terça-feira, 23 de março de 2010

SUIÇA:Deputado promete renunciar se for condenado

Ricardo Lumengo discursa na Câmara, em Berna. (Keystone)
O deputado federal Ricardo Lumengo, angolano de origem e membro da comissão de relações exteriores da Câmara, está no centro de uma controvérsia que pode lhe custar o mandato.

Dois processos foram movidos contra ele por suspeita de fraude em duas eleições. Em um dos processos, relativo às eleições federais, ele foi inocentado. Outro ainda está em andamento. Em entrevista à swissinfo, Lumengo afirma que, se for condenado, vai renunciar.
Sua eleição como deputado federal, pelo Partido Socialista (PS), em 2007, foi vista como um símbolo. De fato, ele é o primeiro e único membro de origem africana (de Angola) no Parlamento suíço.
Desde meados de fevereiro, no entanto, Lumengo enfrenta acusações de fraude eleitoral. Nas eleições de 2007, que ele venceu com uma margem de quase 10 mil votos, descobriu-se que 47 cédulas tinham a caligrafia dele. O Ministério Público fez uma denúncia penal, mas ele já foi inocentado.
Em 2006, quando foi eleito deputado estadual pelo cantão (estado) de Berna, também foram encontrados 46 cédulas com sua caligrafia. Essa denúncia ainda não foi julgada. Ele reconhece o erro, mas afirma que quis ajudar pessoas a exercer a democracia, sem intenção de fraudar.
“Recebi centenas de e-mails ofensivos, dizendo, por exemplo, que meu rosto incomoda na Câmara e que está na hora de eu voltar para a África colher banana”, afirma Lumengo. (Ouça a entrevista na coluna à direita).
swissinfo.ch: O senhor reconhece que errou?
Ricardo Lumengo: Reconheço que não devia ter feito isso e, segundo a lei eleitoral suíça, se há apenas um caso de irregularidade, instaura-se um processo. Mas minha intenção foi apenas de ajudar algumas pessoas, recentemente naturalizadas, a preencher as cédulas eleitorais porque o sistema realmente é um pouco complicado.
swissinfo.ch: Mas como sua caligrafia apareceu nas cédulas?
RL:. Eu ajudei-as a preencher e elas deviam copiar em outra cédula com a letra delas, mas preferiram colocar na urna do jeito que estava. Aliás, não eram só votos para mim nessas poucas dezenas de cédulas. Preenchi com outros nomes que as pessoas indicavam. Repito ainda que a intenção era que as pessoas começassem a participar da democracia direta suíça, pois já tinham o direito a isso.
swissinfo.ch: O senhor foi denunciado por adversários políticos?
RL:.Não se diz isso formalmente, mas só um cego não pode ver isso. Faz parte de um jogo político que meus adversários tentam levar vantagem, com a proximidade das eleições no cantão de Berna (ndlr: 28/2) e federais (ndlr: em outubro de 2011).
swissinfo.ch: Mas o senhor foi criticado dentro do seu próprio partido, o Partido Socialista?
RL: Ser criticado, dizer que cometi um erro etc. não tem nada de mal. Quando amigos criticam de forma contundente, sentimos isso. Então não temos só os adversários declarados, mas também dentro de seu próprio campo. Não fui abandonado pelo PS porque o mais importante são as ideias socialistas que tenho. Mas entendo que em período pré-eleitoral, o partido tenha essa posição.
swissinfo.ch: O senhor foi absolvido em um processo, mas outro ainda está em trâmite. E se for condenado?
RL: As acusações de fraude são objetivamente muito graves. Se condenado, em nome de minha própria honra, vou renunciar ao mandato de deputado federal.
swissinfo.ch: Quando eleito em 2007, o senhor foi uma espécie de símbolo de abertura ao ser o primeiro africano no Parlamento federal suíço. O senhor acha que seus eleitores se decepcionaram?
RL: Penso que não. Eu expliquei o que aconteceu. Ninguém é perfeito e um político também não. O mais importante é reconhecer seus erros e não voltar a cometê-los no futuro. Eu acho que já aprendi com meus erros e que os eleitores entenderão isso.
Claudinê Gonçalves, swissinfo.ch

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