domingo, 25 de abril de 2010

PORTUGAL:Tráfico para trabalho escravo quase ao nível do sexual

LISBOA-As vítimas são maioritariamente pessoas com fracos recursos económicos e é nas zonas de fronteira que se registam mais raptos
Dentro do tráfico humano, a procura de vítimas para trabalho escravo aproxima-se cada vez mais daquelas que se destinam à exploração sexual. "É uma realidade que, nos últimos anos, as autoridades portuguesas têm sinalizado mais situações que se destinam ao desempenho de trabalho forçado. Antes, raptavam-se pessoas praticamente apenas para as explorar sexualmente. Hoje, já não é bem assim." Isto mesmo apurou o DN junto de fontes ligadas a este fenómeno para o qual as autoridades portuguesas estão cada vez mais atentas.
Mas independentemente do tipo de tráfico, é junto à fronteira que se registam o maior número de situações, sendo a última sinalização relativa ao rapaz de 15 anos que foi sequestrado, no dia 12, em Vizela para trabalho forçado em Espanha (ver peça em baixo).
Quanto ao perfil das vítimas, este varia em função do destino que os traficantes lhes pretendem dar. Enquanto para o trabalho sexual, a procura incide sobre mulheres, já para o trabalho escravo, quem está mais exposto são as pessoas com poucos recursos financeiros e, de preferência sem família. "Indigentes, sem-abrigo, pessoas sozinhas na vida que não vão ser procuradas por ninguém, são os alvos preferidos dos raptores", afirmou a mesma fonte.
De acordo com esta, já não há a menor dúvida que existe uma relação directa entre o estatuto económico-social e a escolha das vítimas com destino ao tráfico de seres humano. E recorda que "não é por acaso que estas situações têm maior incidência nos países pobres" e que quem se dedica ao sequestro e tráfico de pessoas com o objectivo de as encaminhar para desempenharem trabalhos forçados procura gente a quem basta acenar com uma oferta de meia dúzia de trocos para eles caírem na cilada montada.
Quanto aos lucros que as redes recebem pela angariação de pessoas para traficar, a fonte do DN, diz não ser possível fazer esse tipo de contabilização. Ao contrário do que foi ontem avançado na imprensa - que o rapaz de Vizela tinha sido vendido por quatro mil euros - esta fonte assegura que, por norma, as vítimas não são sequer vendidas.
"Normalmente, as pessoas são levadas pela organização e é no poder desta que permanecem. Há um rede composta por vários elementos e, desde a sinalização até ao seu destino, mantêm-se sob a alçada da organização e normalmente em condições sub-humanas [como aconteceu com o rapaz de Vizela]".
Neste caso foi através da Internet que tudo começou, algo que é raro acontecer. "Não é normal a abordagem inicial ser feita através do recurso às novas tecnologias. Por uma razão muito simples: as vítimas que encaixam neste perfil não têm conhecimentos suficientes para usarem a Internet e muito menos condições para acederem, porque, tal como já foi referido, são pessoas sem recursos e muitas vezes sem tecto", sublinhou a mesma fonte.
DN.PT-POR ISALTINA PADRÃO

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