BERLIM-A chanceler alemã, Angela Merkel, admitiu hoje que, sem o euro, a Alemanha teria tido mais dificuldades em superar a crise económica e financeira internacional e ficaria à mercê das oscilações cambiais na Europa, o seu principal mercado.
"Se não tivéssemos o euro durante esta crise, um país exportador como a Alemanha seria muito, muito influenciado pelas turbulências cambiais no nosso principal mercado, a Europa", disse a chefe do Governo germânico em Berlim, durante o debate sobre o orçamento do Estado para 2011.
A crise também mostrou, na opinião de Merkel, que a solidez dos orçamentos nacionais e os potenciais de crescimento na União Europeia "não estão bem distribuídos" e que vários países não respeitaram os princípios do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC).
Merkel acusou depois a oposição social-democrata (SPD) de ter "falhado historicamente" em duas ocasiões, no que se refere à protecção da moeda única. Lembrou então que o anterior chanceler Gerhard Schroeder, em 2004, "suavizou" o PEC, "contra a opinião do próprio ministro das Finanças". O segundo episódio, mais recente, foi a abstenção do SPD na votação no Parlamento alemão para aprovar o fundo de resgate do euro, considerado essencial para ultrapassar a crise da dívida pública que afecta alguns países, sobretudo a Grécia. "Esperávamos que, pelo menos, nos tivessem ajudado a defender os interesses da Alemanha nas negociações com a Grécia sobre a protecção do euro", afirmou Merkel, dirigindo-se à bancada do maior partido da oposição.
No mesmo contexto, a chanceler lembrou que levou dois meses para "convencer a Europa de que primeiro os países-membros tinham de poupar" e só depois devem beneficiar da solidariedade comunitária. "Se nos tivessem ajudado, talvez tudo tivesse sido mais rápido", disse Merkel ao líder da oposição, Sigmar Gabriel.
No que se refere à regulação dos mercados financeiros, na sequência da crise, a dirigente conservadora afirmou que o processo "ainda não está no fim, apesar de se ter conseguido alguma coisa". Lembrou, neste contexto, que já há uma supervisão europeia, e que, apesar de ter sido criticada a nível internacional, a Alemanha avançou com medidas para regular os chamados derivados financeiros (short selling). "Esperamos agora que a União Europeia também regule devidamente os derivados", acrescentou a chanceler.
Além disso, Berlim continuará a empenhar-se a favor de um imposto internacional sobre transacções financeiras e prosseguirá conversações com países mais reticentes para encontrar um denominador comum, anunciou Merkel. "Mantemos o credo de que todos os produtos, todos os actores e todos os participantes no mercado financeiro têm de ser sujeitos a regulação", garantiu ainda.
OJE/LUSA
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