sexta-feira, 19 de março de 2010

CUBA:Damas de Branco caladas em Havana

HAVANA-Protesto de mulheres e mães de dissidentes foi interrompido à força pela polícia e apoiantes do regime castrista
O protesto pacífico de um grupo de mulheres conhecido por Damas de Branco foi anteontem reprimido com alguma violência pelas autoridades cubanas. As manifestantes, que são todas familiares de prisioneiros de consciência, foram insultadas à saída da igreja, em Havana, por duas centenas de militantes pró-governamentais, que gritavam "a rua é de Fidel" e a "a rua é da revolução".
O incidente ocorreu no bairro de Párramo, quando as mulheres iam visitar um preso, deparando--se com um grupo hostil. Como é habitual nos protestos, as Damas de Branco gritaram "liberdade" e a multidão respondia "abaixo a gusanera", expressão que significa "vermes contra-revolucionários". Depois, enquanto os pró-castristas aplaudiam, mulheres polícias colocaram à força as 30 Damas de Branco em autocarros e levaram--nas para casa de uma delas. As mulheres resistiram e algumas ficaram com pequenos ferimentos.
O protesto de anteontem inseriu-se numa sequência que durou três dias, tendo havido hostilidade no segundo dia, mas sem violência. Foi a primeira vez em dois anos que as autoridades cubanas interromperam uma manifestação das Damas de Branco. Desde 2003 que estas, após a missa, desfilam na rua vestidas com roupa branca e empunhando flores.
A repressão pode ser explicada pelo facto de as manifestantes desta vez celebrarem o sétimo aniversário da vaga de repressão que levou os seus maridos e filhos à prisão, episódio conhecido por "Primavera Negra". A 18 de Março de 2003 foram presos 75 dissidentes cubanos, dos quais 53 continuam detidos, alguns doentes.
O grupo de 75 opositores presos em 2003 era constituído por intelectuais e activistas. Alguns mais conhecidos, como o poeta Raúl Rivero, estão no exílio e outros, como Martha Roque, foram libertados por razões de saúde. Os 53 detidos vivem em condições péssi- mas de higiene e alimentação. Óscar Biscet e Héctor Gutiérrez são dos mais conhecidos.
Cuba acusa diplomatas americanos e europeus de "provocação contra-revolucionária", por terem participado na missa que antecedeu o incidente. E o presidente do Parlamento Europeu (PE), Jerzy Buzek, falou em "brutalidade policial". O parlamento aprovou ontem uma resolução de condenação do incidente. Em 2005, o PE atribuiu o Prémio Sakharov às Damas de Branco, mas ainda não foi possível entregar a distinção. Os deputados europeus dizem estar preocupados com a situação dos dissidentes, que para o regime castrista são "presos comuns".
A 23 de Fevereiro, após dois meses e meio de greve de fome, faleceu em Cuba o opositor Orlando Zapata, havendo acusações de que a vítima terá sido maltratada. A mãe de Zapata foi uma das mulheres que participaram no protesto de Havana. O falecido exigia melhores condições de detenção.
"Estamos preocupados com o estado alarmante [de saúde] do jornalista e psicólogo Guillermo Fariñas. Não podemos permitir outra morte em Cuba", afirmou Buzek, numa referência à situação do dissidente que iniciou há 17 dias uma greve de fome, exigindo a libertação de 26 presos políticos. Fariñas foi entretanto internado, em estado grave.
DN.PT-POR LUIS NAVES

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