As cifras sobre desemprego entre jovens holandeses trazem uma imagem distorcida. Quando se trata de empregos em período integral, a Holanda aparece numa posição muito menos favorável em relação ao resto da Europa do que se costuma afirmar. Uma nova recessão, portanto, pode ser muito dura, alerta Wiemer Salverda, professor da Universidade de Amsterdã que é especialista na área de mercado de trabalho e desigualdades.
Salverda acha que os números sobre o desemprego entre jovens na Holanda estão bastante ‘maquiados’:
“O que torna o mercado de trabalho para jovens na Holanda especial em comparação com outros países é que nós temos muitos ‘pequenos empregos’, de menos de doze horas por semana, ou até menos de quatro horas por semana. Isso existe mais aqui do que em outros países, e estes empregos são contados na força de trabalho. Então, quando você vai levantar a porcentagem de desempregados, parece ser muito mais baixa.”
Insuficiente para a sobrevivência
Se olharmos apenas para jovens com um emprego de pelo menos 35 horas, aí o desemprego de jovens na Holanda é mais de quatro vezes maior. Antes de 2009, chegava a 18%, ao invés dos oficiais 3,9%. O problema é que os países europeus com alto índice de desemprego entre jovens, como Espanha, Itália e França, quase não têm este tipo de emprego de período parcial. Além do mais, jovens desempregados não procuram este tipo de emprego, enfatiza Salverda, pois não conseguem sobreviver com eles.
O economista Ronald Dekker é um pouco mais otimista sobre o mercado de trabalho holandês. Segundo ele, o mais importante é que os jovens ficam desempregados por períodos relativamente curtos.
“Não devemos olhar quantas pessoas estão desempregadas, mas quantas permanecem desempregadas, pois este é o verdadeiro problema. E aí a situação para os jovens é melhor do que aparenta ser. O que, sim, é um problema crescente é o fato de que pessoas em empregos temporários estão tendo mais dificuldade em passar para empregos estáveis.”
Consumo menor
Empregos temporários não têm só a desvantagem de que podem pôr os jovens de novo na rua mais facilmente. Com frequência eles também tornam impossível que se feche um empréstimo bancário ou hipoteca, por exemplo, para comprar casa própria. Com isso os jovens consomem menos e, consequentemente, a economia também cresce menos.
Mas Ronald Dekker não se preocupa muito com a possibilidade de recessão. Por causa do envelhecimento da população, surgirão tantos empregos nos próximos anos que jovens com boa formação devem encontrar trabalho com relativa rapidez.
Continuar os estudos
Também neste ponto Salverda é mais sombrio. Quando a mais recente crise estourou, em 2008, muitos jovens decidiram continuar os estudos por causa da falta de empregos. Este grupo, portanto, não está registrado como desempregado. Mas a experiência indica que, quando a economia se recuperar, eles irão buscar trabalho. Nesta situação, em geral leva mais tempo para que maioria das pessoas consiga um emprego.
Menor carga horária
Um outro problema é que a possibilidade de trabalho expressa em números de empregos aumentou, mas a carga horária total diminuiu 5% nos últimos anos. Empregadores absorveram uma parte do choque da crise permitindo que os funcionários diminuíssem o número de horas de trabalho. Mas numa nova recessão, com perspectivas mais sombrias que a de 2008, esta possibilidade não existirá. Aí haverá mais demissões e isso atinge mais duramente aos jovens.
O professor da área de mercado de trabalho da Universidade de Tilburg, Ton Wilthagen, é um pouco mais otimista. Ele acredita que a Holanda, em parte graças a uma política mais rígida, se sai melhor que a maioria dos países europeus quando se trata de desemprego entre jovens. E mesmo estatísticas ‘maquiadas’ não interferem nisso.
Jovens de baixa formação
“Mas isso não modifica o fato de que existe um grupo bastante grande de desempregados. E entre eles há com frequência jovens com baixa formação e jovens de origem estrangeira. É preciso ter cuidado para que este grupo não fique desempregado por muito tempo, pois isso também é um diferencial da Holanda. Temos baixo índice de desemprego, mas em comparação, por exemplo, com a Suécia, temos desempregados por períodos relativamente longos.”
E justamente este grupo de desempregados por períodos mais longos terá muita dificuldade em suportar uma nova recessão. Além disso, há um exército de jovens desempregados com baixa formação na Europa que quer tentar a sorte na ainda rica Holanda.
Data de publicação : 7 Outubro 2011 - 3:18pm
Por Johan Huizinga (Foto: ANP)
http://www.rnw.nl/portugues/article/desemprego-de-jovens-na-holanda-%C3%A9-maior-que-o-estimado
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