sábado, 24 de novembro de 2012

CV:Nigerianas “obrigadas” a venderem-se em Santa Maria


Mais de trinta jovens oriundas da costa africana estão na prostituição nas ruas da Santa Maria, ilha do Sal. A NAÇÃO falou com uma delas que diz ter vindo a Cabo Verde com a promessa de um trabalho legítimo, mas agora é obrigada, por uma “boss”, a trabalhar na noite para juntar 700 contos porque só assim consegue o passaporte de volta. Caso não o faça, “coisas más” podem acontecer-lhe a ela ou à sua família na Nigéria.

Santa Maria, no Sal, por causa do negócio do turismo, conseguiu atrair muitos empreendimentos e muitas coisas boas, mas também há as menos boas. É o caso da prostituição, tanto feminina como masculina, que acontece quase que num acordo silencioso: os envolvidos não são importunados pelas autoridades; as prostitutas, também, não fazem muito alarido. Contudo, quem anda pelas ruas da cidade logo repara nas dezenas de jovens provenientes da costa africana, principalmente da Nigéria, à procura de clientes entre os turistas e nacionais.

Andam quase sempre em pequenos grupos e falam entre elas num dialecto que apenas as mesmas compreendem. Não estão para muita conversa, ainda mais para entrevistas, mas uma acedeu falar para o A NAÇÃO. Por razões de segurança será identificada como Hanna, até porque teme represálias por dar informações a um jornal.Hanna veio da Nigéria porque alguém foi lá buscá-la, de avião, com a promessa de que viria trabalhar numa ilha turística. Ninguém lhe disse que seria a vender o corpo na prostituição. Em Cabo Verde fica a saber que ela e todas as outras meninas têm uma “boss”.

Trata-se de uma mulher, também ela nigeriana, que engoda jovens no continente com propostas de trabalho lícito. Hoje, tal como a maioria das suas colegas, Hanna vive sozinha num quarto em Santa Maria, onde recebe os clientes. Das outras ilhas apenas conheceu a cidade da Praia (Santiago) onde passou uma noite quando chegava de viagem. Diz que não gostou porque é muito barulhenta.

Gostaria de conhecer São Vicente. Mas o seu sonho mesmo é conseguir regressar para a Nigéria porque sente-se muito maltratada pelas gentes de Santa Maria. “Algumas pessoas chamam-nos nomes obscenos na rua e até já atiraram pedras em mim e numa minha amiga”, diz Hanna sem esconder que não gosta nem um pouco da cidade onde vive.Com cerca de um ano em Santa Maria e, apesar de prostituir-se quase todas as noites, Hanna ainda não conseguiu juntar os 700 contos que tem que pagar à “boss” para tomar o seu passaporte de volta. Isto porque uma das primeiras medidas da “boss” é guardar o passaporte das meninas até que elas paguem “as suas despesas”, num montante que pode variar dos 700 aos mil contos.

A certa altura da conversa Hanna pega uma foto e mostra duas amigas nigerianas que já conseguiram pagar o dinheiro e casaram-se com turistas. O entusiamo ao contar as duas histórias de “sucesso” transforma-se em preocupação quando mostra a terceira que decidiu não mais se prostituir nem pagar o dinheiro da “boss”. Hanna diz que não sabe o que pode acontecer com ela mas que “coisas más” hão-de suceder. Todo o negócio da prostituição com estas jovens africanas parece ser controlado por esta misteriosa “boss”.

Para controlo dos seus pagamentos, esta menina tem uma pequena caderneta onde marca todas as importâncias entregues à “boss” para poder controlar sua “dívida”. Nela estão marcados vários montantes, incluídos quantias de 4 mil escudos, 12 mil e até 22 mil escudos pagos de uma vez. Hanna diz que não quer falar mais porque não quer criar problemas para ela e para as outras companheiras. “Se a Boss souber”, reitera com ar preocupada, “coisas más podem acontecer”.

Este jornal tentou contactar a Policia na ilha do Sal, mas apesar das várias tentativas não nos foi possível saber se há alguma investigação em curso acerca deste “fenómeno”. Entretanto, ao que o jornal apurou, até agora não há nenhuma queixa apresentada na Esquadra de Santa Maria pelas jovens, aparentemente, coagidas a prostituírem-se. Caso seja provada esta hipótese, está-se perante, pelo menos, do crime de lenocínio, que é uma prática criminosa que consiste em explorar o comércio carnal alheio, sob qualquer forma ou aspecto.
http://www.alfa.cv/anacao_online/index.php/destaque/3713-nigerianas-obrigadas-a-venderem-se-em-santa-maria

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