O agrupamento musical “Rabasa” tem como peças nucleares os irmãos João, Jorge, Tó e Angelito Ortet, todos residentes na cidade de Roterdão na Holanda.
Rabasa é o nome de uma velha fonte de água perto de Rui Vaz. Esta fonte de água teve um papel importante na infância dos irmãos Ortet.
A Rádio Atlântico na senda de outras entrevistas do género feitas anteriormente aproveitou para ouvir o Líder carismático do Grupo figura bastante conceituada dentro da nossa comunidade João Ortet para a conversa que se segue.
RÁDIO ATLÂNTICO: Quando é que o Grupo Rabasa foi criado e por iniciativa de quem?
JOÃO ORTET: O grupo Rabasa foi criado em 1997, em Roterdão, pelos irmãos Ortet.
RA: Porquê a escolha de um nome tão exótico para o Grupo e perguntava-lhe se tem algum significado especial?
JO: Rabasa é o nome de uma velha fonte de água perto de Rui Vaz. Esta fonte de água teve um papel importante na infância dos irmãos Ortet. O nome Rabasa é, por isso, símbolo da fonte rica de tradições musicais cabo-verdianas que formam a base e inspiração para o repertório de Rabasa.
RA: Além dos irmãos Ortet fazem parte outros elementos. Podiam citar os nomes e como base em que critérios escolhem os membros para a vossa Banda? Será com base no conhecimento da música ou a amizade é o que interessa mais?
JO: Rabasa também provém de Roterdão. O aspecto multicultural desta cidade reencontra-se na ocupação da banda Rabasa, da qual, além dos irmãos Ortet, fazem parte a cantora Teresa Fernandes, oriunda de S. Lourenço dos Órgãos (Santiago), o jovem talentoso músico Cabo-Verdiano Paulo Bouwman, o trompetista Kabiné Traoré (Tagus), oriundo da Guiné Conakry e o percussionista nascido em Roterdão, Hans de Lange. O conhecimento da música é essencial e a amizade vem, como sempre, com o tempo. Nesse aspecto estamos contentes com ambos os aspectos dentro do grupo.
RA: A música entrou nas vossas vidas através da Igreja católica ou por influência de alguém?
JO: Nós fomos inspirados pelos irmãos mais velhos, Emanuel e Lindo. Começamos a fazer música desde tenra idade. Tocávamos música e fazíamos teatro na igreja e aí começamos a aprender os segredos da profissão, não só com os irmãos, mas também tocando com os mais velhos da povoação.
RA: O vosso agrupamento musical já tem no mercado 3 produções discográficas “Rabasa” (de 1999), “Pertu di Bo” (de 2004) e Portucabo (2008).
Está previsto a saída de algum trabalho vosso a curto prazo?
JO: Neste momento estamos a trabalhar para o próximo CD. Para nós é muito importante planear com muita antecedência já que todos os elementos do grupo, com excepção do Tagus (Trompetista), exercem outra profissão. Estamos a pensar em ter o trabalho pronto no decorrer de 2011.
RA: A vossa forma de tocar privilegia mais o acústico com recursos a instrumentos como a guitarra, o cavaquinho, o acordeão (Gaita), trompete e percussão. Sentem mais confortável actuando e trabalhando a música cabo-verdiana desta forma?
JO: Foi a escolha que fizemos deste o início do grupo e continuamos a apostar nesta forma porque pensamos que é a melhor maneira de tocar a música tradicional de Cabo Verde.
RA: Hoje em dia discute-se muito se o Zouk Love é música de Cabo Verde. Qual é a opinião dos irmãos Ortet a esse respeito?
JO: Há muitas formas de apresentar a música de Cabo Verde. Quem toca e defende essa opinião deve continuar a promover a nossa bela cultura. Posso acrescentar ainda que baseado nos estudos feitos sobre a música de Cabo Verde nota-se que praticamente todos os géneros sofreram influências do exterior. O zouk, de uma forma geral, está neste momento a receber uma influência importante dos músicos cabo-verdianos e quiçá num futuro próximo teremos um estilo cabo-verdiano nascido dessas influências.
RA: Há um discurso político muito em voga em Cabo Verde, que diz que a música bem explorada pode ser uma importante fonte de riqueza para Cabo Verde. Comunga dessa opinião? O que o Governo deve fazer para tornar esse “produto música de Cabo Verde”uma fonte de riqueza para o País?
JO: Claro que sim. O governo deve continuar a apoiar a nossa cultura e como todo o povo Cabo-verdiano tentar levar, cada vez mais, a nossa cultura para os quatro cantos do mundo e se houver uma boa política cultural a médio/longo prazo haverá um retorno financeiro importante para o processo do desenvolvimento do nosso País. Para que isso aconteça os responsáveis pela área da cultura devem apostar cada vez mais na formação do pessoal que lida com a cultura coisa que actualmente não é satisfatória na minha opinião.
RA: Sabemos que o vosso Grupo tem participado em muitos festivais pela Europa. Podiam mencionar alguns que foram marcantes para o Grupo Rabasa?
JO: Sim é verdade graças a Deus o Grupo tem sido convidado a actuar um pouco por toda a Europa. Posso citar-lhe alguns festivais em que actuamos e posso atrever dizer até que com boa actuação devido ao feed back do público presente. Estivemos em: Sziget festival- Budapeste (Hungria), International Bursa Festival (Turquia), Pole Pole Festival – Gent (Bélgica), Happy Art Festival – Nyiregyhaza (Hungria), Colours of Ostrava, (República Checa). Uitmarkt- Amesterdão (Holanda -com New Cool Collective), Festival da Libertação Wageningen, (Holanda), Sfinks Festival- Boechout (Bélgica), mas também em Cabo Verde nos Festivais da Cidade Velha e Tarrafal de Santiago.
RA: Já actuaram em salas de espectáculos com algum peso?
JO: Sim, na Holanda já actuamos em grandes espaços como o Concert Gebouw de Amesterdão, na sala De Doelen aqui na cidade de Roterdão e em Haia na famosa sala “Paard”. Mas, já actuamos também em salas importantes na Turquia (Cemal Resit Rey), Polónia (Zamek, Poznan), Bélgica (Zuiderpershuis, Antuérpia, La Tentation, Bruxelas) e ainda na Áustria (Treibhaus, Innsbruck).
RA: E nos Festivais em Cabo Verde Rabasa tem actuado com a frequência que desejariam?
JO: Já participamos 3 vezes no festival da Cidade Velha e uma vez no Festival do Tarrafal de Santiago. Gostaríamos de participar mais vezes para mostrar ao povo Cabo-verdiano o que fazemos nos países estrangeiros por onde passamos mas isso depende óbviamente dos convites das entidades que organizam essas actividades. Posso dizer-lhe que o Grupo sentiria muito orgulho em participar nos Festivais que se realizam um pouco por todo Cabo Verde assim como por toda a comunidade cabo-verdiana diasporizada.
RA: Para participar por exemplo num Festival em Cabo Verde o vosso Cachet é elevado?
JO: Nós temos o nosso cachet para a Europa. Para Cabo Verde sabemos que as dificuldades financeiras são maiores e, por isso, temos do nosso empresário luz verde para actuarmos em Cabo Verde, em condições especiais. Isso depende da vontade dos organizadores no País.
RA: O Grupo pensa criar ou participar em projectos que tem a ver com o ensino de música em Cabo Verde?
JO: Isso faz parte dos nossos objectivos. Já enviamos no passado alguns instrumentos musicais para Cabo Verde e pensamos apoiar escolas de músicas existentes em Cabo Verde enviando mais instrumentos musicais no futuro.
RA: Como é a vossa aceitação, no tocante a vossa música pelo Público europeu?
JO: A nossa música é muito bem aceite conforme pude já manifestar anteriormente. Nos países onde já actuamos (Holanda, Bélgica, Áustria, Turquia Polónia, Hungria, República Checa) notamos que o nosso grupo e a nossa música são muito apreciados.
RA: Muitos Grupos têm se extinguido na Holanda, estou a pensar em alguns como: Livity, Rabelados, Splash etc. Mas o Grupo RABASA tem resistido. Qual o segredo desta vossa longevidade?
JO: Nós fazemos a música por gosto e gostamos, como todos os músicos, muito do que fazemos. Todos trabalhamos e a música é um hobby/passatempo. Por essa razão não cansamos. Tocamos quando queremos e sem pressão por parte do nosso empresariado. Já estamos há mais de uma década juntos e a amizade entre os elementos é grande. Isso faz-nos sentir como se fossemos uma família. Respeitamos muito o que cada um faz dentro do grupo e pensamos que isso tudo contribui para que o grupo se sinta cada vez mais firme e coeso. É isso a chave do segredo da nossa longa existência.
RA: Estamos em pleno período do Recenseamento eleitoral um pouco por toda a comunidade cabo-verdiana espalhada pelo mundo. Acha importante a participação dos cabo-verdianos neste processo?
JO: Nós pensamos que todas as pessoas devem -se recensear para mais tarde terem o direito de participar nas eleições e assim terem a possibilidade de escolher as pessoas que acham que são capazes de conduzir o nosso país rumo ao progresso , paz e prosperidade.
RA: E no caso especifico dos músicos quer fazer algum apelo para a importância do Recenseamento eleitoral?
JO: Aos músicos cabo-verdianos fazemos um apelo no sentido de irem fazer o recenseamento para também mais tarde terem a possibilidade de escolherem quadros capazes de na área de cultura desenvolverem um trabalho de qualidade que favoreça melhor o desenvolvimento e a preservação da nossa rica cultura e também que possam defender o interesse do grupo dos artistas que são embaixadores da nossa cultura.
PERFIL
João Marcelino Marques Ortet nasceu na ilha de Santiago na localidade de Rui Vaz.
Está na Holanda desde Agosto de 1987, País onde chegou através de convénio entre o Ministério da Educação de Cabo Verde e Holanda para exercer a profissão de docente de português em Escolas do ensino básico na cidade de Roterdão, profissão aliás que exerce até hoje acumulando ainda com a docência da educação musical.
João Ortet é um importante activista dentro da comunidade cabo-verdiana na Holanda e tem dado um contributo importante na integração dos cabo-verdianos neste País.
Desempenha por exemplo um papel importante na Igreja cabo-verdiana “Nossa Senhora da Paz” onde de entre outras funções é um dos responsáveis do grupo coral da referida Instituição católica.
É membro fundador e líder do Grupo RABASA e desde Outubro de 2009 desempenha a função de vice-presidente da recém criada “Casa da Cultura Cabo-verdiana” na Holanda.
Obs:Para informações adicionais sobre o Grupo RABASA, visite o sitio do Grupo em: http://www.rabasa.nl/home.php
Por Norberto Silva
Boa entrevista
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