O Primeiro-ministro teve repetidos encontros com “amigos” envolvidos neste processo de tráfico de droga, com “pequenas”, lagostas, percebes, ostras, “groguinhos” e negócios pelo meio. A denúncia foi feita por um dos arguidos detido em São Martinho, que refere também alegadas ligações do ministro José Maria Veiga aos negócios de Paulo Pereira e Ivone Semedo
“Não esperava isso de José Maria Neves, pessoa com quem convivi várias vezes, quer em casa dele, quer em restaurantes e discotecas, como o Cockpit e tantas outras da capital do país”, lamenta Naiss o abandono e a ingratidão do seu “amigo” JMN.
De acordo com Quirino dos Santos, as últimas declarações públicas do Primeiro-ministro, em Janeiro último, à saída de uma visita que efetuava às instalações da Polícia Judiciária - em que teceu “considerações possessas” sobre os detidos na Cadeia de São Martinho, por alegado envolvimento no caso “Lancha Voadora” -, deixam-no absolutamente desapontado, já que o considerava um “amigo” de vários momentos de ócio.
TUDO BONS “AMIGOS”…
“A primeira vez que conheci José Maria Neves foi, num convívio à noite na Cidade Velha. Estava acompanhado dos seus guarda-costas. Comemos lagostas ao jantar, na companhia do nosso amigo José Júnior Gonçalves (DJoy). Eu e JMN conversámos bastante durante o jantar, perguntou-me sobre a minha origem e quem eram os meus familiares. Ele estava acompanhado de uma ‘piquena’, a quem eu fui apresentado”, conta Naiss, num discurso híbrido entre o crioulo cabo-verdiano e o neerlandez do país onde nasceu, a Holanda.
Durante o convívio no Fogo D’África, segundo Naiss, o grupo de amigos, do qual fazia parte o chefe do Governo, dividiu-se em dois e distribuído em duas mesas. Porém, com permanentes contactos entre si.
Às tantas resolvemos ir ao Cockpit. Mas antes contactámos a gerência do estabelecimento, para saber se havia condições de segurança, já que o Primeiro-ministro pretendia visitar aquele espaço”, explica Quirino Santos.
Foi durante o convívio no Cockpit que José Maria Neves confessou a Naiss, que era amigo de Ivone Semedo – mãe de Paulo Semedo, preso na primeira operação “Lancha Voadora”, em Outubro de 2011. “No Cockpit, Zé Maria disse-me que era amigo de Dona Ivone, pois conhecia-a desde criança, em Santa Catarina. Que ficava em casa da mãe da Dona Ivone, enquanto a sua ia vender doces e rebuçados. Por isso, sugeriu-me que dissesse à Dona Ivone para preparar um prato, para irmos comer em casa dela”, afirma Naiss.
Voltaram a encontrar-se, pela segunda vez, depois de combinado - Naiss, Djoy Gonçalves e o Primeiro-ministro -, justamente, na Cidade Velha. Desta feita com a presença de portugueses e o pai do Djoy, José Gonçalves. “A segunda vez que estive com Zé Maria foi num restaurante, em Cidade Velha. Estava eu, Djoy, o pai, Zé Gonçalves, e mais uns portugueses. O Djoy chamou-o e ele foi ter connosco na Cidade Velha”, continua o recluso, sublinhando que, durante o jantar, Zé Maria falava aos portugueses das obras que construiu desde que está no Governo.
Da lista dos amigos de Naiss consta, ainda, o empresário Jorge Spencer Lima – Scapa - e o falecido Ivan. “Estivemos ainda num jantar no Cockpit, aquando da inauguração do restaurante, que deveria ser presidida por Primeiro-ministro. Nesse convívio estavam também presentes, ainda, Scapa, Ivan, eu, Djoy e o Zé Maria”, confirma Naiss, afirmando que ele e o Djoy são amigos e estavam juntos “vinte e quatro sobre vinte e quatro horas”.
Por tudo isso e porque sabe que o PM sabe de muitas outras coisas, o recluso estranha a atitude de José Maria Neves ao proteger o seu ministro José Maria Veiga, que também construiu um grande prédio pertencente a familiares de Paulo e Ivone Semedo. Dessa construção, o ministro Veiga recebeu avultada soma em dinheiro vivo e, curiosamente, até este momento, ainda não foi ouvido no processo do caso “Lancha Voadora”, apesar de a PJ estar na posse de “documentos comprometedores”.
Recorde-se que a operação "Lancha Voadora" tornou-se pública a 8 de Outubro, quando a PJ fez a maior apreensão de droga de sempre no arquipélago: 1,5 toneladas de cocaína em elevado estado de pureza, deteve três indivíduos – que se encontram em prisão preventiva -, apreendeu milhares de euros, milhões de escudos cabo-verdianos em notas, bem como outras moedas. A Polícia Judiciária confiscou, ainda, cinco viaturas topo de gama, três jipes, duas “pick-up”, uma moto aquática e uma “moto-quatro”, além de algumas armas de guerra.
http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=35401&idSeccao=542&Action=noticia
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