrier, é deputada no Parlamento holandês, há precisamente 2462 dias (16 de Fevereiro de 2009) e mostra-se profundamente conhecedora e comprometida com as dificuldades de integração das minorias na Holanda. Fala de Cabo Verde, mas também do MpD, que é da família do seu partido, o CDA, Partido Cristão Democrata da Holanda. Garante que gostaria de participar e de conhecer melhor a realidade cabo-verdiana
Roterdão, 16 Fevereiro - Kathleen Getrud Ferrier nasceu a 8 de Março de 1957 em Paramaribo, Suriname. É Casada e mãe de dois filhos. Professa a religião Protestante (Igreja Reformada Holandesa-Calvinista). Estudou Literatura na “Universidade de las Americas” em Cholula no México (1980) e depois licenciou-se em Letras em 1984 em Leiden (Holanda) com especialidade nas línguas de espanhol e Português e ainda cooperação e desenvolvimento. De 1981 a 1984 foi Professora Assistente de Cooperação e desenvolvimento em Leiden. Desempenhou várias funções importantes no seio de organizações não governamentais ligadas a igreja. Foi Secretária Geral para a cooperação das igrejas holandesas de 1994 a 2002. Foi membro da Associação das igrejas migrantes de 1996 a 1999. Trabalhou para a SOW (igrejas de Migrantes). Trabalhou em várias ONGS na América Latina nomeadamente no Chile e no Brasil.
No seu partido, o CDA, desempenhou várias funções de destaque de 2002 a 2006: foi Vice-presidente para implementação do programa do seu partido de 2002 a 2006. Vice-presidente da comissão para as relações Externas. Membro da Comissão permanente para Assuntos Sociais, Ensino, Mercado de Trabalho, Cultura, Educação e Ciências, Desporto etc. É porta-voz do Grupo Parlamentar do CDA para a área de Politica de Família, Cooperação e Desenvolvimento. É membro da comissão das relações externas do Parlamento. Membro da Fundação “SELOS” para protecção das Crianças. E ainda pertence ao Grupo de Trabalho para a democracia e religião; É Conselheira do Parlamento em questões relacionadas com a América latina.
Escreveu vários livros de entre os quais se destaca “Igrejas dos Imigrantes, confiança e Aceitação”.
Como Hobby a deputada gosta de ler, escrever, pintar e cozinhar juntamente com os filhos.
As fotos do texto são de Dirk Hol
Rádio Atlântico - CDA é o Partido do actual Primeiro-ministro Balkenende. Para os cabo-verdianos residentes na Holanda só a sigla “CDA” não significa muito. Quer resumidamente falar-nos do seu partido e da ideologia que professa?
Kathleen Ferrier - O meu partido é um partido cristão democrata. É um partido que reúne várias culturas cristãs; os protestantes e católicos. Antes eram três partidos diferentes que se juntaram para formar um só partido, CDA. O meu partido que é o maior na Holanda e que é também o partido do primeiro-ministro, é um partido que trabalha tendo como base o evangelho. O evangelho é que nos inspira. Mas é claro que tem também outros partidos aqui na Holanda que querem realizar o que está inscrito no evangelho na prática. O que nos distingue dos outros partidos é que o evangelho é inspiração no nosso trabalho. O que também é importante para o meu partido é a solidariedade mundial, o respeito pela natureza, o poder do povo, mas que não o do Estado ou da lógica do mercado mas o poder real do povo mesmo. Para nós, qualquer pessoa que se reconheça nos pilares elementares que estão na base da criação do nosso partido pode ser membro e ter a possibilidade de chegar a postos importantes dentro do partido. O nosso partido é aberto também a pessoas que professam outras religiões e é por isso que no seio do CDA temos membros muçulmanos, hindus, e eu posso dizer-lhe que tenho colegas dentro do parlamento que são muçulmanos ou Hindus.

RA - Parece um pouco em contradição com a origem do seu partido que é Judaico-Cristão….
KF - Não, não é uma contradição, mas é claro que dentro do partido como é evidente tem pessoas que são contra a inclusão de muçulmanos ou Hindus mas a maioria defende que o Cristo que é o nosso exemplo mostrou que qualquer um de boa vontade pode colaborar. O que é importante é que a pessoa reconheça os valores que estão na base da fundação do nosso partido. O verdadeiro cristianismo defende a abertura da pessoa e ao reconhecer valor em qualquer ser humano é isso que Jesus Cristo ensinou para nós não é verdade?
RA - Mudando agora de assunto. Uma das metas do milénio proposta pela ONU é a erradicação da fome no mundo até 2020. O que é que o seu partido, actualmente, integrante da coligação governamental pensa fazer no sentido de ajudar a erradicar a fome no mundo, principalmente nos países africanos?
KF - Para nós é um tema muito importante e posso-lhe adiantar que neste momento debate-se muito aqui na Holanda sobre como deve ser a assistência, a contribuição do País para o desenvolvimento. Para o meu partido é muito importante que a Holanda cumpra o que prometeu fazer em termos de ajuda aos países pobres que é dedicar uma certa quantidade dos ganhos do país na ajuda aos países mais pobres…
RA - E a Holanda cumpre isso neste momento?
KF - Sim a Holanda destina 0,8% do seu produto interno bruto para acções voltadas ao desenvolvimento e isso são valores dos mais elevados ao lado dos países nórdicos e Luxemburgo. E nós sempre interrogamos a países como Portugal, França ou Alemanha por exemplo sobre as suas contribuições que são menores que as nossas e relembramos a esses países que eles também prometeram dar mais ajuda mais não fazem nada disso. Mas também digo sempre que a solução para combater o problema dos países pobres não é somente dar dinheiro. É preciso sobretudo analisar a sua eficácia. O dinheiro tem que ser utilizado nesses países de uma forma a ter um impacto positivo na vida das pessoas e no desenvolvimento dos referidos países. Digo isso porque estamos a 50/60 anos neste processo de ajuda e dá para ver que se cometeram muitos erros.
Eu escrevi um livro sobre isso. Entrevistei quinze personalidades do Norte e do Sul (Países Ricos e Pobres) para dar a sua versão sobre a forma de atribuição da ajuda. A experiência me ensina que mais importante que dar dinheiro é ver como fazer realmente para que a ajuda financeira contribua para o desenvolvimento verdadeiro desses países.
Nós somos chamados países mais ricos porque temos mais riqueza, mais dinheiro… mas somos, por outro lado, mais pobres no tocante a outras coisas. Este nosso continente, o velho continente tem falta de coisas por exemplo que encontramos em África, na América Latina em grande abundância. Pessoas jovens que querem trabalhar, energia, luz….
RA - A Senhora é das que também acha que a política na Europa ou em particular na Holanda está “cinzenta’, sem ideias em termos por exemplo criativos ou do envolvimento da juventude…
KF - Eu acho que dentro da classe politica europeia em todos os partidos necessitamos de sangue novo e de novas ideias e o que é muito importante, de pessoas que falam mais sobre a perspectiva de que o nosso mundo é pequeno e que existe uma interdependência muito grande entre todos os países e entre todos os povos. Quando tem pobreza, tem fome por exemplo em África, isso tem um efeito imediato aqui na Europa…
RA - É então contra a actual política da União Europeia que restringe ou mesmo proíbe a entrada dos vizinhos pobres do sul na Europa?
KF - Olha eu acho que abrir as fronteiras não adianta nada. O que é importante é fazer uma política bem pensada e verdadeiramente europeia que resolva de vez essa situação da emigração para a Europa. O drama que acontece com os pequenos barcos que tentam chegar à Europa é algo que choca-nos a todos e não pode ser. Já é tempo de a Europa fazer uma boa política de imigração. Esta semana vamos falar com o ministro do desenvolvimento e da cooperação sobre a imigração e eu estou muito contente que ele iniciou alguns projectos que eu acho muito importante. Posso falar-lhe de um projecto dele que é o de migração circular e que estuda a possibilidade de receber os emigrantes vindo dos países em vias de desenvolvimento para estudarem ou trabalharem durante por exemplo seis meses na Europa e regressar aos seus países de origem com saber fazer que lhes permita usar em prol do desenvolvimento dos respectivos países.
Eu acho também muito importante a possibilidade do regresso de quadros oriundos dos países em desenvolvimento que estão aqui na Holanda às suas terras no sentido de trabalharem lá e compartilhar seus conhecimentos durante um certo tempo sem perder os seus trabalhos aqui. O que a Holanda também está a fazer é evitar a fuga de cérebros dos países pobres. O meu país quer que jovens com formação elevada fiquem nos seus países a ajudar no desenvolvimento. E para isso estuda-se actualmente a possibilidade de dar a esses quadros um salário digno de forma a ficarem nos seus respectivos países.
RA - A senhora já trabalhou em várias organizações de cariz social e hoje está aqui em Roterdão, num encontro sobre o papel que devem desempenhar as igrejas migrantes na sociedade holandesa. Que Importância têm as ONG`s no sentido de criar lobby para ajudar o chamado terceiro mundo a sair do ciclo da pobreza?
KF - Eu acho muito importante a existência das ONG`s. Em primeiro lugar porque elas são uma expressão da sociedade civil. Para falar dos lobby que o senhor falou, o que por exemplo as pessoas das igrejas falaram aqui hoje apresentando os seus problemas enfrentados e interrogando-nos a nos políticos aqui presentes sobre o que fazer é uma forma de fazer pressão sobre a classe politica, é fazer lobby. Encontros como este são importantes porque muitas vezes os políticos não estão a par do que acontece na rua, nas escolas, nas igrejas, no trabalho e não sabem por isso quais são os desafios que as pessoas da sociedade civil confrontam-se no seu dia a dia. Essas organizações não governamentais ao promoverem encontros do tipo fazem algo de muito importante no sentido de ligar políticos à sociedade civil. Mas também tenho que dizer que infelizmente tenho visto muitas ONG`s que apenas têm esse nome e que podiam colaborar um pouco mais para ajudar a resolver os problemas; precisam ser mais eficazes.
RA - Antes de vir para esta entrevista li o seu CV, vejo o seu desempenho no Parlamento e não tenho dúvidas de que a senhora é uma mulher muito inteligente e emancipada. Numa sociedade ainda dominada pelos homens nota-se que mesmo em países como a Holanda a mulher é ainda discriminada no mundo do trabalho. Por exemplo, o salário dos homens que desempenham cargos de chefia, são normalmente maiores do que o das mulheres. O que deve ser feito para se pôr termo a essa discriminação que as mulheres são sujeitas ainda nos países ditos desenvolvidos?
KF - Olha eu acho uma vergonha o que disse e a Holanda está fazendo ainda muito mal nesse sentido. Dentro da política está indo melhor. Nós mulheres somos quase metade do parlamento. Mas por exemplo nas ciências, nos ministérios, empresas, faltam mulheres nos postos mais altos. Fala-se muito aqui agora no sentido de ser obrigatória a inclusão de uma percentagem de mulheres nos lugares importantes dentro dos ministérios ou na direcção das empresas, mas eu acho que isso não funciona. Eu acho que a política deve dar o exemplo nomeando mulheres em lugares visíveis na tomada de decisões importantes e nós não chegamos ainda lá aqui na Holanda. Ainda bem que neste País existe uma organização importante que luta para acabar com isso e o nome é “Equlity” e por casualidade a minha irmã é directora (risos).
Eu acredito que uma sociedade só funciona melhor quando tem diversidade, eu acredito que o sistema de quotas para ter mulheres desempenhando certas funções não funcionam porque pode dar-se o caso de qualquer mulher ser nomeada para um posto mesmo sem ter capacidades intelectuais para isso. Sou por isso a favor da nomeação das mulheres quando elas mostrem que realmente são capazes de desempenhar determinadas funções de chefias com competência. Também é verdade que nós as mulheres também precisamos ser mais expressivas nesses assuntos e digo isso porque somos por vezes muito mais recatadas que os homens e não gostamos de expor-nos tanto.
RA - Das mulheres europeias para as africanas. A mutilação genital é um fenómeno que preocupa; frequentemente os mídias holandeses falam disso. O seu Partido tem uma opinião formada sobre o assunto? Os Pais que obrigam suas filhas a mutilarem-se devem ser criminalizados?
KF - Olha ainda não existe uma lei que criminalize os pais. Eu acho mais importante que criminalizar os pais é consciencializa-los. Eu conheço mulheres aqui na Holanda que realmente estão convencidas que elas fazem um favor às filhas ao fazer isso. Por isso penso que é muito importante trabalhar a consciência dessas famílias e ver o mesmo tempo como proteger as meninas. Estamos a conversar no parlamento holandês sobre a possibilidade de introduzir médicos dentro da escola que fazem exames corporal como já houve em tempos aqui na Holanda, de dois em dois anos e isso para todas as crianças identificando assim as crianças que necessitam de protecção e o Estado poder actuar em conformidade.
As mulheres grávidas frequentam centros de saúde pré natal e a consciencialização também podem ser feitos nesses centros médicos ainda antes das crianças, para que os médicos possam alertar os pais sobre os perigos da mutilação genital feminina.
Eu posso também dizer para você que sou directora de um projecto que atribui prémios para grupos migrantes que realizam trabalhos importantes e vários prémios já foram atribuídos a mulheres africanas que vivem aqui na Holanda e fazem esse trabalho de consciencialização sobre a mutilação genital.
RA - Falando agora sobre a cooperação entre a Holanda e Cabo Verde. Como avalia essa cooperação?
KF - Eu entendi da parte do ministro da cooperação e o do desenvolvimento da Holanda que vamos terminar a nossa relação de cooperação com Cabo Verde porque neste momento Cabo Verde faz parte do grupo dos países de desenvolvimento médio e a renda per capita do país justifica essa tomada de posição. Mas eu disse para o ministro que apesar de ter uma renda suficiente ainda existe muita pobreza em Cabo Verde e falei na possibilidade de muitas empresas holandesas sobretudo na área do turismo que têm interesse em investir em Cabo Verde. Eu não estou de acordo em cortar a ajuda assim abruptamente mas sim gradualmente talvez deixar uma fase de transição que pode ir de quatro a oito anos e não terminar assim de um dia para o outro.
RA – O CDA tem muitos membros de origem cabo-verdiana? António da Silva é o rosto da CDA para os cabo-verdianos aqui. Tem conhecimento de outros cabo-verdianos activos no seu Partido? Como vê o interesse dos cabo-verdianos no seu partido?
KF - Para nós o António é muito importante no partido CDA e sei que temos mais cabo-verdianos que são membros do nosso partido. Não posso quantificar o número exacto mas sei que temos. Como eu falei anteriormente, o meu partido reconhece o valor da importância da diversidade no seu seio. Eu mesma nasci no Suriname e acho importante que vozes de pessoas oriundas de outros países e com outras culturas sejam escutadas dentro do partido. Justamente no momento em que o debate no país sobre a multiculturalidade tem ganho um tom negativo, eu vejo muitas coisas positivas na diversidade e digo mais que precisamos dos cabo-verdianos dentro do nosso partido nessa linha de ideias. Quero dizer também que acho muito importante que o CDA tenha contacto mais frequente com o nosso partido irmão de Cabo Verde, o MpD, para reforçarmos mais os nossos laços de cooperação.
RA - Falou no MpD (Partido da mesma família politica que o CDA ) que já foi governo em Cabo Verde e agora está na Oposição. Segundo informações avançadas pelos mídias cabo-verdianos esse Partido vai realizar a sua nona Convenção ainda este ano. Caso for convidada está disposta a participar no Congresso?
KF - Olha se eu fosse convidada seria algo de fantástico. Mas é preciso ver as nossas agendas ou ver ainda se outras pessoas dentro do Partido CDA pudesse também participar talvez gente do directório do Partido…
RA - Mas a senhora tem a vantagem de expressar em várias línguas entre os quais o português…
KF - Sim isso é verdade, então eu devia ir como tradutora (risos).
RA - Ter uma pessoa do seu calibre apenas como tradutora seria um desperdício (risos)…
KF – Mas, agora a sério, gostaria sim de participar de conhecer melhor a realidade cabo-verdiana.
RA - Gostaria de lhe pedir para avaliar o actual governo de centro esquerda no poder aqui na Holanda no tocante sobretudo à relação entre os dois maiores partidos: CDA e o PvdA. A relação é boa?
KF - Como você sabe, a Holanda é um país de coligação e nunca um partido governa só. E para formar qualquer governo de coligação é preciso que haja negociações por vezes demoradas. Neste momento a coligação é formada por três partidos e isso significa que nem todos os desejos e sonhos dos três partidos podem ser realizados. É preciso dar um pouco mais, também ceder um pouco, receber um pouco, etc.
Mas nós deputados do CDA não temos problemas em criticar, às vezes, o governo de coligação na forma como realizam ou não os nossos sonhos, as nossas propostas… Como é evidente nunca uma relação num governo de coligação é sempre um mar de rosas; existem, por vezes, fricção pelo simples facto de serem partidos diferentes. Não esqueça que fricção dá brilho.
RA - Mas classificaria o desempenho actual de positivo…
KF - Sim eu acho positivo o desempenho até porque com a crise económica que o mundo atravessa a que a Holanda não está imune, não admite veleidades de membros da coligação entrar em grandes brigas por exemplo.
RA - Obrigado senhora deputada pelo seu tempo disponível.
KF - Agradeço e foi um grande privilégio para mim falar com o senhor.
NORBERTOB.C. SILVA

Publicado no Liberal dia 16 de Fevereiro 09