O
anúncio, na semana passada, de Jorge Tolentino de querer descer na
“próxima estação”, deixando o cargo de ministro da Presidência do
Conselho de Ministros e da Defesa Nacional, veio precarizar ainda mais o
já por si combalido “comboio” de José Maria Neves. Carlos Veiga, líder
da oposição, advoga que diante do quadro criado a única alternativa é o
Primeiro-Ministro colocar um substituto no lugar de Tolentino, até uma
eventual remodelação governamental.
Essa hipótese, ao que nos foi explicado
também, não está de todo descartada, podendo JMN realizar o mais
depressa possível a demissão de Tolentino, colocando a pasta num outro
ministro até que a remodelação seja possível.
Esta é de resto a posição defendida pelo
presidente do MpD, Carlos Veiga, para quem Tolentino deve ser
substituído imediatamente porque “o primeiro-ministro não pode manter no
Governo um ministro cansado e desmotivado”.
Por ora, ao que conseguimos apurar, JMN
prefere manter a mesma velocidade com que vem conduzido o seu comboio,
aguardando pelo próximo congresso do PAICV, que deverá acontecer em
Maio, para imprimir mudanças de fundo em todo o sistema tambarina,
passando pelo Governo, Grupo Parlamentar e até o próprio partido. Esta
semana, no Mindelo, Neves preferiu contudo contornar o problema,
afirmando que remodelação governamental não se anuncia, “faz-se”.
DESMOTIVAÇÃO?
A presença de ministro num Governo,
contra a sua vontade, segundo o líder do MpD, “não é seguramente um
sinal de muita motivação no seio do Governo”. Pelo contrário, alega
Carlos Veiga ao A NAÇÃO, “confirma outros sinais de cansaço de
esgotamento e de fim de ciclo do Governo no seu conjunto”.
Mais do que isso, acrescenta Veiga,
“mostra um aparente descontentamento que também já terá atingido o
interior do executivo em relação ao PM e uma falta de solidariedade no
seio dos membros do Governo. Não dá uma imagem de boa relação
institucional com o primeiro-ministro, deixando-o mal colocado”,
advoga.
Veiga realça, no entanto, que “no plano
puramente pessoal do senhor ministro só há que respeitar a sua decisão.
Faz parte dos seus direitos de personalidade. E em termos de ética
política é de avaliar positivamente: exercer cargos políticos sem
motivação, contrariado ou contra a vontade é que seria condenável”.
PRÓXIMO DE JMN
Tido como um dos colaboradores mais
próximos de José Maria Neves, Jorge Tolentino confessou, na passada
sexta-feira, não ter nenhum sabor especial em ser ministro, preferindo
descer na próxima estação para poder dedicar-se à sua "paixão de
sempre", a literatura. "Pedi para descer na próxima estação", disse o
diplomata e ministro da Defesa Nacional desde 2011."Quero dedicar-me à
minha paixão de sempre, a literatura", acrescentou.
A NAÇÃO sabe que a notícia causou
surpresas inclusive no seio do Governo, com alguns colegas a perguntarem
se Tolentino foi pressionado para fazer tal anúncio, algo considerado
despropositado e tempestivo. O mesmo aconteceu junto de sectores mais
ligados ao aparelho do PAICV, para quem “só faltava mais esta” para
fragilizar ainda mais o “sistema” tambarina.
Homem de poucas palavras, ao que tudo
indica, o “desejo” de deixar o executivo era algo tratado,
exclusivamente, entre Tolentino e Neves. “Mais ninguém sabia disso”,
assegurou-nos uma fonte.
RELAÇÕES COM PR
Calcula-se que a saída de Jorge
Tolentino tenha a ver com a deterioração das relações com o Presidente
da República, que é comandante supremo das Forças Armadas, e que não foi
convidado para a cerimónia de promoção dos generais, cerimónia essa
onde o ministro da Defesa Nacional aproveitou para anunciar a sua
indisponibilidade para continuar no Governo. Foi de resto ao comentar as
suas relações institucionais com o PR que Tolentino acabou por soltar
que não gosta de ser ministro, ainda que estando no lugar procura
exercer da “melhor forma o que sabe e pode”, o que mesmo assim não deixa
de ser chocante, tendo em conta as vezes em que esteve na pele de
ministro (ver caixa).
“DESCONSIDERAÇÃO” DO PR
Ademais, esse desabafo teve lugar uma
semana depois de A NAÇÃO ter revelado que, enquanto titular da Defesa,
Jorge Tolentino foi “desconsiderado” por Jorge Carlos Fonseca,
deixando-o completamente à margem da cerimónia de cumprimentos de Ano
Novo pela chefia militar.
Tido como escrupuloso no cumprimento dos
seus deveres, segundo um próximo do governante, este esperava que
diante do artigo do A NAÇÃO o Palácio do Platô ensaiasse, no mínimo, um
desmentido ou um gesto de desagravo. Ora, nem uma coisa nem outra
aconteceu.
E, diante disso também, Tolentino terá
agido em consequência, não convidando o chefe de Estado à cerimónia de
imposição de patentes aos primeiros generais de Cabo Verde,
despedindo-se praticamente do lugar. Sendo a primeira vez que o pais tem
generais, seria de bom tom convidar o comandante supremo das FA para
presidir o acto, ainda que não esteja na Constituição tal prerrogativa,
como não está na mesma Constituição que o ministro da Defesa deva estar
presente nas cerimónias de cumprimento de ano das chefias militares ao
Presidente da República.
SEM ESTÔMAGO PARA “JOGADAS”
Com isso, independentemente da avaliação
que se possa fazer do seu desempenho (é considerado um dos melhores
ministros de Defesa que já passou pelo lugar), Jorge Tolentino terá
querido mostrar que não está agarrado ao lugar, nem tão-pouco tem
estômago para determinadas jogadas ou condutas políticas.
“As pessoas têm que aprender que há quem
esteja na política, neste caso no Governo, com desprendimento”,
comentou um seu amigo de longa data. “O Jorge que eu conheço é um
indivíduo extremamente ético, introvertido e reflexivo, zeloso no
cumprimento dos seus deveres e obrigações, que há vários anos adia os
seus sonhos literários que não são poucos”, conclui a fonte do A NAÇÃOhttp://www.alfa.cv/anacao_online/index.php/politica/4317-renuncia-de-tolentino-precariza-governo
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