sexta-feira, 16 de março de 2012

CV(ASemana):ENTREVISTA COM CARLOS VEIGA-LIDER DO MPD

Carlos veiga explica escolhas de cabeça-de-lista: “Não se pode agradar a todos” 
  O líder do MpD garante que o seu partido parte “mais forte para as próximas eleições autárquicas”. Refutando, assim, as críticas sobre o processo de escolha dos cabeças de lista dos ventoinhas. Carlos Veiga diz que o MpD não só deverá manter as Câmaras que ganhou em 2008, como irá vencer outras que hoje estão nas mãos do PAICV – Paul, Santa Cruz, São Nicolau e Fogo. E se perder? “Os militantes terão oportunidade de se pronunciar sobre a minha continuidade na liderança do partido na próxima Convenção”, afirma Veiga, nesta entrevista exclusiva ao A Semana Terça-Feira.

 Entrevista: Hermínio Silves A Semana
 – Quais são, nesta altura, as perspectivas do MpD em relação ás eleições autárquicas deste ano?
 Carlos Veiga – As perspectivas são boas. O que sentimos no terreno e as sondagens confirmam é que podemos manter os municípios ganhos em 2008 e ganhar noutros municípios.
  Quando diz que o MpD vai manter as Câmaras onde é poder e ganhar outras autarquias está a referir-se a que municípios, concretamente? Ou seja, o MpD espera tomar que Câmaras ao PAICV?
Em princípio vamos a todas para ganhar. É claro que há concelhos que nos são mais fáceis de ganhar e outros nem tanto. Em todo o caso, pensamos que temos grandes hipóteses de vencer em São Nicolau, no Paul e Santa Cruz, onde já fomos poder, e também no Fogo. Aqui, pela primeira vez o MpD pode vir a gerir uma Câmara. Tudo vai depender da dinâmica de campanha.
  Os cabeças de lista escolhidos são os que, sinceramente, desejaria?
A minha preferência individual não é relevante. Faço parte de um colectivo. As decisões foram tomadas nesse colectivo sempre por consenso. Sinto-me à-vontade e confiante com todos os nossos candidatos. Quais são os concelhos onde o MpD terá maiores dificuldades para vencer? E onde está com mais à-vontade?
Não há, nem haverá eleições fáceis. Todas serão difíceis. Será preciso lutar, e muito, em todos os concelhos. E como o partido está mobilizado, estou confiante. Se nos deixarem, tentaremos ganhar em todos os concelhos. Mas sabemos que, à partida, nada está ganho e tudo deve ser conquistado com esforço, dedicação e sacrifício, também em todos os concelhos.
  Para o seu partido qual seria a melhor data para as eleições autárquicas?
Não temos preferências. Entre 17 de Maio e 17 de Julho estamos preparados. No entanto, cremos que não seria bom para o país e para o ambiente eleitoral desejável por todos que as eleições ocorressem no período das festas juninas e das festas da Independência. O que importa mais é criarmos um ambiente eleitoral saudável para que os munícipes possam exercer livremente o seu direito de voto. Estamos abertos para discutir um código de ética com o PAICV. Seria mais um passo no sentido de, efectivamente, merecermos os elogios internacionais que nos são atribuídos.
  Ao sugerir que a data das eleições não coincidam com o período das festas juninas e o aniversário da Independência está a posicionar-se na mesma linha do PR. Afinal, têm razão os que acusam Jorge Carlos Fonseca de estar a defender os interesses do MpD pressionando o governo e interferindo em assuntos que não são da sua competência. 
 O Presidente da República tem todo o direito de emitir opiniões. E cada órgão tem de exercer aquilo que é sua competência. Portanto, evitar as eleições no período das festas juninas e do aniversário da Independência nacional é apenas uma questão de bom senso.
  Em 2008 o MpD teve uma grande vitória autárquica. E 2012, é para repetir?
Para repetir, consolidar e aumentar. Tudo dependerá dos nossos militantes. Creio estarem motivados e unidos…
Que argumentos vai apresentar para convencer os militantes descontentes a entrarem de corpo e alma na campanha?
No MpD o que sentimos é que os militantes têm sim as suas preferências, mas na altura certa vão votar. As pessoas confiam no partido e sabem que as escolhas feitas foram em consonância com as estruturas locais. E isso demonstra que os militantes estão com o MpD.
  Tendo em conta os resultados das últimas eleições legislativas teme vir a perder algumas das principais Câmaras do país, como São Vicente, Sal ou Santa Catarina de Santiago, onde o PAICV teve melhor score eleitoral? 
 São eleições diferentes. Além disso, depois das legislativas tivemos as presidenciais em que o desempenho do partido foi muito bom. Também porque aprendemos com os erros. Por isso, porque temos bons candidatos e porque estamos a trabalhar bem, motivados e mobilizados, não temo perder qualquer dos municípios hoje geridos por equipas do MpD ou apoiadas por ele.
E na Praia, o cabeça de lista do PAICV pode incomodar ou aqui o MpD já canta vitória? Respeitamos todos os adversários. Mas temos um grande cabeça de lista para a Praia. Com provas dadas, em condições muito difíceis. Os praienses estão a comprovar. No término do primeiro mandato, é notório que a Cidade da Praia recuperou a sua auto-estima. Hoje, todos reconhecem que a Praia está paulatinamente a transformar-se numa verdadeira capital após vários anos de um desmazelo inqualificável na gestão camarária. Não podemos regressar a esses tempos. O MpD sempre entendeu que num Estado de direito democrático governa-se com regras e Ulisses Correia e Silva demonstrou-o de forma inegável nos últimos quatro anos. Provou também que o MpD tem soluções para os principais problemas do país. Para transformar a Praia na capital que todos aspiramos, é necessário que o Governo não só faça a sua parte, especialmente no que toca à segurança, mas também que abandone a sua postura de guerrilha institucional permanente. O Sr. Primeiro-Ministro terá que demonstrar alguma coerência com os rasgados elogios que teceu à edilidade praiense por ocasião das festividades do 19 de Maio.
São Filipe, no Fogo, foi sempre um outsider nas ambições do MpD. Será desta que o seu partido vai ganhar esta CM?
 Temos vindo a melhorar em São Filipe. Temos um excelente cabeça de lista e uma excelente lista. Além disso, há o desgaste normal da gestão PAICV. Vamos lutar para ganhar. O que sentimos no terreno é que isso é possível. Estou convencido que, desta vez, os munícipes de São Filipe saberão exercitar o seu sentido crítico e avaliar que a sua persistência em eleger candidatos de uma única cor política não lhes tem trazido o progresso almejado.
  Nalguns municípios o MpD deparou-se com muitas dificuldades para encontrar um cabeça de lista para a CM, sendo São Domingos e Tarrafal os casos mais gritantes. Considera que a decisão tardia de Fernando Jorge Borges e João Domingos em não concorrer a novo mandato traiu os objectivos do MpD nesses concelhos? 
 Fernando Jorge Borges e João Domingos foram excelentes autarcas e ganhadores natos. Se concorressem de novo ganhariam sem margem para dúvidas. Pelo seu mérito. Por isso, os militantes insistiram para que tentássemos demovê-los da posição que nos haviam comunicado tempestivamente. Mas apresentaram razões inultrapassáveis. Como partido estamos muito gratos e também orgulhosos pelo que fizeram, como autarcas, nos dois municípios. Consideramo-los dois grandes dirigentes do partido e Homens, com H grande. O seu prestígio junto dos eleitores é fruto da relação que com eles estabeleceram e do trabalho abnegado realizado. Face à realidade de que não iam mesmo continuar, foi preciso ouvir as estruturas locais e militantes de referência, bem como os eleitores em geral, sem pressas e com toda a tranquilidade. Um ou outro percalço, pontual, foi empolado pela comunicação social. No seio de quem tinha de decidir, tudo foi consensual e objectivo. Escolhemos bem. Conseguimos escolher bons candidatos, num entendimento muito bom com as estruturas locais e a generalidade dos nossos militantes. Isso é uma garantia de vitória, pois vamos ter todo o partido localmente mobilizado para apoiar os candidatos.
  A Comunicação social não empolou a situação em São Domingos e Tarrafal. Há, de facto, muita contestação de militantes e simpatizantes do MpD pelas escolha feita, é só ver os fóruns online ou contactar as bases. E o que salta à vista é que quer Franklin Tavares, para são Domingos, quer José Pedro Soares, foram solução de recurso que não agradou a muita gente do MpD. 
 Não é bem assim. Todas as pessoas queriam Fernando Jorge em São Domingos e João Domingos no Tarrafal. Eles apresentaram razões pessoais inultrapassáveis, pelo que não podem concorrer a novo mandato como era pretensão do MpD. Mas as pessoas que foram escolhidas para concorrer em São Domingos e Tarrafal não se sentem menorizados por isso. Pelo contrário, os dois candidatos, Franklin Tavares e José Pedro Soares, sentem-se honrados por encabeçar a lista do MpD para a Câmara. Eles foram escolha das próprias estruturas locais e aprovados pela Comissão Politica Nacional por decisão colegial.
  Fernando Jorge e João Domingos vão participar activamente na campanha? 
 Teremos Fernando Jorge e João Domingos, como dirigentes do partido, a participar na linha da frente. Por isso digo, Tarrafal e São Domingos são para ganhar e é com esse espírito que vamos para as eleições. Não estamos mais fracos, mas sim mais fortes.
  Não acha que estaria a promover o caciquismo se tivesse convencido Fernando Jorge Borges e João Domingos Correia a se recandidatarem, ou mantendo Manuel Ribeiro no Maio, José Pinto Almeida na Boa Vista? Não se vê renovação no partido. 
 Eles não são caciques. Esta é uma ideia errada. Quer Fernando Jorge quer João Domingos são autarcas que por mérito próprio continuaram a merecer a confiança do eleitorado. O facto de não quererem ir às eleições deste ano só mostra que não são apegados ao poder. O mesmo se passa com Manuel Ribeiro no Maio e José Pinto Almeida na Boa Vista. Se fosse por eles, tinham saído antes. Mas o seu eleitorado, que conquistaram pelo trabalho, dedicação e empenho na Câmara, é que exigem a sua continuidade à frente dos respectivos municípios.
  Parece que nalguns concelhos o MpD vai ter de enfrentar a oposição não só do PAICV como de candidatos independentes, ex-militantes do seu partido como João Dono no Maio e Moisés Monteiro em Santa Catarina. Eles são empecilhos para os objectivos do MpD? 
Não é a primeira vez que isso acontece connosco. Mas ganhámos antes e vamos ganhar agora. Está ao nosso alcance. Como disse, respeitamos todos os nossos adversários. Mas estamos confiantes, tanto em Santa Catarina, como no Maio.
  O MpD vai expulsar João Dono e, já agora, Moisés Monteiro, como o coordenador autárquico do partido, José Luís Livramento chegou a ameaçar? 
 Eles é que disseram que vão sair. Se vão concorrer como independente têm que deixar o MpD, até porque esta é uma imposição do Código Eleitoral. Quanto ao seu regresso, na altura certa os órgãos do partido irão decidir. Podem ser aceites ou não, esta decisão caberá aos militantes. Mas isso é uma situação normal no MpD, houve gente que saiu e depois regressou. O MpD não é estalinista, as pessoas saem e voltam. É normal, desde que os órgãos assim o entendam. Mas, naturalmente, que nenhuma organização como um partido politico pode admitir que seus militantes concorram contra si. Se o fizerem têm que deixar o partido. Tendo em conta o tempo que resta até às eleições, o seu partido vai ainda a tempo de formar todas as listas para a CM e AM nos 21 municípios onde concorre com candidato próprio?
À vontade. Já estamos a trabalhar há muito. Temos uma comissão coordenadora a nível nacional há vários meses e estruturas locais já a funcionar. Tudo está bem encaminhado. Faremos a Convenção Autárquica em Abril em São Vicente com as listas totalmente prontas, a logística montada e as estruturas de campanha em actividade.
  Muitas regras pré-estabelecias pela Comissão Politica para este período de pré-campanha não foram respeitadas (apresentação de candidatos até Dezembro, resultado das sondagens como critério-base para a escolha dos candidatos) e o processo de escolha dos cabeças de lista foi muito criticado. O que aconteceu, de facto? O MpD está desorganizado? 
 Não compartilho dessas opiniões. Em finais de Dezembro já tínhamos escolhido a quase totalidade dos cabeças de lista para as câmaras municipais. Estávamos convencidos que Tarrafal e São Domingos também estavam resolvidos, acabou por haver um recuo na situação. Mas o prazo de Dezembro sempre foi meramente indicativo, pois que sempre poderiam surgir situações imprevistas . Quanto a sondagens, todos os candidatos escolhidos foram efectivamente sondados. Mas nunca dissemos que a sondagem era o único critério. A opinião das estruturas concelhias era também muitíssimo importante. Conseguimos garantir que os candidatos apresentados, além de sondados, tenham o suporte generalizado das estruturas locais e dos militantes de base, além de terem o consenso praticamente unânime da comissão política nacional e das estruturas regionais, onde elas existem. A não ser num ou noutro caso, estou satisfeito com a forma como decorreu o processo, nesta sua fase a mais difícil.
  Os próprios militantes do MpD denunciam alguma desorganização do partido em todo o processo. E culpam-no a si. 
 Não concordo que tenha havido desorganização. Antes pelo contrário. Aliás, não ouvi muitos militantes a dizer isso. Não se pode agradar a todos e isso é normal. Claro que, também, é sempre possível fazer melhor e acho que a experiência actual vai permitir adoptar, na próxima Convenção, soluções que evitem a indefinição que ocorreu em alguns concelhos, onde os candidatos se recandidatam depois de alguns mandatos. Como Presidente do partido serei sempre o principal responsável pelo que não correr bem. E, como sempre, assumirei as minhas responsabilidades, reconhecendo as falhas e procurando corrigi-las. Mas volto a frisar que em todo o processo as decisões foram sempre colegiais, como mandam os estatutos, e consensuais.
  A sua liderança estará em risco em caso de derrota do MpD nestas autárquicas? 
 Terá de perguntar aos militantes do partido, que, aliás, terão a oportunidade de se pronunciar por ocasião da próxima Convenção e das directas que acontecerão até ao final do primeiro trimestre do próximo ano, como decidiu, sob minha proposta, a última Direcção Nacional. Este não é o momento para pensar nisso. O MpD é um partido maduro e com bases fortes. As bases foram sempre a nossa força motriz. Saberão sempre encontrar os melhores caminhos. Estou confiante de que o partido vai ganhar e vai lutar para ganhar. Quando acontecerá a Convenção ordinária do MpD? 
 A Convenção ordinária não poderá ser antes das autárquicas. Porque o mandato da actual direcção nacional só termina em finais de Outubro. Será entre Novembro deste ano e Março de 2013. Foi a recomendação que a Direcção Nacional me fez.
  Vai concorrer novamente à liderança do partido? 
 Voltar a candidatar-me? Depois das autárquicas pensarei nisso.
  O debate sobre o Poder Local no Parlamento voltou a dar em nada, com os deputados e o próprio governo a repetirem velhos discursos de mais descentralização, desconcentração, etc. Tem novas propostas para a reforma do municipalismo em Cabo Verde? 
 Em primeiro lugar, defendemos uma descentralização que signifique mais poder em termos de recursos financeiros e patrimoniais. Esperamos até que nos próximos tempos os municípios tenham, efectivamente, mais recursos como se anunciou. Mas creio que já é tempo de pararmos para o pais começar a discutir, com seriedade, a regionalização e descentralização infra-municipal, como forma de aproximar o poder às pessoas. E do meu ponto de vista – digo do meu, porque não foi socializada no MpD – defendo a regionalização por ilhas. O Primeiro-ministro, quando me ouviu lançar esta ideia num Workshop sobre a matéria, foi logo contra. Parece que agora está a aproximar o seu discurso para esta linha de raciocínio, o que é muito bom.
http://asemana.sapo.cv/spip.php?article73949&ak=1

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentar com elegância e com respeito para o próximo.