quarta-feira, 9 de maio de 2012

RNW:Lovergirl: “Eu pegava as meninas mais fracas”



Lolita tinha 17 anos quando foi instigada por seu namorado a trabalhar na prostituição. Ficava atrás da vitrine sete dias por semana. Mas vender seu corpo não foi o suficiente. “Tinha que recrutar meninas para ele em discotecas e bares. Até minhas próprias amigas. Elas foram as que tive que recrutar primeiro.”

Garotas como Lolita são conhecidas na Holanda como ‘lovergirls’. Com frequência, são menores de idade que recrutam outras meninas para a prostituição. Na maioria das vezes, sob pressão de um proxeneta ou ‘loverboy’. Segundo Anita de Wit, da fundação Stop Loverboys este não é um fenômeno novo, mas ela percebe uma tendência crescente. Cerca de 85% dos casos denunciados envolvem lovergirls.
As lovergirls procuram desenvolver uma relação de dependência com suas vítimas. “Eu pegava as meninas mais fracas”, conta Lolita.

“Quando você entra numa discoteca, percebe pelo jeito de uma menina que ela é tímida, que não pertence ao grupo. Estas meninas são as mais fáceis de ‘conquistar’, então procuro ficar amiga. Você aí vai fazer coisas legais junto, faz com que ela fique se sentindo o máximo, até que ela realmente confie em você. Aí eu ia testar os seus limites. Com drogas, por exemplo.”

Melhor amiga
Segundo De Wit, as lovegirls primeiro tentam ficar melhores amigas. Em seguida, afastam a vítima de seu próprio ambiente. “Elas criam intrigas com os pais, irmãos, irmãs e outras amigas. Assim fazem com que todos se afastem da garota.”

O objetivo é fazer com que a vítima quebre as regras. “Isso pode começar com aprender a fumar ou usar drogas, até roubar. Procuram constantemente testar os limites de maneira que a menina vá cada vez mais longe. E o objetivo final é levá-la para o rapaz, e ele toma as rédeas a partir daí.”

O mais difícil neste fenômeno da lovergirl é que as vítimas não se dão conta de que sua melhor amiga pode ser uma lovergirl, acredita De Wit. “Meninas fazem contato com mais facilidade com outras meninas e conquistam sua confiança mais rapidamente.”

Segredos
Esther teve contato com uma lovergirl aos 12 anos - uma garota de 16 anos que era uma das meninas mais populares da escola. Como Esther era frequentemente intimidada em sua antiga escola, quase não acreditou quando Rachel quis ser sua amiga.

“Ela me convidou para sair com ela. Eu fui e depois continuamos nos encontrando, cada vez mais. Ela ganhou minha confiança e eu contava tudo pra ela. Ela sabia tudo a meu respeito, até meus maiores segredos.”

Esther foi ficando cada vez mais fascinada por sua amiga e fazia tudo por ela. Saía de casa escondida à noite para encontrar com Rachel. “Ela dizia: ‘se você não for não é mais minha melhor amiga’. Então eu ia, porque achava que melhores amigas tinham que fazer tudo uma pela outra.”

Loverboys
Seus pais ficaram furiosos com o incidente. Mas foi só o começo. “Comecei a fumar cigarro e maconha. Roubava em lojas e dos meus pais para dar pra ela. Senão ela não seria mais minha amiga. Ela também me apresentou um menino de 18 anos, que foi meu primeiro namorado e também meu primeiro loverboy.”

“Ele era um namorado carinhoso. Fazia tudo por mim e eu fazia tudo por ele. Mas depois de três meses ele me bateu, e quando liguei para minha amiga para contar o que tinha acontecido, ela disse: ‘se você terminar com ele, não vai mais ser minha amiga. Aí acabo com você e você não vai ter mais ninguém’.”

Esther acabou ficando no namoro e passando por mais abusos. Foi estuprada por seu namorado, pelos amigos, primos e irmãos dele. Depois disso, foi forçada a trabalhar como prostituta. Como ela só tinha 12 anos, se oferecia em estacionamentos, estações de trem e parques. Até os 16 anos, ficou presa em diversas redes de loverboys.

As histórias de Esther e Lolita deixam claro, segundo Anita de Wit, que é preciso dar mais informação sobre este problema. Muitas meninas sabem da existência de loverboys, mas não sabem nada sobre lovergirls. Por isso De Wit dá aulas de prevenção em escolas, para que as meninas possam reconhecer logo os sinais. Mas ela principalmente estimula os alunos a falarem abertamente e a não terem vergonha.

* por motivos de privacidade, não foram usados os verdadeiros nomes de Lolita, Esther e Rachel.

http://www.rnw.nl/portugues/article/lovergirl-%E2%80%9Ceu-pegava-meninas-mais-fracas%E2%80%9D
Data de publicação : 4 Maio 2012 - 1:02pm | Por Myrtille van Bommel (Foto: Trey Ratcliff/Flickr CC)

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