sexta-feira, 16 de março de 2012

CV(Liberal):DETIDO DESAPONTADO COM O “AMIGO” JOSÉ MARIA NEVES

Caso “Lancha Voadora” 
O Primeiro-ministro teve repetidos encontros com “amigos” envolvidos neste processo de tráfico de droga, com “pequenas”, lagostas, percebes, ostras, “groguinhos” e negócios pelo meio. A denúncia foi feita por um dos arguidos detido em São Martinho, que refere também alegadas ligações do ministro José Maria Veiga aos negócios de Paulo Pereira e Ivone Semedo

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Praia, 15 de Março 2012 – Os encontros de “amigos” repetiram-se entre a Cidade Velha, Fogo d’África, Cockpit e nas residências de José Maria Neves, no Palmarejo e na Prainha. O caso “Lancha Voadora” ganha, assim, novos contornos. É que depois da defesa de Veríssimo Pinto ter ameaçado divulgar peças processuais, onde constam nomes de “altas individualidades” deste país, por considerar que tem havido violação de segredo de justiça, aparece agora Quirino Manuel dos Santos (Naiss) - detido na Cadeia Central de São Martinho, na sequência da operação “Lancha Voadora”, em Outubro de 2011 - desapontado com a postura do Primeiro-ministro, José Maria Neves, seu “amigo de peito”, que vem sentenciá-lo, na praça pública, ainda antes da decisão judicial.
“Não esperava isso de José Maria Neves, pessoa com quem convivi várias vezes, quer em casa dele, quer em restaurantes e discotecas, como o Cockpit e tantas outras da capital do país”, lamenta Naiss o abandono e a ingratidão do seu “amigo” JMN.
De acordo com Quirino dos Santos, as últimas declarações públicas do Primeiro-ministro, em Janeiro último, à saída de uma visita que efetuava às instalações da Polícia Judiciária - em que teceu “considerações possessas” sobre os detidos na Cadeia de São Martinho, por alegado envolvimento no caso “Lancha Voadora” -, deixam-no absolutamente desapontado, já que o considerava um “amigo” de vários momentos de ócio.
TUDO BONS “AMIGOS”…
“A primeira vez que conheci José Maria Neves foi, num convívio à noite na Cidade Velha. Estava acompanhado dos seus guarda-costas. Comemos lagostas ao jantar, na companhia do nosso amigo José Júnior Gonçalves (DJoy). Eu e JMN conversámos bastante durante o jantar, perguntou-me sobre a minha origem e quem eram os meus familiares. Ele estava acompanhado de uma ‘piquena’, a quem eu fui apresentado”, conta Naiss, num discurso híbrido entre o crioulo cabo-verdiano e o neerlandez do país onde nasceu, a Holanda.

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Mas o convívio, a que se refere Quirino dos Santos, não acabou nessa noite em Cidade Velha. Continuou pela noite dentro, desta feita com a visita à antiga residência do Primeiro-ministro, em Palmarejo. “De regresso à Praia, convidou-nos a conhecer a sua antiga casa, em Palmarejo, mas disse-nos que estava ali por pouco tempo, já que ia mudar, brevemente, para a sua nova residência na Prainha. Quando chegámos, fomos convidados a entrar e a tomar uma bebida. Apresentou-nos uma aguardente e acabámos, cada um, por beber um cálice. Ficámos em casa de JMN, durante algum tempo, até que ele manifestou interesse em ir para o Fogo D’África [uma espécie de pub situado em Tira Chapéu, arredores da cidade da Praia]. Mas um outro amigo estava interessado em ir ao Cockpit, ao invés de Fogo D’África. Perante a indecisão no seio de grupo, entre ir ou não ir, JMN chamou mais um guarda-costas, que se encontrava em casa, para o acompanhar ao Fogo D’África”, assevera Naiss, acrescentando que do grupo de “amigos” faziam parte Ivan – militar que faleceu recentemente na Praia -, Djoy de Zé Gonçalves, e mais duas pessoas cujo nome não se recorda.
Durante o convívio no Fogo D’África, segundo Naiss, o grupo de amigos, do qual fazia parte o chefe do Governo, dividiu-se em dois e distribuído em duas mesas. Porém, com permanentes contactos entre si.
Às tantas resolvemos ir ao Cockpit. Mas antes contactámos a gerência do estabelecimento, para saber se havia condições de segurança, já que o Primeiro-ministro pretendia visitar aquele espaço”, explica Quirino Santos.
Foi durante o convívio no Cockpit que José Maria Neves confessou a Naiss, que era amigo de Ivone Semedo – mãe de Paulo Semedo, preso na primeira operação “Lancha Voadora”, em Outubro de 2011. “No Cockpit, Zé Maria disse-me que era amigo de Dona Ivone, pois conhecia-a desde criança, em Santa Catarina. Que ficava em casa da mãe da Dona Ivone, enquanto a sua ia vender doces e rebuçados. Por isso, sugeriu-me que dissesse à Dona Ivone para preparar um prato, para irmos comer em casa dela”, afirma Naiss.
Voltaram a encontrar-se, pela segunda vez, depois de combinado - Naiss, Djoy Gonçalves e o Primeiro-ministro -, justamente, na Cidade Velha. Desta feita com a presença de portugueses e o pai do Djoy, José Gonçalves. “A segunda vez que estive com Zé Maria foi num restaurante, em Cidade Velha. Estava eu, Djoy, o pai, Zé Gonçalves, e mais uns portugueses. O Djoy chamou-o e ele foi ter connosco na Cidade Velha”, continua o recluso, sublinhando que, durante o jantar, Zé Maria falava aos portugueses das obras que construiu desde que está no Governo.
Da lista dos amigos de Naiss consta, ainda, o empresário Jorge Spencer Lima – Scapa - e o falecido Ivan. “Estivemos ainda num jantar no Cockpit, aquando da inauguração do restaurante, que deveria ser presidida por Primeiro-ministro. Nesse convívio estavam também presentes, ainda, Scapa, Ivan, eu, Djoy e o Zé Maria”, confirma Naiss, afirmando que ele e o Djoy são amigos e estavam juntos “vinte e quatro sobre vinte e quatro horas”.

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O momento alto da relação entre o Primeiro-ministro e o recluso Quirino dos Santos, foi quando o chefe do Governo convidou Naiss para conhecer a sua nova residência, na Prainha. “Eu e o Djoy fomos convidados para comer umas ostras e percebes enviados da Guiné-Bissau pelo Scapa. Quando nos aproximámos da porta de entrada da residência do Zé Maria, aparece a esposa que me perguntou quem eu era, ao que lhe respondi que eu era Manuel. Retorquiu, perguntando-me se não tinha nenhum ‘nominho’, respondi que era conhecido por Naiss. Foi então que ela exclamou, de forma entusiasta: Ahahah! É bó quê Naiss!?”. Conta que depois dessa exclamação, ele e o Djoy foram acompanhados pela esposa de JMN, até ao quintal, onde decorria o convívio.
Por tudo isso e porque sabe que o PM sabe de muitas outras coisas, o recluso estranha a atitude de José Maria Neves ao proteger o seu ministro José Maria Veiga, que também construiu um grande prédio pertencente a familiares de Paulo e Ivone Semedo. Dessa construção, o ministro Veiga recebeu avultada soma em dinheiro vivo e, curiosamente, até este momento, ainda não foi ouvido no processo do caso “Lancha Voadora”, apesar de a PJ estar na posse de “documentos comprometedores”.
Recorde-se que a operação "Lancha Voadora" tornou-se pública a 8 de Outubro, quando a PJ fez a maior apreensão de droga de sempre no arquipélago: 1,5 toneladas de cocaína em elevado estado de pureza, deteve três indivíduos – que se encontram em prisão preventiva -, apreendeu milhares de euros, milhões de escudos cabo-verdianos em notas, bem como outras moedas. A Polícia Judiciária confiscou, ainda, cinco viaturas topo de gama, três jipes, duas “pick-up”, uma moto aquática e uma “moto-quatro”, além de algumas armas de guerra.
http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=35401&idSeccao=542&Action=noticia

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