quarta-feira, 22 de abril de 2009

ENTREVISTA COM ANTÓNIO SILVA DA UCID


Foto:UCID e o Primeiro Ministro Holandês

MESA REDONDA, NA HOLANDA, PROCURA RESPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO E HARMONIOSO DE CABO VERDE
Norberto Silva da Rádio Atlântico, na Holanda, uma vez mais trás-nos uma entrevista interessante. António Silva, líder histórico da UCID, aceitou o desafio e fala da mesa redonda a ter lugar hoje na Holanda; fala da política de emigração do Governo de Cabo Verde que considera “discriminatória”, já que em seu entender “só serve para criar divisão entre os cabo-verdianos”; mas fala também do futuro do seu partido
Roterdão, 28 Março: A UCID, em Holanda, organiza hoje Sábado, 28 de Março uma mesa redonda onde serão discutidos quatro temas em Forma de “Workshops”: Ensino, Ciência e Tecnologia, Politica Social, Desenvolvimento Económico e Saúde Pública. O objectivo, segundo os organizadores, é envolver a diáspora cabo-verdiana no desenvolvimento sustentado de Cabo Verde. A maioria dos painéis é moderada por jovens cabo-verdianos da segunda geração e com formação superior em diversas áreas de conhecimento e é aberto a toda comunidade cabo-verdiana residente na Holanda. Um dos organizadores é António Silva, Professor da Escola Superior “INHolland”, com quem aproveitamos para falar do evento assim como do seu partido, a UCID.
Rádio Atlântico: Fala-me da importância da realização do colóquio da UCID para os Jovens de origem cabo-verdiana na Holanda?
António Silva: De um modo geral a conferência não é apenas dirigida à camada jovens, mas procura englobar todos os grupos; jovens e menos jovens. A conferência não tem em mira nenhum grupo alvo específico. A nossa ambição é o de alcançar todos os cabo-verdianos que, efectivamente, gostam de dialogar sobre assuntos concernentes ao desenvolvimento sustentado das Ilhas.
A grande verdade é que actualmente muitos jovens cabo-verdianos, residentes na Holanda, se interessam pela política e portanto procuram seguir de perto o desenrolar dos acontecimentos em Cabo-Verde. Há muitos que tem uma abordagem crítica da situação e também os há que decididamente querem contribuir em termos de substância para o desenvolvimento do Pais.
Tenho, por exemplo, verificada uma certa inquietação e também um ‘colocar-de-questões’ no tocante às politicas de saúde, desenvolvimento económico, social, ensino e ciências, etc.
A ideia da conferência é o de se criar uma plataforma, incentivar o dialogo, criar condições para que os jovens quadros cabo-verdianos aqui residentes, possam contribuir livremente e com consciência para o desenvolvimento da nossa Terra Mãe, Cabo-Verde. Essa conferência poderá ser vista como um primeiro passo nesse sentido; a ideia é de se criar um ponto de encontro onde a inteligência dos mais novos e a sabedoria dos mais velhos possam ser vistas como ‘mais valia’ para o desenvolvimento do País.
Os jovens não estão interessados em participar em polémicas partidárias, discursos de militância, etc. O que eles querem é, de uma forma mais efectiva possível, contribuir para o progresso de Cabo-Verde. No fundo é isso é que conta não é verdade? Chega de discursos de retórica! Resumindo, a conferência tem como objectivo encontrar caminhos para canalizar ajuda ao desenvolvimento de Cabo Verde .
R.A: Quais os ganhos que a UCID pensa conseguir com a realização do encontro?
A.S: Como já respondi anteriormente o objectivo principal é fomentar o diálogo entre os cabo-verdianos interessados no desenvolvimento sustentado de Cabo-Verde. Os temas falam por si: saúde pública, ensino, formação profissional, politica de desenvolvimento económico e politica social . Procuremos evitar discussões de carácter ideológicas. O objectivo é o de contribuir para resolver de forma pragmática os problemas estruturais do Pais. É isso que pretendemos conseguir com o evento.
RA: A UCID vai realizar possivelmente no Verão o seu congresso. Quais os contributos que a delegação da Holanda pensa dar ao congresso do vosso Partido?
AS: A minha contribuição estará mais precisamente concentrada a volta de politicas relacionados ao desenvolvimento do ensino, ciências, tecnologias, aprendizagem, divulgação de iniciativas e práticas relacionadas ao desenvolvimento sustentado das Ilhas. E toda a minha ambição é introduzir em Cabo-Verde aspectos interessantes da declaração de Bolonha. Na medida dos possíveis procurarei aprofundar esses aspectos no congresso. Espero poder contar com apoio de muitos dos meus companheiros de luta. É preciso introduzir no Pais o mais urgente possível, um cenário inovador para o ensino, adaptando-o aos padrões internacionais. Cabo-Verde oferece muitas condições por termos excelentes quadros nessa área; portanto mãos a obra.
R.A: Pensas que o congresso vai resolver o diferendo existente neste momento no seio da família UCID (na prática existe duas UCIDS)?
A.S: Estou em crer que a situação do Partido até lá estará perfeitamente contornada, porque o partido necessita de um período de calma e de absoluta consolidação interna. Na Europa também por vezes temos situações idênticas. Ainda há bem poucos dias tivemos no CDA uma situação terrível. A experiência nos ensina que a solução de qualquer problema só poderá ser encontrada com base no diálogo. É exactamente isso que devemos fazer: dialogo, troca de argumentos, tendo sempre na mira a resolução imediata dos problemas.
A UCID tem maturidade política suficiente e como tal estará sempre empenhada em encontrar soluções para qualquer problema que possa surgir. Isso exige, obviamente, uma liderança que seja coerente e abrangente! Já agora fica aqui o meu apelo: dialogo, compromisso e consenso!
R.A: A UCID teve a sua força na diáspora. Neste momento parece haver um renascer do movimento pelo menos aqui na Europa. Será que a minha leitura está correcta?
A.S: Não se esqueça que a UCID nasceu na Europa, mais precisamente, na cidade portuária de Roterdão.
A UCID é um partido político que defende uma democracia baseada nos ensinamentos cristãos, fundado em 13 de Maio de 1978 na Holanda por cabo-verdianos que sempre acreditaram nos princípios de liberdade, solidariedade social, autonomia, justiça e desenvolvimento.
Hoje a UCID é um partido nacional, embora em termos numéricos pequeno, mas grande em termos de substância. Repare que nós sempre defendemos uma política económica nacional, um ensino de qualidade e com base na realidade das Ilhas, uma de politica de saúde pública capaz de servir as populares. Uma liderança politica coerente, autonomia administrativa, etc.
Aliás, a UCID defendeu sempre que a autonomia administrativa é o ideal para o desenvolvimento harmonioso do País. Está provado que o centralismo estatal não serve ao País. Falastes no renascimento da UCID, mas a coisa não é bem assim. O partido sempre existiu, só que temos tido algum desgaste mas isso resolve-se.
RA: Mudando um pouco de assunto como é que a UCID Holanda, analisa a situação económica e social de Cabo Verde, neste momento de crise financeira mundial?
AS: No Pais vai-se sofrer muito com essa crise económica. Mesmo aqui na diáspora muitos cabo-verdianos certamente vão perder o seu emprego, e por consequência as remessas irão sofrer um grande retrocesso. Algumas obras terão que parar, investimentos irão ser adiados, etc. Para Cabo-Verde é uma desgraça completa, mas vamos ter que resolver o problema de forma séria. Isso exige liderança e os partidos politicas terão que despir suas camisolas partidárias para resolverem de forma seria os problemas que assolam o Pais. É desejável neste momento: menos militância e mais liderança.
“A POLÍTICA DE EMIGRAÇÃO DO GOVERNO SÓ SERVE PARA CRIAR DIVISÃO ENTRE OS CABO-VERDIANOS, É UMA POLITICA DISCRIMINATÓRIA”
R.A: E no tocante a politica do governo para a emigração. A UCID está de acordo?
A.S: O conceito emigração não me diz nada, absolutamente nada. A política de emigração do governo só serve para criar divisão entre os cabo-verdianos, portanto é uma politica discriminatória.
Todos os cabo-verdianos (cerca de 1 milhão) têm os mesmos direitos, estando ou não a residir no País. Eu neste momento não pretendo aprofundar muito sobre essa matéria, mas dou-te a certeza de que a seu tempo pronunciarei mais aprofundada sobre esse tema muito importante para nós.
R.A: Brevemente haverá eleições legislativas e presidenciais. Quais as expectativas da UCID para as duas eleições?
A.S :Penso que ainda é muito cedo para se falar das eleições legislativas e presidenciais.
RA: Insistindo no assunto. A UCID estaria por exemplo, disposta a fazer coligação com um dos dois grandes partidos políticos cabo-verdianos?
A.S: A UCID sempre foi contra bipolarização. Os dois partidos maioritários estão a monopolizar o Pais; o sistema de ‘perdedor’ e ‘ganhador’ que temos é prejudicial para Cabo-Verde. Coligação é uma condição essencial para a consolidação da democracia cabo-verdiana e por conseguinte para o desenvolvimento harmonioso do nosso País. A UCID é por isso a favor de um sistema de coligação.
Vai ser um grande desafio para a democracia cabo-verdiana, mas o eleitorado tem responsabilidade nessa matéria. Eu, pessoalmente, lutarei para que haja coligação. Aliás isso faz parte também da minha educação politica aqui na Holanda. Quem não gosta de coligação é porque tem medo do diálogo, não gosta de disputar o poder e por vezes são autênticos sabotadores da democracia e do desenvolvimento.
R.A: Qual o candidato que a UCID Holanda vai apoiar no Congresso?
A.S: Ainda não tenho conhecimento de candidatos, portanto vamos aguardar com calma.
R.A: Para muitos que acompanham a politica cabo-verdiana, o engenheiro António Monteiro está a fazer um excelente trabalho como líder da UCID. Qual a apreciação que fazem do seu desempenho?
A.S: O Eng. Monteiro merece apoio incondicional de todos os membros e simpatizantes da UCID. Se há outros candidatos que queiram disputar então deverão apresentar-se para que possamos fazer de forma objectiva a nossa apreciação.
O Eng. Monteiro tem dado prova de ser um grande “UCIDISTA”. Não será nada fácil desafiar a sua liderança , mas na democracia tudo é possível, até porque é bom ter vários candidatos. É uma situação saudável para o partido desde que haja coerência e respeito pela integridade das pessoas.
RA: Para terminar queres aproveitar para mandar uma mensagem para a família UCID espalhada pelo mundo?
A.S: Claro. A minha mensagem é simples. A UCID surgiu num momento que era necessário travar pela raiz o sistema de partido único em Cabo-Verde. O regime Estalinista-Leninista trouxe muita desgraça para os cabo-verdianos. Hoje a situação é diferente; temos um Pais democrático e a UCID na qualidade de partido político que defende uma democracia baseada nos ensinamentos cristãos, quer contribuir para o progresso das Ilhas.
Nós acreditamos nos princípios de liberdade, autonomia, solidariedade social, justiça e desenvolvimento. Todo o apoio, seja ele em termos de recursos humanos ou materiais, é sempre bem vindo. Não se esqueçam das exigências do Pais em termos de melhoramento da saúde pública, politica social, ensino e ciências, politica económica. A UCID precisa de ajuda! Temos necessidade de vereadores, de ministros, deputados municipais, de mais outros quadros para as diversa áreas.
O partido só poderá ser útil ao Pais se tiver apoio das comunidades cabo-verdianas espalhadas pelo mundo. Este e o meu apelo!

Entrevista conduzida por Norberto B.C.Silva

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