HAIA-Basta. Já é hora da Europa adotar sanções vinculadas para países que quebrarem as regras financeiras. Isto é o que o primeiro-ministro holandês Mark Rutte dirá neste domingo durante a cúpula da União Europeia, onde governantes tentarão encontrar uma saída para a atual crise do euro.
O governo holandês é o que está falando mais alto e trazendo uma mensagem clara que pede a fiscalização mais rígida de países da zona do euro. O primeiro-ministro Mark Rutte e seu ministro das Finanças, Jan Kees de Jager, lançaram uma campanha publicitária pedindo um Comissário da UE para Assuntos Orçamentais, que fiscalizaria e faria cumprir as novas regras de orçamento. Num recente artigo de opinião publicado no jornal britânico Financial Times, eles escreveram: “Quem quer que queira ser parte da zona do euro deve aderir aos acordos e não pode ignorar as regras sistematicamente. No futuro, a sanção máxima poderá ser forçar estes países a deixar o euro.”
À frente
A Holanda vem tocando há anos o alarme sobre países que não cumprem as regras estabelecidas no Pacto de Estabilidade e Crescimento. Agora, o primeiro-ministro escreve “um acordo é um acordo”, e quer sanções automáticas quando países quebrarem as regras. Ele no entanto não explica o que isso poderia significar para a própria Holanda, que, na esteira da crise financeira de 2008, tem tido um déficit orçamentário bem acima do limite de 3%.
Mas o governo holandês agora está indo ainda mais longe, pedindo mais supervisão da UE à política econômica em todos os 27 Estados membros, e não apenas da política orçamentária dos 17 países na zona do euro. Na semana passada, o vice-primeiro-ministro Maxime Verhagen escreveu num artigo publicado pelo jornal Volkskrant que Bruxelas deveria poder intervir quando considerar a política econômica de um Estado membro da UE inaceitável. “Quando países são negligentes em garantir uma economia saudável, temos que poder forçá-los a isso.”
Esta linguagem é forte. Mas embora o governo holandês seja o único fazendo este tipo de proposta, ele certamente não está só. Derk Jan Eppink representa um partido belga no parlamento europeu. Ele diz que a Alemanha concorda com a abordagem holandesa e está feliz com a franqueza do país vizinho.
“Os alemães são tímidos em dizer o que pensam. E aí vêm os holandeses que tendem a dizer o que os alemães estão pensando.”
Norte x Sul
A União Europeia, como sempre, está dividida em como proceder. Os holandeses estão firmemente no campo ‘norte’ – países com economias relativamente fortes e finanças saudáveis, que querem uma moeda forte, com controles mais rígidos. À Alemanha e à Holanda se unem a Áustria e a Finlândia como as economias mais fortes na zona do euro, às quais o resto da Europa está se voltando para salvar a moeda. Estes países também são os que mais contribuirão para o fundo de estabilidade, o ‘baú’ criado para ajudar a assegurar que países em dificuldade poderão continuar emprestando.
Kathleen van Brempt é membro do parlamento europeu pelo Partido Socialista da Bélgica. Ela diz que países do sul acham a posição holandesa “arrogante” e que não está de acordo com a história da Holanda como um dos países fundadores da UE.
"Há uma falta de solidariedade, que é precisamente no que a União Europeia se baseia. Estou ouvindo muitas opiniões céticas em relação ao euro vindas da Holanda. Por exemplo, sobre a Grécia, que os gregos têm que resolver eles mesmos os problemas que causaram, etc. Ao mesmo tempo, o governo holandês está ganhando muito com a crise do euro. Tudo está começando a ser muito cínico.”
Van Brempt se refere às declarações do ministro das Finanças, Jan Kees de Jager, ao parlamento, dizendo que emprestar dinheiro para resgatar a Grécia não seria apenas a coisa certa a fazer para o euro, mas que também seria importante porque traria um bom retorno para o contribuinte holandês.
Paradoxo
A posição holandesa é paradoxal. O país tem se tornado cada vez mais cético em relação à União Europeia, tendo votado ‘não’ em um referendo pela Constituição Europeia, impondo obstáculos para a adesão da Sérvia e mantendo a Romênia e a Bulgária fora da zona Schengen. O populista Geert Wilders levantou a onda anti-Bruxelas e agora representa o ‘euroceticismo’ holandês. E embora ele não faça parte da atual coalizão de governo, seu apoio é que a mantém no poder.
Em parte por causa de Geert Wilders, o governo holandês está adotando uma linha dura no que se refere à União Europeia. Mas suas novas propostas, de fato, representam uma transferência significativa de soberania política para Bruxelas. Ao mesmo tempo que Mark Rutte vai contra as políticas passadas da UE, abraça a União Europeia como solução para o futuro.
Uma coisa é clara
Se isso soa confuso, é porque é. A UE entrou em território desconhecido e terá que repensar muitas das premissas adotadas na criação de uma moeda comum. Mas de sua posição privilegiada na Bélgica, Derk Jan Eppink diz que quando se trata de dinheiro, os holandeses são sempre perfeitamente claros.
Por John Tyler (Fotos: NS)
http://www.rnw.nl/portugues/article/crise-do-euro-holanda-quer-dar-um-basta
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