“O ESTADO NÃO PROTEGE OS TALENTOS”
Norberto B.C.Silva, da Rádio Atlântico, na Holanda teve uma conversa interessante com o músico cabo-verdiano Francelino Silva que aproveitamos para publicar. Conhecido no mundo artístico por “Colombiano”, Francelino Silva é natural da Ilha de Santo Antão. Emigrou, ainda criança (em 1974), para Portugal onde viviam os pais.
Depois de aí cumprir o serviço militar obrigatório, aproveitando a oportunidade de viajar com o seu grupo de então, “Bendinobo”, Colombiano fixa residência na Holanda, a partir de 1985.
Na Holanda fez parte de vários “conjuntos” e recentemente completou a sua formação musical no Conservatório de Roterdão. É um profissional da música e tem como sonho trabalhar num projecto musical sério, em Cabo Verde, onde possa transmitir aos jovens talentos cabo-verdianos os seus conhecimentos.
Nesta interessante conversa, “Colombiano” polemiza alguns aspectos. Para ele, artistas como Cesária, Lura ou Tcheka “não fazem parte do verdadeiro estilo musical tradicional de Cabo Verde”. Diz que “representam uma outra vertente dentro da música de Cabo Verde”.
Sem papas na língua, defende que o Governo de Cabo Verde “devia preocupar-se mais em investigar onde estão cabo-verdianos formados na área da música e que querem dar um contributo importante para o desenvolvimento da música em Cabo Verde”, estejam eles em Cabo Verde ou na diáspora. Diz que “o Estado não protege os talentos”.
Norberto B.C.Silva, da Rádio Atlântico, na Holanda teve uma conversa interessante com o músico cabo-verdiano Francelino Silva que aproveitamos para publicar. Conhecido no mundo artístico por “Colombiano”, Francelino Silva é natural da Ilha de Santo Antão. Emigrou, ainda criança (em 1974), para Portugal onde viviam os pais.
Depois de aí cumprir o serviço militar obrigatório, aproveitando a oportunidade de viajar com o seu grupo de então, “Bendinobo”, Colombiano fixa residência na Holanda, a partir de 1985.
Na Holanda fez parte de vários “conjuntos” e recentemente completou a sua formação musical no Conservatório de Roterdão. É um profissional da música e tem como sonho trabalhar num projecto musical sério, em Cabo Verde, onde possa transmitir aos jovens talentos cabo-verdianos os seus conhecimentos.
Nesta interessante conversa, “Colombiano” polemiza alguns aspectos. Para ele, artistas como Cesária, Lura ou Tcheka “não fazem parte do verdadeiro estilo musical tradicional de Cabo Verde”. Diz que “representam uma outra vertente dentro da música de Cabo Verde”.
Sem papas na língua, defende que o Governo de Cabo Verde “devia preocupar-se mais em investigar onde estão cabo-verdianos formados na área da música e que querem dar um contributo importante para o desenvolvimento da música em Cabo Verde”, estejam eles em Cabo Verde ou na diáspora. Diz que “o Estado não protege os talentos”.
Rádio Atlântico - Dentro da comunidade cabo-verdiana na Holanda, és um dos músicos mais talentosos. Como descobriste o gosto pela música?
“Colombiano” - Esse talento pela a música manifestou-se em mim desde pequeno, ainda em Cabo Verde e acompanhou-me durante uma grande fase da minha vida; hoje eu sou um músico profissional.
RA - Quais são para ti as mais importantes referências em termos de música e os músicos cabo-verdianos que te influenciaram positivamente?
“Colombiano” - Não posso apontar algumas referências porque acho que tive diversas influências no meu percurso musical. Na minha casa tive o privilégio de escutar desde criança diversos estilos musicais do mundo inteiro. A nível dos artistas cabo-verdianos posso citar o Boy Ge Mendes nos anos 80 e o grupo Bulimento do saudoso Katchás.
RA - O que te levou a frequentar o Conservatório de música de Roterdão e em que instrumento te especializastes?
“Colombiano” - Posso apresentar vários motivos que me levaram a fazer o Conservatório aqui na cidade de Roterdão. Primeiro por satisfação e orgulho próprio e segundo como andava ligado há muitos anos à música e a vários grupos quis especializar-me numa área que gostava, de forma a ter uma ligação mais científica com a própria música. Isso permite-me ajudar a quem precisa seguir a carreira musical a nível principalmente dos instrumentistas. Especializei-me em Guitarra Baixo
RA - Depois da tua formação passaste a ver a música de outra forma? Mais madura? “Colombiano” - Claro que com a formação superior, obrigatoriamente passei a encarar a música de uma outra forma mas nunca perdi a simplicidade e a vontade em ajudar a quem precisa. Gosto de ensinar e transmitir aos novos talentos os meus conhecimentos e o gosto pela música.
RA - Actuaste em vários grupos aqui na Holanda. Qual foi o conjunto que integraste e que mais te marcou e porquê?
“Colombiano” - Realmente eu fiz parte de vários grupos musicais aqui na Holanda. O grupo musical que mais me marcou foi o grupo Koladance.
RA - Falas mais do grupo koladance? Quem fazia parte do grupo? E de que mais grupos fizeste parte?
“Colombiano” - O Koladance tem uma história interessante porque os seus elementos formaram depois outros conjuntos. No grupo inicial tinha como integrantes nomes como Jorge Neto, Kino Cabral, Roberto Matias Grace Evora, Gy do Night Rokers, Calú, Aníbal e eu. Depois juntou-se a nós o Johnny Fonseca que veio substituir o GY. Agora se fores analisar e retirares o GY e eu terás uma outra formação “Os Livity”. Mais Tarde o koladance teve a sua versão 2 em que também fiz parte mais os elementos como Djoy Tavares, Meno Pecha, Arlindo Delgado, Calu Matos, Nhelas Santos, Nelson, Gulba, Sebastião. Com a extinção total do grupo fui convidado a tomar parte nos Rebelados.
A par de grupos que eu fiz parte acompanhei também vários artistas cabo-verdianos como Bana, Paulino Vieira, Ildo Lobo, Zeca de nha Reinalda, Titina, Luís Morais, Suzana Manel de Novas etc., etc.
RA - Porque é que agora há poucos grupos (conjuntos) aqui na nossa comunidade?
“Colombiano” - Fácil de responder. Tudo tem um princípio e um fim mas também tem a ver com outros factores. Se formos ver, a maioria dos grupos não tinha uma identidade cultural. Foi uma fase sobretudo de copiar o que se fazia em França com o Zouk por exemplo. Como sabes a distância é curta entre os países aqui da Europa e as influências chegam rapidamente. Por ser uma influência passageira o desaparecimento dos grupos pode ter a ver com essas influências do momento.
RA - Os repetidos sucessos além-fronteira de Cesária Évora, Lura, Tcheka, Mayra, Tito Paris, Gil, Suzana e muitos outros, têm permitido que os diversos estilos musicais de Cabo Verde sejam estudados e apreciados. Para ti qual a verdadeira música de Cabo Verde, a tradicional ou o estilo chamado zouk love?
“Colombiano” - Falar da música tradicional é algo mais complexo e nenhum dos artistas que citastes na minha opinião trabalha a música tradicional. Mas é claro que são músicos cabo-verdianos que trabalham outros ritmos isso na minha visão e conhecimento da música.
RA - … Mas eu citei nomes como o da Cesária, Lura, Tcheca... estes também não fazem música tradicional?
“Colombiano” – Não, não fazem. No meu entender a Cesária, Lura e ou Tcheka não fazem parte do verdadeiro estilo musical tradicional de Cabo Verde, mas representam uma outra vertente dentro da música de Cabo Verde. No meu entender, o que representa o verdadeiro tradicional de Cabo Verde são os que trabalham géneros como Finaçon, Tchabeta, Batuku, Tabanka, Bandera e Kola San Jon por exemplo. Isso são ritmos que marcam o nosso País de Santo Antão a Brava. Representam os hábitos, costumes e a tradição verdadeira do povo cabo-verdiano.
RA - Podias dar então exemplos de artistas cabo-verdianos que fazem música tradicional?
“Colombiano” - Bom! No meu ponto de vista, os únicos artistas que tentam aproximar do meu conceito da música tradicional é o grupo Ferro & Gaita sobretudo com o tema “Nacia Gomi” do projecto Rei di Tabanka.
RA - Acredita portanto nas potencialidades da música cabo-verdiana?
“Colombiano” - Acredito bastante nas nossas potencialidades musicais, mas a minha preocupação é sobre o futuro da música de Cabo Verde. Precisamos de fazer um trabalho sério agora para colher frutos no futuro.
RA - Neste momento trabalhas em algum projecto musical? Pensas por exemplo gravar um CD/DvD tal como fizeram instrumentistas como Baú, Manel de Candinho, Totinho, Kim Alves, Carlos Matos etc.?
“Colombiano” - No fim do curso do Conservatório tens que apresentar um projecto concreto que serve também de exame prático. Na minha demonstração musical houve a envolvência da música da África Ocidental, passando por Cabo Verde, América Latina e finalizando no Jazz de Nova Orleães na América.
Esse projecto musical que bebe o que se faz nos lugares que acima citei tem um elo comum: Cabo Verde. Dediquei ao meu povo cabo-verdiano e tenho fé em apresentá-lo mais vezes no meu País e dar um contributo científico para o desenvolvimento da nossa música.
RA - Quais os sonhos que gostarias de realizar como músico?
“Colombiano” - O meu sonho é realizar-me como um músico profissional pelo mundo, e ao mesmo tempo, ter oportunidade de levar o meu conhecimento ao meu País.
RA – Dedicas-te a outra actividade profissional para além da música?
“Colombiano” - Eu sou um profissional que felizmente até agora tem conseguido viver só da música; mas tenho com hobby, a prática de várias modalidades desportivas.
RA - A Casa de Cabo Verde foi inaugurada na Holanda. Falando na vertente musical qual o contributo que vocês músicos podem dar à referida casa?
“Colombiano” - Eu não sei nada sobre a casa de Cabo Verde aqui na Holanda e nem quais os objectivos da referida casa.
RA - Foste convidado pela eventual comissão instaladora da casa para dares o teu apoio?
“Colombiano” - Ate agora ainda não! E também neste momento estou muito ocupado e o meu apoio seria por isso muito limitado.
RA - Para terminar achas que os músicos cabo-verdianos na Holanda são solidários e unidos?
“Colombiano” – Os músicos não é o termo correcto acho eu. Acho mais apropriado falar em artistas cabo-verdianos aqui na Holanda. Não há solidariedade entre eles e isso enfraquece a todos.
RA - Se ficou algo por dizer podes aqui acrescentar.
“Colombiano” - Eu acho que o senhor ministro da cultura devia preocupar-se mais em investigar onde estão cabo-verdianos formados na área da música e que querem dar um contributo importante para o desenvolvimento da música em Cabo Verde. Em Cabo Verde ou na diáspora cabo-verdiana o Estado não protege os talentos; não há uma política clara nesse sentido. A música quando é estudada e aproveitada, pode ajudar muito no desenvolvimento da cultura e do próprio Cabo Verde.
NORBERTO SILVA
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