quinta-feira, 25 de março de 2010

HOLANDA:A IGREJA E ABUSO SEXUAL NA HOLANDA

Eikenburg é o novo foco de denúncias de abuso sexual de menores por parte de religiosos católicos. O internato era um dos mais caros e exclusivos, no qual estudavam filhos de diplomatas e de pais abastados.
Situado nos bosques de Eindhoven, no sul da Holanda, as arborizadas ruelas do internato ocultam muito sofrimento, como mostra a investigação da Radio Nederland e o Jornal NRC Handelsblad sobre os abusos nos internatos e seminários. Das mais de cem denúncias investigadas nas duas últimas semanas, onze casos se passaram em Eikenburg.
Onze ex-alunos narraram como eles e outros companheiros foram objeto de reiterados abusos e maus-tratos. Os fatos aconteceram entre 1956 e 1983. Os ex-alunos acusam a nove irmãos e um leigo de um total de cinquenta religiosos que trabalhavam no internato.
Na capela do século 19 e nos edifícios anexos, os Irmãos da Caridade educavam 350 estudantes internos. A ordem pregava o amor ao próximo e dedicava sua energia ao cuidado dos pobres, enfermos e idosos. No entanto, mantinha um regime muito severo para com os jovens internos.
Como castigo ao mau comportamento, os jovens eram proibidos de ir para casa no final de semana, oportunidade que o líder do grupo de religiosos esperava para atacar os meninos que ali estudavam, comenta Dolf, uma das vítimas de violências sexuais. Dolf afirma ter sido abusado por um frei "alto e forte", que, semanalmente, durante um ano, o obrigava a fazer favores sexuais. “Como criança, não tinha ideia do que estava acontecendo”.
O inspetor superior dos Irmãos da Caridade, Ton van Heugten, de 74 anos, comentou que o frei foi internado em uma instituição psiquiátrica onde se declarou paciente. No entanto, nenhuma investigação sobre eventuais vítimas foi realizada.
Violência física
Nem todos os alunos pertenciam a famílias abastadas. Henk Overdevest e seus dois irmãos estiveram em Eikenburg em 1968. Henk comenta que sua mãe era uma pessoa instável, que não podia tomar conta dos filhos e fazia uso da violência física, motivo pelo qual Henk foi cursar o sexto ano do ensino fundamental em Eikenburg.
O sofrimento começou quase de imediato. Em uma ocasião, o grupo de novos estudantes subia por uma escada quando um deles disse algo grosseiro. "Um religioso o golpeou fortemente na cabeça. O menino rolou escada abaixo. Ninguém interveio. Finalmente o jovem levantou-se. Ele estava chorando muito, claro”.
Intimidação
As crueldades também eram de caráter sexual. Principalmente os pupilos que permaneciam durante os finais de semana passavam por esse tipo de experiências. Overdeveste recorda que numa tarde de sábado os garotos jogavam bilhar. “Quando um dos meninos se posicionava para acertar uma bola com o taco, o mesmo frei chegou perto dele e o apertou contra a mesa de bilhar e começou a golpeá-lo por trás, como um animal”. O resto do grupo não fez nada por medo de represálias.
Henk tornou-se amigo de um dos supervisores, um leigo de 19 anos. O supervisor o convidou para ir a seu quarto para conversar. “Batemos papo e escutamos rádio até de madrugada e ele me deu um copo com licor”. O jovem leigo estava preparando o abuso. “Cochilei e quando acordei alguém estava tocando no meu pênis. Eu o empurrei. Pouco depois escutei alguém no dormitório dizer: vá pro inferno, não me toque!” No dia seguinte, os pais do garoto se apresentaram e o assistente foi demitido imediatamente.”
Outro ex-aluno que, há anos, apresentou suas queixas ao inspetor provincial, recorda do incidente com raiva. “Me disse que não podia ser verdade”. Recentemente recebeu uma carta de Van Heugten com uma formulação cautelosa: “Lamentamos profundamente caso alguma vez haja acontecido um incidente em nosso internato.”
Consolo
Anos antes de o internato ser fechado, em 1996, a instituição tornou-se uma escola mista. Cada aluno dispunha de seu próprio quarto. O ambiente era menos severo, mas os abusos não haviam acabado. Uma mulher de 42 anos afirma ter sido abusada desde os 14 anos por um religioso de 30 anos. Agora ela está casada, tem dois filhos e prefere manter-se no anonimato. O religioso queria consolá-la porque ela sentia falta de sua família, mas o consolo acabou em sexo.
Quando o pai da menina ficou sabendo do que aconteceu e ameaçou ir à polícia, o religioso foi transferido para outro internato dos Irmãos da Caridade, na cidade de Roermond. Atualmente, ele é um dos quatro membros do conselho nacional da ordem.
Os Irmãos da Caridade ainda vivem em Eikenburg. No princípio, o inspetor provincial Van Heugten se negou a falar sobre as acusações. No entanto, em uma segunda ligação telefônica ele reconheceu que o religioso “havia tido algo com a menina”. O frei visitou Van Heugten, “chorou e confessou o fato”.
Há duas semanas, a Radio Nederland noticiava as primeiras denúncias de abusos sexuais por religiosos no seminário Don Rua, em ‘s-Heerenberg. Desde então, muitas denúncias apareceram nos meios de comunicação e no Hulp & Recht, centro de denúncias da igreja católica. Dessa forma, a Holanda se soma à crescente lista de países onde se dá publicidade ao abuso de menores por eclesiáticos.
RÁDIO NEDERLAND(Escrito no português brasileiro)-Por ROBERT CHESAL
Foto: RNW/Henk Overdevest

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