Já só falta mesmo, pode dizer-se, o desafio de se submeter ao crivo dos oito milhões de angolanos inscritos para que o MPLA feche a sua agenda eleitoral no ano de um dos seus mais decisivos embates políticos que, números à parte, tem como meta qualitativa fundamental conservar o poder.
Por mais que se tivesse falado pouco no assunto, transformado, com a maturidade de um partido vitorioso de numerosas crises de coesão ao longo do seu percurso, em debate estritamente interno sem grandes vazamentos para fora, a fixação do número 2 da lista foi acção cozinhada em fogo brando, com pinças laboratoriais, trazida a pulso com a conjugação inteligente de vontades e timings. O partido não só se resguardou de polémicas alheias evitando com arte e mestria a abordagem do assunto nos jornais e na mídia em geral, como fez germinar intramuros as sementes de uma união à volta da questão que, sem ser em absoluto linear, teve contudo firmeza bastante para não torpedear o interesse mais geral que, a uma hora destas, só pode ser o de triunfar nas urnas.
Muito provavelmente os genes de escabrosidade que uma tal escolha concentrou teriam sido suficientes para, noutra formação política que não o MPLA com a sua vocação e sólida estabilidade, conduzi-la pelo caminho das desavenças estrepitosas, como de resto nos têm habituado, para desânimo e deslustre da paisagem política doméstica. As tais “alternativas” de uma incipiência atroz, silenciosas o ano inteiro, e que se desunham e se partem aos pedaços até por questiúnculas tão ridículas como os dinheiros para o carrinho, a lojeca ou o gerador dos líderes e concubinas! O MPLA demonstrou saber colocar-se acima dos escolhos aparentemente fracturantes e, na quarta-feira, como se viu (e sobretudo ouviu em depoimentos no final da reunião do CC), parecia que tudo esteve pensado dessa maneira há anos e que os consensos foram sempre o factor mais presente em todas as abordagens em torno desse dossier, o que na verdade não aconteceu.
Tratou-se efectivamente de um processo paciente, gerido com o necessário sentido de Estado que deve ter, e tem, um partido com a sua vocação e que por nada deste mundo se pode aproximar, nem na ficção sequer, à pálida postura dos que só se levantam em anos eleitorais para reclamar fundos de inscrição ou de campanha. Agiu como lhe competia agir, evitando colisões frontais e privilegiando, o tempo todo, o interesse colectivo e a mística agregadora.
Portanto, este é capítulo encerrado com a mesma subtileza como saltara para a agenda do partido, competindo agora aos diferentes vectores da força que o movem a mobilização para o que há a fazer e se mostra vital: os últimos retoques em tudo, antes da campanha eleitoral que arranca em Julho. Porque as conquistas, já se vê, são necessariamente para fazer fora e dentro das estruturas da organização. O Bureau Político e o CC falaram a uma só voz, líquido é, mas tem-se pela frente algo menos “disciplinável”, a avaliação do MPLA como um todo por parte do eleitorado. Como se intui, uma missão hercúlea que não pode, de modo nenhum, encontrar o partido “entretido” com detalhes desviantes, porque uma eleição é sempre uma eleição, e se alguma dúvida existisse a respeito, que se recorra à prudente declaração do seu Presidente, José Eduardo dos Santos, de há alguns meses, segundo a qual “em eleições não há vitórias antecipadas”.
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