PRAIA-O apoio do MpD fecha-se à volta da candidatura presidencial de Jorge Carlos Fonseca, em detrimento do outro presidenciável dessa família política, Amílcar Spencer Lopes. O nome de JCF passou com louvor na Comissão Política do partido e no próximo dia 5 de Março vai ao exame final na Direcção Nacional. A este órgão, composto por 50 membros, caberá a última palavra no processo de escolha do candidato que o MpD vai apoiar nas presidenciais de Agosto. Até lá, só uma “cartada política” de última hora por parte de Carlos Veiga balançaria o apoio ventoinha a Jorge Carlos Fonseca. Fontes de A Semana dizem que “o pragmatismo político” levou a maioria dos membros da Comissão Política a optar pelo projecto presidencial de Jorge Carlos Fonseca (Zona), em detrimento de Amílcar Spencer Lopes (Miquinhas). É que a candidatura à Presidência da República de Zona está na estrada há mais tempo, e tem grupos de apoio no país e no estrangeiro. Mais: o jurisconsulto já passou pela experiência de encarar uma campanha presidencial em 2001, pelo que acarreta menos “desgastes políticos” ao partido num momento em que a maior preocupação vai ser o ano que vem, autárquicas de 2012.
Mesmo do ponto de vista financeiro, pontuam interlocutores deste jornal, a candidatura de Zona ao Palácio do Plateau convém mais ao partido ventoinha do que a de Miquinhas. “Sendo um jurisconsulto bem sucedido, Fonseca terá mais meios para suportar a sua própria campanha presidencial do que Spencer Lopes. E nesta altura convém ao MpD apoiar um candidato que não dependerá tanto do financiamento do partido, até porque os ventoinhas acabam de sair de uma campanha para as legislativas em que fizeram gastos avultados, pelo que estão com dívidas por pagar que vão muito além dos cerca de 71 mil contos que receberão do Estado em forma de subvenção pelos mais de 94 mil votos conquistados nas legislativas ”.
Avaliados esses ponderáveis, Miquinhas perde terreno nesta disputa pelo apoio do MpD, quanto mais não seja porque a sua possível candidatura à sucessão de Pedro Pires dependeria muito mais do suporte político e financeiro do partido. Nesta ordem de razões, a balança pende claramente para o lado de Zona na Comissão Política, e por isso também o seu projecto presidencial vai à Direcção Nacional do dia 5 de Março com uma boa base para arrebatar, em definitivo, o apoio do MpD.
“Factor” Veiga e as autárquicas
Só que há ainda um “factor de peso” a ter em conta neste processo: as ideias de Carlos Veiga. Não se conhece a indicação de voto do presidente do MpD e sabidas que são as “disputas de protagonismo público” entre Carlos Veiga e Jorge Carlos Fonseca desde a década de noventa, é natural que o primeiro não “morra de amores” pela candidatura do segundo. Tanto assim é que desde que Zona “reclamou” o amparo MpD nesta corrida ao Palácio do Plateau, Veiga nunca demonstrou qualquer “ternura pública” pelo desejo do seu colega de profissão ser Presidente da República. Aliás, nos bastidores comenta-se que o líder ventoinha terá incentivado Spencer Lopes a entrar também nessa corrida, para descentrar os holofotes mediáticos da anunciada candidatura de JCF.
Olhando para o panorama actual, em que Miquinhas perdeu terreno para Zona, há quem não descarte a hipótese de ainda à última hora o Veiga tirar o seu coelho da cartola e, no decorrer da DN, lançar uma candidatura surpresa – uma pessoa do seu círculo mas que não pertence ao núcleo-duro do partido – como alternativa às duas já anunciadas.
Entretanto, muitos emepedistas abordados por este jornal dizem não acreditar que Veiga vá forjar uma candidatura surpresa nesta altura do campeonato, não só porque esta já viria tarde, como poderia causar um “fru-fru” desnecessário no seio do MpD, quando o partido almeja sobretudo “restabelecer-se” da derrota legislativa para “atacar” as autárquicas. Aliás, essa “pessoa” que Veiga talhou para o lugar só entraria em cena, caso o MpD tivesse ganho as legislativas. Aí, sim, Veiga precisaria do seu homem de confiança na PR, quanto mais não seja porque ele já provou na pele como um PR demasiado “legalista” pode atrapalhar os planos políticos de uma Governação – os últimos anos de convivência com o presidente António Mascarenhas Monteiro – 1999 e 2000 – ainda estão frescos na memória de todos.
“Veiga tinha um plano de, caso vencesse as legislativas, colocar Mário Silva como presidente da Assembleia Nacional e avançar com a proposta de ter uma pessoa da sua estrita confiança pessoal na corrida presidencial. Assim a tríade estaria completa – ele primeiro-ministro; Silva no comando da AN e essa tal pessoa amiga na PR – que lhe daria a garantia de fazer um mandato tranquilo. Só que, com a derrota eleitoral, o seu projecto desfez-se e não terá a força política para impor uma candidatura aos restantes membros da DN”, analisa uma fonte deste jornal.
Não tendo Veiga “essa força determinante”, o que passa a valer é o voto dos membros da DN: é este que irá escolher o candidato apoiado pelo MpD nas presidenciais de Agosto deste ano. Ou seja, quem conseguir 26 ou mais votos na DN garante o apoio ventoinha nesta corrida à chefia do Estado. E aqui, conforme um analista, o “empurrão de Mário Silva e seu grupo pode revelar-se fundamental para o Zona pois, sendo certo que nenhum dos candidatos vai participar na DN, valerá o lobby que cada um mobilizar antes da reunião”. O certo é que boa franja do MpD quer clarificar a questão presidencial quanto antes, para poderem abrir caminho ao que realmente interessa ao partido nesta altura: as autárquicas. De resto, embora não seja o foco principal da DN do próximo dia 5, as eleições municipais não devem fugir à pauta da reunião porque, diante da derrota, com mais de 23 mil votos de desvantagem em relação ao PAICV, muitos dirigentes do MpD dizem que é hora de reorganizar o partido para recuperar o terreno em municípios onde os adversários cresceram bastante – casos da Praia, São Vicente, Santa Catarina e Porto Novo. Manter o poder nestes municípios tornou-se questão de “honra”, quanto mais não seja para minimizar os “estragos das legislativas” nos principais centros urbanos (Praia e São Vicente, onde o MpD perdeu por mais de 7 mil e 3 mil votos, respectivamente).
Aliás, já há candidatos a posicionar-se, nomeadamente em São Vicente, onde a corrida à sucessão de Isaura Gomes na Câmara está a decorrer a “ritmo acelerado”. Augusto Neves, que até Maio substitui Zau – com o mandato suspenso para fazer tratamento médico –, mostrou-se disponível esta semana. Mas também nos corredores se perfilam nomes como João Gomes (actual presidente da Assembleia Municipal) e de outros militantes do partido ventoinha. Panorama similar está a desenhar-se em Santa Catarina, autarquia onde o edil Francisco Tavares está em rota de colisão com vários vereadores do seu próprio partido – já anunciou que não se recandidata ao cargo. É mais uma batata-quente que o MpD tem em mãos para descascar, até porque a “estrondosa derrota” em Santa Catarina, nas eleições do passado dia 6, serviu para demonstrar que algo vai muito mal no reino que é o município onde o MpD é poder local.
Não menos inquietante é a situação política de Ulisses Correia e Silva, na Praia. O autarca envolveu-se de corpo e alma nas legislativas para ajudar o partido, mas saiu-se bastante mal, pois no município onde governa, o MpD perdeu por uma diferença superior a 7 mil votos. Contas feitas, Correia e Silva tem muito e árduo chão a percorrer para, em pouco mais de um ano reverter o quadro. Diante de tudo isso, o MpD não estará muito propenso a gastar as suas baterias nas presidenciais, quando as autárquicas estão aqui à porta: faltam 14 meses, é muito pouco tempo para inverter o plano inclinado em que os ventoinhas se encontram em praticamente quase todos os círculos eleitorais (autárquicas). O partido pode sim colocar a “sua máquina” à disposição do candidato presidencial escolhido na DN, fazer trabalho no terreno durante a campanha, mas sem comprometer-se grandemente, sobretudo do ponto de vista financeiro. A prioridade é mobilizar dinheiro para pagar os empréstimos contraídos maioritariamente no estrangeiro, para financiar a campanha das legislativas e deixar o partido o menos endividado possível antes das autárquicas. Só assim o MpD poderá captar novos recursos para financiar as eleições locais, que se adivinham árduas e decisivas para o futuro político do próprio partido, que corre o risco “muito sério” de desaparecer do poder em Cabo Verde
http://asemana.sapo.cv/spip.php?article61793&ak=1
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