MpD reforça liderança nas autarquias
O PAICV e José Maria Neves, em particular, foram os grandes derrotados destas eleições. Carlos Veiga saboreia a vitória, ele que tem sido o grande obreiro da recuperação do partido das dores de uma derrota nas legislativas que deixaram um incómodo amargo de boca…
Praia, 1 de Julho 2012 – Os resultados, ainda não definitivos, permitem-nos, no entanto, tirar já uma conclusão: o grande vencedor destas eleições autárquicas é o MpD: perde apenas uma câmara (Porto Novo) e ganha três ao adversário (Brava, Paul e Tarrafal de São Nicolau); e o grande derrotado é o PAICV, além de perder três câmaras regista, em quase todos os concelhos do país, uma quebra acentuada de votos, de percentagens e de mandatos.Por arrasto, entre vencedores e vencidos, Carlos Veiga e José Maria Neves são as principais figuras das eleições autárquicas. O líder do MpD, paulatinamente, resgatou o partido da derrota eleitoral das legislativas, mobilizou os militantes, não interferiu no processo de escolha dos candidatos e revelou um partido em crescimento em todas as ilhas.
Do outro lado, o líder do PAICV, não conseguiu superar o “trauma” da derrota nas presidenciais, violou os estatutos do partido, fez tábua rasa da opinião dos militantes e interferiu directamente no processo de escolha dos candidatos, sendo parte central da significativa derrota tambarina, colocando o PAICV numa posição de grande fragilidade.
VENCEDORES E VENCIDOS
No Porto Novo, Rosa Rocha (PAICV) é a “heroína” destas eleições. A sua combatividade, a capacidade de persuasão e o ânimo que transmitiu às “tropas” tambarina no terreno, permitiram-lhe destronar o “barão” Amadeu Cruz (MpD) e dar, praticamente, a única alegria eleitoral do seu partido, resgatando aquele que é considerado um bastião ventoinha.
Em São Vicente, a vitória de Augusto Neves foi um feito algo extraordinário. Desde há apenas um ano à frente da autarquia, sucedendo a uma personalidade da dimensão de Zau, cercado por acusações à câmara (nunca provadas) de corrupção, o cabeça de lista do MpD esmagou Filomena Martins, uma ex-ministra com grande projecção nacional e pessoalmente apoiada e empurrada por José Maria Neves. O autarca do MpD, para além de ter esmagado uma adversária de peso infligiu pesada derrota ao próprio líder do PAICV, dando razão às vozes internas que se insurgiram contra a má escolha, apenas movida pelos interesses pessoais de JMN.
O MpD, regista assinaláveis confirmações de confiança e vitória em São Domingos, onde apresentou candidato novo (Franklin Tavares), e no Tarrafal de Santiago onde o estreante José Pedro Soares derrotou um peso pesado do PAICV (Arnaldo Andrade), ex-ministro de José Maria Neves e antigo embaixador em Lisboa. E estes dois concelhos são emblemáticos da tradicional influência ventoinha, porquanto, mesmo com novas caras, apesar do desgaste da governação municipal, o MpD inflige pesada derrota ao adversário.
ESCOLHAS DE JMN FORAM UM DESASTRE
Na Praia, Nando Moeda regista a maior derrota de todos os tempos do PAICV na capital. Candidato fraco, apostando no populismo, figura de recurso ante a cobardia das personagens de topo que preferiram ficar na retranca, o candidato tambarina não conseguiu mobilizar apoios expressivos à sua candidatura e enterrou o mito da “maioria sociológica” da estrela negra. E, com ele, sai de cabeça baixa Filú que vê reforçada a sua derrota nas eleições de 2008 e arrumadas as suas pretensões à liderança do partido.
Ulisses Correia e Silva demonstrou que o trabalho, a perseverança, o mérito e a disponibilidade para servir a causa pública começam a ser premiados pelos eleitores, cada vez menos vulneráveis ao populismo, à mentira e à calúnia como armas de arremesso político.
Na Brava, o sexagenário Orlando Balla conseguiu esmagar o barão tambarina Camilo Gonçalves, superando mesmo as previsões mais optimistas. Emigrante nos EUA, onde foi durante anos comandante da marinha mercante, Balla aproveitou a circunstância de os bravenses estarem fartos de Camilo, uma outra escolha de José Maria Neves contra vozes internas que preferiam outro candidato.
Em Tarrafal de São Nicolau, o jovem José Freitas conseguiu o feito de destronar o presidente do município (António Soares) e dar mais uma alegria ao MpD, afastando o PAICV de uma autarquia onde pensava estar de pedra e cal. A juventude do candidato e as suas capacidades de mobilização e persuasão foram a receita da vitória ventoinha.
No Paul, a emblemática Vera Almeida (PAICV) já se deve ter arrependido de voltar atrás na intenção de não se recandidatar. António Aleixo (MpD) provou estar melhor colocado, ter ideias mais galvanizadoras e aproveitado a vontade de mudança de um eleitorado cansado de uma edil acomodada e já sem rasgos de inovação.
Em São Filipe, as lutas internas no PAICV beneficiaram Júlio Andrade, o candidato independente apoiado pelo MpD, transformando a câmara numa instituição praticamente ingovernável, onde a oposição passa a ter 11 deputados municipais e o partido tambarina apenas 6. Mais um caso onde a interferência de José Maria Neves deu borrasca, tornando-o corresponsável pela vitória “envenenada” do partido.
A GRANDE INCÓGNITA…
Porém, a grande surpresa da noite foi Santa Cruz, onde Orlando Sanches (PAICV) viu confirmada a recondução como edil. Todas as sondagens davam a vitória a Orlando Dias (MpD). O que se terá passado nos últimos dias, que circunstâncias novas reverteram um dado que parecia adquirido? É uma incógnita que, eventualmente, se esclarecerá no futuro e que releva a necessidade de um combate firme.
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