segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

CABO VERDE:Renúncia de Tolentino “precariza” Governo


O anúncio, na semana passada, de Jorge Tolentino de querer descer na “próxima estação”, deixando o cargo de ministro da Presidência do Conselho de Ministros e da Defesa Nacional, veio precarizar ainda mais o já por si combalido “comboio” de José Maria Neves. Carlos Veiga, líder da oposição, advoga que diante do quadro criado a única alternativa é o Primeiro-Ministro colocar um substituto no lugar de Tolentino, até uma eventual remodelação governamental.

O desabafo de Jorge Tolentino, algo inédito na política cabo-verdiana, coloca o Governo, em particular o Primeiro-Ministro, José Maria Neves, numa situação delicada. E, conforme uma fonte, num outro momento, José Maria Neves não teria outra saída senão acelerar a marcha do “comboio” por forma a permitir a descida do seu ministro da Defesa Nacional na primeira estação.

Essa hipótese, ao que nos foi explicado também, não está de todo descartada, podendo JMN realizar o mais depressa possível a demissão de Tolentino, colocando a pasta num outro ministro até que a remodelação seja possível.
Esta é de resto a posição defendida pelo presidente do MpD, Carlos Veiga, para quem Tolentino deve ser substituído imediatamente porque “o primeiro-ministro não pode manter no Governo um ministro cansado e desmotivado”.
Por ora, ao que conseguimos apurar, JMN prefere manter a mesma velocidade com que vem conduzido o seu comboio, aguardando pelo próximo congresso do PAICV, que deverá acontecer em Maio, para imprimir mudanças de fundo em todo o sistema tambarina, passando pelo Governo, Grupo Parlamentar e até o próprio partido. Esta semana, no Mindelo, Neves preferiu contudo contornar o problema, afirmando que remodelação governamental não se anuncia, “faz-se”.
DESMOTIVAÇÃO?
A presença de ministro num Governo, contra a sua vontade, segundo o líder do MpD, “não é seguramente um sinal de muita motivação no seio do Governo”. Pelo contrário, alega Carlos Veiga ao A NAÇÃO, “confirma outros sinais de cansaço  de esgotamento e de fim de ciclo do Governo no seu conjunto”.
Mais do que isso, acrescenta Veiga, “mostra um aparente descontentamento que também já terá atingido o interior do executivo em relação ao PM e uma falta de solidariedade no seio dos membros do Governo. Não dá uma imagem de boa relação institucional  com o primeiro-ministro, deixando-o mal colocado”, advoga.

Veiga realça, no entanto, que “no plano puramente pessoal do senhor ministro só há que respeitar a sua decisão. Faz parte dos seus direitos de personalidade. E em termos de ética política é de avaliar positivamente: exercer cargos políticos sem motivação, contrariado ou contra a vontade é que seria condenável”.
PRÓXIMO DE JMN
Tido como um dos colaboradores mais próximos de José Maria Neves, Jorge Tolentino confessou, na passada sexta-feira, não ter nenhum sabor especial em ser ministro, preferindo descer na próxima estação para poder dedicar-se à sua "paixão de sempre", a literatura. "Pedi para descer na próxima estação", disse o diplomata e ministro da Defesa Nacional desde 2011."Quero dedicar-me à minha paixão de sempre, a literatura", acrescentou.
A NAÇÃO sabe que a notícia causou surpresas inclusive no seio do Governo, com alguns colegas a perguntarem se Tolentino foi pressionado para fazer tal anúncio, algo considerado despropositado e tempestivo. O mesmo aconteceu junto de sectores mais ligados ao aparelho do PAICV, para quem “só faltava mais esta” para fragilizar ainda mais o “sistema” tambarina.
Homem de poucas palavras, ao que tudo indica, o “desejo” de deixar o executivo era algo tratado, exclusivamente, entre Tolentino e Neves. “Mais ninguém sabia disso”, assegurou-nos uma fonte.
RELAÇÕES COM PR
Calcula-se que a saída de Jorge Tolentino tenha a ver com a deterioração das relações com o Presidente da República, que é comandante supremo das Forças Armadas, e que não foi convidado para a cerimónia de promoção dos generais, cerimónia essa onde o ministro da Defesa Nacional aproveitou para anunciar a sua indisponibilidade para continuar no Governo. Foi de resto ao comentar as suas relações institucionais com o PR que Tolentino acabou por soltar que não gosta de ser ministro, ainda que estando no lugar procura exercer da “melhor forma o que sabe e pode”, o que mesmo assim não deixa de ser chocante, tendo em conta as vezes em que esteve na pele de ministro (ver caixa).
“DESCONSIDERAÇÃO”  DO PR
Ademais, esse desabafo teve lugar uma semana depois de A NAÇÃO ter revelado que, enquanto titular da Defesa, Jorge Tolentino foi “desconsiderado” por Jorge Carlos Fonseca, deixando-o completamente à margem da cerimónia de cumprimentos de Ano Novo pela chefia militar.
Tido como escrupuloso no cumprimento dos seus deveres, segundo um próximo do governante, este esperava que diante do artigo do A NAÇÃO o Palácio do Platô ensaiasse, no mínimo, um desmentido ou um gesto de desagravo. Ora, nem uma coisa nem outra aconteceu.
E, diante disso também, Tolentino terá agido em consequência, não convidando o chefe de Estado à cerimónia de imposição de patentes aos primeiros generais de Cabo Verde, despedindo-se praticamente do lugar. Sendo a primeira vez que o pais tem generais, seria de bom tom convidar o comandante supremo das FA para presidir o acto, ainda que não esteja na Constituição tal prerrogativa, como não está na mesma Constituição que o ministro da Defesa deva estar presente nas cerimónias de cumprimento de ano das chefias militares ao Presidente da República.
SEM ESTÔMAGO PARA “JOGADAS”
Com isso, independentemente da avaliação que se possa fazer do seu desempenho (é considerado um dos melhores ministros de Defesa que já passou pelo lugar),  Jorge Tolentino terá querido mostrar que não está agarrado ao lugar, nem tão-pouco tem estômago para determinadas jogadas ou condutas políticas.
“As pessoas têm que aprender que há quem esteja na política, neste caso no Governo, com desprendimento”, comentou um seu amigo de longa data. “O Jorge que eu conheço é um indivíduo extremamente ético, introvertido e reflexivo, zeloso no cumprimento dos seus deveres e obrigações, que há vários anos adia os seus sonhos literários que não são poucos”, conclui a fonte do   A NAÇÃO
 http://www.alfa.cv/anacao_online/index.php/politica/4317-renuncia-de-tolentino-precariza-governo

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