A Polícia Judiciária portuguesa anunciou esta quinta-feira a detenção do proprietário de uma agência de viagens que burlou centenas de pessoas na venda de voos para Cabo Verde. De acordo com a PJ, o suspeito utilizou uma empresa - a Abrimar - para vender um elevado número de passagens aéreas apesar de saber que os compradores não os poderiam utilizar, perante o incumprimento dos pagamentos acordados pela sua empresa com a companhia de aviação que era suposto fazer as ligações aéreas.
A Lusa escreve que o detido terá vendido centenas de viagens de
ida e volta a Cabo Verde e muitas pessoas não conseguiram embarcar nos aviões em
Portugal e as que o fizeram, mais tarde, não conseguiram regressar.
O homem, de nacionalidade cabo-verdiana, tem antecedentes
criminais e estava "impedido de celebrar contratos e de renovar documentos de
identificação" em Portugal, avançou ainda a fonte. O cabo-verdiano, de 48 anos,
está indiciado por burla qualificada a um número ainda não determinado de
pessoas e pelo menos a duas sociedades comerciais, em crimes que atingem várias
centenas de milhares de euros.
A 25 de Agosto, dezenas de pessoas ficaram retidas em Cabo Verde
devido ao cancelamento de voos de uma companhia aérea, uma vez que a agência de
viagens que teria vendido as passagens, encerrou.
26 Outubro 2012
26 Outubro 2012
http://asemana.sapo.cv/spip.php?article81483&ak=1
Centenas de passageiros burlados: Agência Abrimar fecha as portas e White Airways cancela voos
Centenas de passageiros burlados: Agência Abrimar fecha as portas e White Airways cancela voos
Duas centenas de pessoas que compraram passagens de ida e volta Cabo Verde – Portugal nas agências Abrimar, em Lisboa, para viajar em voos da White Airways ficaram em terra. São na maioria emigrantes e estudantes em férias que foram aliciados com passagens de baixo custo mais 50 quilos de bagagem, mas o barato saiu-lhes caro. A charter White Airways cancelou os voos e a Abrimar está incomunicável. Em Cabo Verde, quer as agências de viagens quer os ministérios das Comunidades e das Relações Exteriores já lavaram as mãos. Para a Agência do Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) esta é, de facto, uma situação-limite, mas diz não saber a quem os passageiros lesados devem recorrer.
Por: Constânça de Pina
Carla Tavares, emigrante há 10 anos em Portugal, é um dos rostos
do desespero. Construiu a sua vida em terras lusas, mas este Verão resolveu
voltar ao seu querido Cabo Verde com as três filhas para gozar umas merecidas
férias. Agora quer retornar a Portugal, para trabalhar, e embora de passagem na
mão não consegue viajar porque a White Airways cancelou todas as ligações para
Portugal. Inconformados, na quarta-feira, dezenas de passageiros que estão na
mesma situação de Carla Tavares invadiram as instalações da agência Aliança
Kriola, numa última tentativa de dar a volta a uma situação que já parece
irremediável.
“Vim para Cabo Verde no dia 3 e deveria regressar no dia 31. Hoje
vim confirmar o meu regresso e informaram-me que já não haverá mais voos.
Telefonei para a Abrimar, mas ninguém atende. O meu marido, que está em
Portugal, foi à agência e encontrou-a de portas fechadas. Por acaso, esbarrou no
dono da agência num transporte público, questionou-o e este lhe disse que
devíamos dirigir-nos à Aliança Kriola, em Cabo Verde, que resolveria tudo. Mas
aqui disseram-nos que se limitaram a vender os bilhetes”, conta Carla Tavares
cujo caso nem sequer é o mais grave.
Diariamente dezenas de passageiros, em alguns casos famílias
inteiras, deslocam-se ao Aeroporto Internacional da Praia para tentar embarcar.
Muitos vêm do interior de Santiago, o que implica elevados gastos com transporte
e alimentação, pois permanecem ali o dia inteiro à espreita de uma oportunidade
para viajar. Mas também há muitos estudantes que vão iniciar o ano lectivo nos
primeiros dias de Setembro. “Há famílias de sete pessoas que vieram de férias,
investiram o seu dinheiro em obras nas suas casas e em encomendas para os
familiares. Agora não têm um tostão para comprar a passagem de regresso, o que
vão fazer esses pobres coitados? Também temos estudantes em férias que compraram
as suas passagens com muito esforço e agora não têm condições para sequer
adquirir um segundo bilhete de passagem. A situação é complicada”, diz Sérgio
Querido, da agência Cabetour.
O problema assume contornos desastrosos, até de direitos humanos,
quando se sabe que estão metidas nessa “embrulhada” muita gente com poucos
recursos e formação – muitos deles trabalhadores braçais que não sabem a quem
dirigir-se, não têm dinheiro para contratar um advogado, estão longe de Portugal
–, que correm o risco de ficar para sempre em Cabo Verde, por falta de recursos
para voltar a Portugal. Mais: com a crise que se vive hoje naquele país, onde os
despedimentos são o pão de cada dia, a probabilidade de não encontrarem trabalho
quando para lá voltarem é muito grande.
E a “afronta” é dos dois lados porque daqui de Cabo Verde partiram
muitos passageiros que agora estão em Portugal a fazer contas à vida para ver
como podem regressar. Enfim, neste “caçubody” generalizado aplicado por uma
empresa portuguesa que não aparece registada em nenhum lado – a Associação
portuguesa de Agências de Viagens e Turismo já disse que não conhece nenhum
sócio com esse nome –, ninguém escapou. Até as duas agências de viagens
caboverdianas que por cá deram a cara pelo negócio – Aliança Kriola e uma outra
da Calheta estão agora a amargar os prejuízos: venderam os bilhetes, pagaram à
Abrimar e agora chupam o dedo a enfrentar um grande desgaste da sua imagem,
analisa Querido.
Este operador diz compreender a aflição dos passageiros, mas
lembra que a Aliança Kriola foi igualmente enganada pela Abrimar. “A Aliança
Kriola limitou-se a vender alguns bilhetes, assim como fizeram outras agências.
Não tem qualquer responsabilidade neste caso, mas arranjou bilhetes em outras
companhias aéreas para os seus clientes a fim de evitar ser acusada de
conivência. Ou seja, as empresas cabo-verdianas estão a ser responsabilizadas
pela vigarice de uma agência de viagem que é portuguesa”, considera Sérgio
Querido.
Os voos da White Airways são muitos procurados pela comunidade
cabo-verdiana, explica este operador, porque vende passagens abaixo da tabela
praticada pelas companhias aéreas de carreira. A TACV e a TAP, por exemplo,
estavam a vender bilhetes por 87 mil escudos, incluindo as taxas, mas os
passageiros da White Airways pagaram apenas 530 euros, ou seja, 58.300 escudos,
e ainda tinham direito a transportar 50 quilos de bagagem. “Era um grande
chamariz e os primeiros voos vieram todos cheios. Depois começaram os
cancelamentos e as desresponsabilizações”, lembra Sérgio Querido.
Voos cancelados
Três voos programados para os dias 10, 17 e 24 de Agosto foram
cancelados. E não há confirmação se o voo do dia 31 vai acontecer. O primeiro
cancelamento mereceu destaque na RTP África e indiciou aos passageiros dos voos
agendados para os dias seguintes que algo não ia bem. E o pior aconteceu: 57
passageiros estiveram vários dias no aeroporto de Lisboa à espera do voo da
White Airways que os devia trazer à cidade da Praia. Queixavam-se sobretudo da
falta de informação e do desrespeito por parte da agência Abrimar.
A White Airways justificou o cancelamento do voo com incumprimento
do acordo por parte da Abrimar. Esta, por sua vez, garantiu à Associação
Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo (APAVT) que iria reembolsar os
passageiros que ficaram sem viajar para Cabo Verde. Entretanto, no dia 20, a
Abrimar colocou no seu site um comunicado em que admitia que o cancelamento do
voo do dia 10 com destino à cidade da Praia causou muitos incómodos aos
passageiros, mas ao mesmo tempo ilibava a companhia aérea de qualquer
responsabilidade.
Além disso, na mesma nota, a Abrimar explicava que o cancelamento
do voo do dia 10, após a realização de uma ligação no dia 3 em que se bateu o
recorde de passageiros, deveu-se a “interferências de origem desconhecida junto
dos passageiros, tendo-lhes sido transmitido que não haveria voo nesse dia”.
Mais, face ao número reduzido de passageiros que ainda se dispuseram a viajar, e
consumado o cancelamento, a Abrimar explica que contratou lugares em voos
alternativos e, nesse mesmo dia, viajaram cerca de 30 pessoas. Os restantes
seguiram um dia depois. Quanto aos outros voos entretanto cancelados – nos dias
17 e 24 - nenhuma palavra.
Autoridades desresponsabilizam-se: “Este é um
caso comercial”
As autoridades cabo-verdianas garantem que estão a acompanhar pela
imprensa o drama destes cabo-verdianos que foram burlados pela Abrimar. Os
ministérios das Relações Exteriores e das Comunidades desresponsabilizam-se, no
entanto, alegando que este é um caso “puramente comercial”. Entretanto, admitem
que poderão agir caso os visados solicitem apoio consular. Já a embaixadora de
Cabo Verde em Portugal, Madalena Neves, de acordo com a assessoria de imprensa
do Mirex, foi informada sobre esta situação pelo próprio ministro, depois de
este ter sido abordado pelo jornal A Semana.
De acordo com o assessor de imprensa do Mirex, essa situação –
passageiros que não puderam viajar porque a White Airways cancelou os voos em
que deviam seguir para Praia e Lisboa – é um problema que deve ser resolvido
entre os passageiros lesados e as agências de viagem, inclusive com recurso aos
tribunais. “O Mirex só vai agir a partir do momento em que os lesados
solicitarem apoio consular directamente ao Ministério ou à nossa embaixada em
Portugal”, diz Jorge Martins, para quem o caso ainda não chegou à esfera das
relações entre os Estados de Cabo Verde e Portugal.
Igual entendimento tem o Ministério das Comunidades. Fernanda
Fernandes, também através da sua assessoria, mandou dizer que o assunto deve ser
tratado junto das agências de viagem que venderam os bilhetes.
Apesar de se mostrar sensível ao problema e admitir que esta “é
uma situação limite”, o director da Agência para o Investimento e Comércio
Externo de Portugal (AICEP) em Cabo Verde, Armindo Rios, prefere explicar que
todos os dias há no seu país dezenas de empresas que fecham as portas por causa
da crise e que a agência de viagens Abrimar será apenas mais uma.
“A White Airways é uma companhia aérea charter que provavelmente
não recebeu o dinheiro das passagens da agência e optou por deixar os
passageiros em terra. Quanto à Abrimar duvido que seja sócia da Associação
Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo, que poderia obrigá-los a assumir as
suas responsabilidades para com os passageiros. Diante disto, não sei a que
autoridade ou entidade os passageiros poderão recorrer para resolver esta
situação”, conclui Rios.
A Abrimar Travel, refira-se, apresenta-se no seu site oficial –
abrimaronline.com – como organizadora de viagens, concebendo e comercializando
pacotes turísticos, além de ser intermediária na venda de bilhetes de avião,
cruzeiros, alojamentos, rent-a-car. Também comercializa produtos turísticos
através da Internet, fornecendo aos consumidores informações sobre preços
competitivos, simplicidade e comodidade.
26 Agosto 2012
26 Agosto 2012
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