PRAIA-Pela primeira vez na história da comunicação social de Cabo Verde, a televisão pública acolheu um debate entre os líderes das principais forças políticas do país. José Maria Neves (PAICV), Carlos Veiga (MpD), João do Rosário (PTS) e António Monteiro (UCID) abordaram oito temas relativos à realidade nacional e apresentaram as suas propostas políticas. João Além do PSD, Partido Social Democrático, que concorre em três círculos eleitorais não fez parte deste debate.
Durante duas horas os líderes de quatro dos cinco partidos que concorrem às legislativas apresentaram as suas ideias políticas e debateram oito temas relativos à realidade cabo-verdiana.
Os temas
Foram propostos pelos próprios candidatos, cada um tinha direito a sugerir dois temas para debate, que depois foram seleccionados pelos jornalistas moderadores - Rui Almeida da Televisão de Cabo Verde (TCV) e Joana Olinda Miranda (RCV), ambos Chefes do Departamento de Informação dos órgãos que representam – que apresentaram também sugestões. No final os temas escolhidos foram estes: energia e água; desemprego; educação; segurança e combate à criminalidade; regionalização; protecção social; saúde; modernização e competitividade.
A participação
Cada participante teve direito a 2 min. e 30 seg. de resposta às questões colocadas e 45 seg. de réplica. À tarde houve um sorteio na TCV que permitiu a escolha da ordem de participação inicial que acabou por ser a seguinte: PAICV – UCID – MpD – PTC. Ao longo do debate, a ordem de participação foi-se alternando rotativamente.
Os candidatos
Os participantes ficaram posicionados de pé em semi-círculo, sendo que a ordem da esquerda para a direita foi a seguinte: José Maria Neves, António Monteiro, Carlos Veiga e João do Rosário. Todos os candidatos apresentaram-se vestidos com fato e gravata. No caso do representante do PAICV a cor da gravata escolhida foi vermelho. No caso do MpD, gravata era de cor verde. É de salientar que ambos os candidatos traziam trajes semelhantes aos usados nas capas dos respectivos livros biográficos. O candidato da UCID foi o único que levou o computador portátil para o palco do debate, os restantes participantes optaram pelas folhas de papel. João do Rosário foi o único líder que fez questão em falar crioulo.
O debate
Cada candidato teve rigorosamente 2 min. e 30 seg. para apresentar as suas respostas às questões escolhidas para debate. A seguir às respostas os candidatos tinham 45 seg. para réplicas.
As críticas mais duras surgiram do lado do MpD ao PAICV e vice-versa. O líder do Movimento para a Democracia trouxe dados relativos ao alegado mau desempenho do actual governo e apostou na mensagem de mudança, slogan desta campanha para as legislativas. O PAICV por sua vez apresentou estatísticas relativas ao desenvolvimento e crescimento positivo do país e reafirmou a mensagem da continuidade política.
A UCID, que concorre a 10 círculos eleitorais, apesar de reconhecer alguns pontos positivos no desempenho do actual governo também teceu críticas e apresentou novas ideias de governação, em que o investimento na formação de quadros seria uma alternativa. O PTS, concorre em cinco círculos eleitorais, que apostou forte na divulgação de suas ideias políticas, nomeadamente a aposta na regionalização, que João do Rosário afirmou ser Onésimo Silveira, fundador do partido, o primeiro a incentivar este conceito em Cabo Verde.
Energia e água
José Maria Neves afirmou que o actual governo investiu mais de sete milhões de contos nos últimos anos no sector em causa.” Electrificamos 95 por cento do país”, afirmou o líder do PAICV. JMN salientou ainda a aposta nas energias renováveis. Carlos Veiga por seu lado afirmou que houve quase 4 mil apagões em Cabo Verde em oito anos. O líder ventoinha criticou ainda a forma como é feita a aposta nas energias renováveis. António Monteiro contrapôs que o problema está “na falta de capacitação de quadros” e na “falta de investimento na manutenção (da Electra)”. O PTS defendeu uma aposta ainda maior nas energias renováveis, nomeadamente na iluminação pública feita com base na energia solar.
Desemprego
A UCID apontou o dedo ao Governo por não ter reduzido a taxa de desemprego na medida como tinha prometido e apresentou a aposta na economia privada como uma solução ao problema em causa. O MpD também referiu o incumprimento da promessa de diminuição da taxa de desemprego e prometeu criar, caso vença as eleições mais 35 mil postos de trabalho e duplicar a taxa de crescimento do país nos próximos cinco anos. O PTS sugeriu a aposta na indústria ligeira e o fim do imposto de consumo especial como algumas alternativas ao flagelo. O PAICV admitiu que o desemprego continua a ser um dos principais problemas mas reafirmou que “há que seguir a mesma estratégia” de combate ao desemprego.
Educação
Neste tema, Carlos Veiga foi bastante duro nas críticas afirmando que há (em Cabo Verde) 16 mil jovens fora do sistema (educativo). O líder do MpD falou ainda na baixa qualidade do ensino cabo-verdiano e prometeu instituir 50 bolsas de estudo nas melhores universidades do mundo para estudantes nacionais. O PAICV ripostou de imediato para afirmar que neste momento existem 11 mil alunos nos 10 estabelecimentos de ensino superior a nível nacional, que há mais 17 liceus com mais de 50 mil alunos e questionou o MpD sobre a abolição das bolsas de estudo aquando da sua governação. O PTS por seu lado sugeriu a criação de uma Academia do Desporto, enquanto uma ideia inovadora em termos de formação. João do Rosário falou ainda na descentralização do ensino superior. António Monteiro também afirmou que o actual sistema “falhou” e propôs a aposta nas línguas estrangeiras no ensino básico para aumentar a qualidade do ensino nacional.
Segurança e combate à criminalidade
O PTS mostrou-se preocupado com a delinquência juvenil no país. João do Rosário indicou a criação de uma plataforma de afecto, ligada à Igreja, enquanto uma possível alternativa ao flagelo. O PAICV por seu lado, referiu a “grande aposta” que foi feita na mudança da Polícia Nacional e de outros órgãos de segurança. A UCID apontou a política de polícia de proximidade como uma solução para o problema. Já o MpD afirmou que “as forças de segurança não cumprem o seu papel porque não existem condições (para tal)”.
Regionalização
Neste tema todos os partidos pareceram concordar com a necessidade de uma aposta neste sector para o desenvolvimento nacional. José Maria Neves prometeu reforçar o municipalismo e dar mais poder às ilhas. Tanto a UCID como o PTS sugeriram a criação de duas câmaras para além do governo central. A UCID falou em Câmara Baixa e Câmara de Representantes, o PTS sugeriu um Senado para além da Assembleia Nacional. O MpD acusou o governo actual de bloquear o poder municipal e afirmou que há pastas que deveriam ser retiradas da administração central para serem da tutela das próprias autarquias.
Protecção social
O projecto “Casa para Todos” e o salário mínimo foram os itens mais abordados dentro deste tema. O MpD propôs criar um Fundo Imobiliário para solucionar o actual problema habitacional. O PTS falou em casas – oficinas como alternativas exploradas pelos outros países. A UCID salientou o facto das habitações sociais terem as condições mínimas para serem “habitáveis”. O PAICV referiu as linhas de crédito existentes para a habitação social, bem como a aposta numa política de solos de modo a garantir a implementação eficaz do projecto em causa.
Saúde
Neste domínio o MpD defendeu um sistema misto (privado e público) e sugeriu, entre outras ideias, a aposta no turismo de saúde, com o investimento adequado para tal. O PTS salientou os avanços no sector, mas referiu que ainda “há pessoas que não têm acesso à saúde (em Cabo Verde) e defendeu ainda o prolongamento do horário de funcionamento das delegacias de saúde.” José Maria Neves prometeu continuar a apostar no sector e referiu ainda a a compra de dois helicópteros para a evacuação de doentes inter-ilhas e a criação de um centro de hemodiálise nacional como projectos a cumprir. António Monteiro voltou a sublinhar a aposta na formação/qualificação como obrigatória para o desenvolvimento do sector e propôs um hospital de referência na Praia, um hospital no Fogo e uma nova delegacia de saúde na Brava.
Modernização e competitividade
Foi o último tema abordado onde os partidos defenderam as principais ideias para a modernização e reforço da competitividade. O PTS defendeu novamente a regionalização, as energias renováveis e a produção nacional. O PAICV também apoiou a regionalização, o “empoderamento” das pessoas, a aposta nos transportes inter-ilhas e deixou a mensagem de continuidade do investimento e desenvolvimento feito até então. A UCID voltou a reforçar a ideia da formação, bem como a aposta na ciência, na tecnologia e na inovação. O MpD defendeu a criação de parques científico-tecnológicos, a política de céu aberto, a convergência com a União Europeia, entre outros, e deixou o apelo à mudança como nota final.
Outros debates agendados
Dos outros dois debates que têm lugar na TCV, um acontece no próximo dia 16 de Janeiro, domingo, com os líderes da UCID e do PTS, o outro é no dia 18 de Janeiro, terça-feira. Segundo avança a TCV a condução desses debates vai ser feita pelos jornalistas Álvaro Ludjero Andrade da TCV e Carlos Santos da RTC, ambos directores dos respectivos órgãos.
Praia em polvorosa
Durante o debate que aconteceu nas instalações da TCV, vários apoiantes dos dois maiores partidos cabo-verdianos posicionaram-se em frente à televisão pública para prestar apoio aos respectivos líderes. Com o fim do debate, os apoiantes de bandeiras em punho acompanharam os respectivos líderes às residenciais oficiais, Meio de Achada – Carlos Veiga, e Prainha – José Maria Neves. A festa continuou um pouco pelas ruas da capital com manifestações de ambos os lados.
http://noticias.sapo.cv/info/artigo/1121475.html
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