Segundo Carlos Moura, um dos integrantes do grupo e antigo presidente do Instituto Palmares, a viagem visa descobrir as raízes africanas, mas também promover o encontro de culturas.
PRAIA- Um grupo de brasileiros do Estado do Maranhão descendentes de escravos africanos (quilombolas) chegou, sexta-feira, a Cabo Verde, no âmbito de uma viagem a países africanos para redescobrir e sentir de perto as suas origens culturais e sociais.
A viagem deste grupo de descendentes dos escravos que fugiram para as montanhas desse Estado brasileiro no século XVII para se libertarem da escravatura, realiza-se no quadro de um projeto intitulado "O percurso dos Quilombos: de África para o Brasil e o regresso às origens".
Trata-se de uma iniciativa do Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF), sediado em Lisboa (Portugal), e de três parceiros internacionais, incluindo a Plataforma das Organizações não Governamentais (ONG) de Cabo Verde.
A viagem dos quilombolas por terras africanas vai prolongar-se até dia 01 de Dezembro, e pretende apoiar a capacitação das Associações Culturais Quilombolas, promover o legado cultural Quilombola, principalmente junto das gerações mais jovens, e sensibilizar à contribuição da sua cultura para a diversidade cultural mundial.
Segundo Carlos Moura, um dos integrantes do grupo e antigo presidente do Instituto Palmares, a viagem visa descobrir as raízes africanas, mas também promover o encontro de culturas e de irmãos na perspetiva de se estreitarem muito mais os laços entre esses povos.
"Viemos buscar ou reforçar a nossa identidade com os nossos irmãos africanos. E, mais que isso, também viemos agradecer aos nossos irmãos de África por tudo aquilo que levaram para o Brasil, do ponto de vista do conhecimento, da cultura, do trabalho e da espiritualidade", disse.
Ainda na sexta-feira, os 22 quilombolas do Maranhão foram recebidos pelo Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires.
Na ocasião, o chefe de Estado cabo-verdiano defendeu que os atores do movimento abolicionista no Brasil foram aqueles que resistiram, que se recusaram a aceitar a dominação, a humilhação e a sua redução à condição de "coisa".
"Não quer dizer que as igrejas, as pessoas de bem não tivessem feito alguma coisa. Fizeram, mas nesse combate pela nossa dignidade nós é que somos os atores principais e não os outros", explicou.
Pedro Pires defendeu ainda que é necessário investigar para conhecer o processo de resistência, porque apenas "a história da colonização, que justifica os atos cometidos na altura da escravatura, está registada, em detrimento da história da resistência".
Pedro Pires instou ainda os descendentes de escravos a combater e eliminar o fenómeno da alienação, que faz com que esses descendentes, "os Cabo-verdianos por exemplo, muitas vezes tenham complexo das suas raízes africanas".
Antes de chegar à capital cabo-verdiana, Praia, os quilombolas passaram pala Guiné-Bissau, onde visitaram o forte de Cacheu, ponto de partida de escravos africanos rumo a Maranhão, via Cabo Verde.
No arquipélago, o grupo visitou também a Cidade Velha, na ilha de Santiago, entreposto de escravos africanos enviados para as Américas.
FONTE:AFRICA21 com Panapress(27/11/2010)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentar com elegância e com respeito para o próximo.