AMSTERDAM-O iraniano de 36 anos que ateou fogo em si mesmo na última quarta-feira, no centro de Amsterdã, tinha falado sobre seus planos de suicídio no abrigo de asilados onde vivia. Mas “a Holanda não lhe ofereceu nenhuma ajuda”, segundo disse seu amigo, o também iraniano Parvis Noshirrani, em entrevista à televisão holandesa. Na quinta-feira, a vítima faleceu em consequência dos ferimentos.
“Ele estava cheio. Já não aguentava mais a situação. Vagar por aí, dormir aqui e ali. Sem status, sem passaporte, sem futuro. Se ele voltasse para o Irã, talvez não tivesse um destino diferente. Ele tinha medo de ser preso e executado”, disse Parvis Noshirrani ao programa de televisão Nieuwsuur.
Drama
Noshirrani teve que dar a má notícia à família de seu amigo no Irã. O drama no centro de Amsterdã foi registrado em imagens chocantes.
Roustayi ficou onze anos na Holanda esperando ser expatriado. Segundo ele, tinha fugido para a Holanda porque havia publicado artigos no Irã que puseram o dedo na ferida das autoridades. Mas seus pedidos de asilo sempre foram rejeitados.
O advogado Frank van Haren, que representava Roustayi, percebeu que seu cliente começou a ter problemas psíquicos.
“Ele deixava transparecer isso claramente quando me olhava fixamente por muito tempo. Ou às vezes, no meio de uma conversa na qual ainda estávamos em processo construtivo, de repente dizer: ‘isso não vai dar em nada, nem você acredita’. Havia muitos sinais nos quais se podia reconhecer isto.”
Morte anunciada
Na última conversa de Roustayi com funcionários do abrigo de asilados, no dia 25 de março, ele anunciou seu suicídio. Mas segundo seu amigo Noshirrani, ele não foi levado a sério e não houve nenhum tipo de ajuda. No início desta semana Roustayi queria pular na frente de um trem, mas Noshirrani conseguiu convencê-lo a não fazer isso.
O advogado Van Haren também tem muitas críticas ao governo holandês. Pode ser certo recusar um pedido de asilo e que o governo tente expatriar a pessoa, diz ele, “mas se oito ou dez anos depois você ainda a mantém aqui e vê que está sendo destruída, a ponto de já não existir como pessoa, mas apenas como um corpo, aí vem um momento em que o governo tem que assumir a sua responsabilidade. Não se pode simplesmente apontar para a porta de saída.”
Sem misericórdia
Roustayi tinha um objetivo claro com seu ato de desespero, diz o amigo Parvis Noshirrani.
“Ele queria pôr fim a própria vida para salvar a vida de outros. Há muita gente em abrigos de asilados, muita gente que é expatriada sem misericórdia.”
O ministro da Imigração e Asilo, Gerd Leers, disse que a morte de Roustayi foi “uma tragédia”, mas afirma que todos os procedimentos foram realizados corretamente e que o iraniano tinha todos os recursos legais a sua disposição.
Situação imprópria
A embaixada iraniana em Haia disse lamentar que um cidadão iraniano se sinta tão pressionado num país estrangeiro a ponto de ser levado à morte. Nas palavras do Irã, ‘a situação imprópria de imigrantes’ na Holanda tem que ser melhorada. Segundo a embaixada, este é o segundo caso de morte de um iraniano em uma semana. Não está claro qual seria o primeiro caso. Até o fechamento desta matéria, a embaixada iraniana não estava acessível para comentários.
RNW-Por Johan van der Tol (Foto: Niewsuur)
http://www.rnw.nl/portugues/article/%E2%80%9Cholanda-n%C3%A3o-ofereceu-nenhuma-ajuda%E2%80%9D
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