terça-feira, 6 de março de 2012

CV(Liberal):ENTREVISTA COM PAULA LIMA DO GRUPO MESOL CABO VERDE

Entrevista com Paula Lima 
“CABO VERDE OFERECE MUITAS POSSIBILIDADES DE INVESTIMENTO”
A jovem empresária, dirigente do Grupo MESOL, fala a Liberal sobre o turismo sustentável e as potencialidades da Cidade Velha como oferta turística internacional. Em rodapé, uma breve reflexão sobre a sua, também breve, passagem pela política

foto
LIBERAL - ANTES DE ENTRARMOS NO ASSUNTO PRINCIPAL DA NOSSA CONVERSA QUERIA SABER QUEM É A PAULA LIMA.
PAULA LIMA - É uma cabo-verdiana de gema, apaixonada pelo seu País e que acredita no turismo sustentável. Fiz licenciatura na área do turismo no Brasil e tenho um mestrado em administração, mas concretamente na área da hospitalidade e marketing, tirado nos EUA.
PODE EXPLICITAR MELHOR O CONCEITO DE TURISMO SUSTENTÁVEL E, JÁ AGORA, ACREDITA QUE É ALGO QUE SE PRATICA EM CABO VERDE NESTE MOMENTO?
O meu conceito de turismo sustentável, numa definição simples, é quando a economia gira à volta do turismo, onde outros sectores da economia como a pecuária, a pesca e outros sectores produtivos também se cruzam com o turismo. Em Cabo Verde ainda não temos um turismo que podemos considerar sustentável a 100 por cento, mas acredito que estamos no bom caminho e convém salientar que tem havido algum trabalho por parte das entidades com responsabilidade neste sector, como a Cabo Verde Investimentos, a Direcção Geral do Turismo, bem como os privados.
O PORQUÊ DE GOSTAR DESSE SECTOR DO TURISMO? ALGUMA INFLUÊNCIA FAMILIAR?
Quando a minha mãe abriu a Agência de Viagens Orbitur eu tinha 10 anos de idade, e cresci com esse gosto pelo turismo, ao escolher um curso optei naturalmente por fazer a minha formação nesta área onde trabalho actualmente e que me dá um certo gozo, digamos assim.
RECENTEMENTE VISITEI O HOTEL LIMEIRA NA CIDADE VELHA, UM HOTEL SUI GENERIS NO PAÍS E QUERIA POR ISSO PERGUNTAR-LHE COMO NASCEU A IDEIA DE FAZER ESTE PROJECTO NUMA ENCOSTA MONTANHOSA E COM UMA ARQUITECTURA ÚNICA.
O projecto do Hotel Limeira é algo muito ligado ao local de nascimento dos meus pais, que são de Santo Antão, de uma região de nome Longueira. Mas moram em Santiago e, por serem rurais, quiseram fazer algo que lhes lembrasse a própria ilha de nascimento. Por isso, a escolha desse lugar na Cidade Velha, montanhosa e bonita como a própria Longueira. O nome do nosso hotel, Limeira, vem de Lima apelido de família, e o resto corresponde à região de Longueira.
A arquitectura, como deve ter reparado, procurou respeitar o tradicional até nas pedras usadas na construção como nas plantas escolhidas.Enfim, enquadrar o hotel na região…
HÁ QUANTO TEMPO EXISTE O GRUPO LIMEIRA E QUANDO O HOTEL COMEÇOU A FUNCIONAR?

foto
O Grupo é MESOL, proprietário da Agência de Viagens Orbitur e do Hotel Limeira. A Agência Orbitur existe desde de 1988, portanto, há 24 anos, e o hotel começou a funcionar em Julho de 2010. O Grupo Mesol representa ainda a Agência Air Senegal em Cabo Verde e tem outros serviços ligados ao agenciamento e alguns projectos em carteira que, a seu tempo, daremos a conhecer ao público.
POR QUE É QUE O VOSSO GRUPO, QUE JÁ APRESENTA UMA VARIEDADE ASSINALÁVEL DE NEGÓCIOS EM CABO VERDE, NÃO TEM ACCIONISTAS QUE NÃO SEJAM DA FAMÍLIA?
De momento não temos accionistas externos. Todos os investimentos que temos foram baseados num sonho dos meus pais. Por isso, vamos lutando dentro dos possíveis para levar adiante este sonho. Mas não estamos fechados á ideia de um dia aumentarmos o número de accionistas, aceitando neste caso outros investidores.
PUDE PERCEBER QUE TAMBÉM FAZEM EXCURSÕES A NÍVEL NACIONAL E INTERNACIONAL. QUER FALAR UM POUCO MAIS SOBRE ESSA ACTIVIDADE DO VOSSO GRUPO?
Sim, nós estamos em condições de assegurar esse tipo de serviço para qualquer ponto do país e, ao longo do ano, fazemos excursões a nível internacional. No tocante ao turismo nacional, procuramos sobretudo incidir na ilha de Santiago por ser uma ilha com grandes potencialidades turísticas e que ainda está subaproveitada. Nesta fase do projecto, procuramos levar os turistas a conhecerem a ilha numa visita guiada aos lugares onde existem paisagens ainda quase virgens, fazemos também o chamado ecoturismo, com caminhadas pelo interior da ilha. Com a caminhada, os turistas têm uma sensação boa de liberdade, de estar em contacto com a natureza e a percepção do lugar onde estão. Normalmente, os franceses, alemães e ingleses gostam muito dessas excursões, mas que queremos também alargar para outros segmentos turísticos.
E estamos a desenvolver um outro pacote que tem a ver com a pesca tradicional, onde, por exemplo, um turista pode pescar da forma como os nossos pescadores fazem, num bote tradicional, perto de praia (por motivos de segurança) ou fazer pesca submarina. Mas, ainda a nível de pontos turísticos interessantes em Cabo Verde, podia citar-lhe um que me é particularmente especial que é o Pico Leão, onde o turista pode ver as mulheres a lavarem a roupa de modo tradicional, deslumbrar-se com espaços verdes, com paisagens lindíssimas, um verdadeiro oásis.
A nível internacional, temos já uma longa tradição em organizar excursões para Fátima, em Portugal; Lourdes, em França; mas também já estivemos por três vezes em Santiago de Compostela, Galiza; Roma, em Itália; uma vez em Israel... Este ano, vamos organizar uma nova excursão no mês de Maio, por três dias, a Fátima e, em seguida, Lourdes, por quatro dias.
A CIDADE VELHA FOI CONSIDERADA HÁ POUCO TEMPO PATRIMÓNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE PELA UNESCO. MAS AO VISITAR A REGIÃO FIQUEI COM A IMPRESSÃO DE ESTAR-SE A FAZER MUITO POUCO PARA A DIVULGAÇÃO DESTE GRANDE PRODUTO TURÍSTICO POR PARTE DO GOVERNO. O QUE PENSA SOBRE ISSO?
É preciso, também, levar em linha de conta que Cabo Verde é um país jovem e com parcos recursos e, por isso, limitado em muitas coisas, nomeadamente, nesta área do turismo. A nível da autarquia, o nosso grupo tem tido uma excelente relação, mas é preciso ter sempre presente que é um município novo onde tudo tem sido feito praticamente de raiz. É verdade que o turismo é importante, sim, mas há outros sectores na região que carecem também de atenção e, por isso, toda a energia não pode ser apenas canalizada para o sector do turismo.
A nível do governo central - e do sector privado -, de facto, podíamos fazer muito mais caso houvesse um “djunta mon” no sentido de se fazerem as coisas de uma forma concertada entre o governo e o privado, no sentido de divulgar o produto Cidade Velha além-fronteiras.

foto
AINDA SOBRE A CIDADE VELHA, DEAMBULANDO PELA REGIÃO, NOTEI QUE HÁ NOVOS EMPREENDIMENTOS NA ÁREA DO TURISMO. O VOSSO GRUPO NÃO TEME A CONCORRÊNCIA?
Claro que não, até porque a concorrência é saudável porque é um sinal do progresso. O que interessa para o desenvolvimento do país é cada um ter um bom produto e uma boa qualidade de serviço….
O QUE DISTINGUE A VOSSA UNIDADE HOTELEIRA DAS OUTRAS EXISTENTES NA CIDADE VELHA?
A característica que poderei apresentar como uma mais valia é o nosso serviço, a nossa morabeza, mas posso também adiantar que temos ainda um hectare de área verde no nosso espaço, uma arquitectura que faz uma simbiose perfeita com a região circundante e a paisagem linda que se pode apreciar a partir do Limeira para o mar e para a parte histórica da cidade.
A PAULA, PARA ALÉM DE TRABALHAR PARA O GRUPO FAMILIAR MESOL, É TAMBÉM REPRESENTANTE DA AMADEUS (GDS), É MÃE… COMO CONSEGUE ARRANJAR TEMPO E FÔLEGO PARA TANTA COISA?
Bem, primeiro temos que ter «o jogo de cintura», tem que se ter tudo bem organizado e descentralizar, delegar competências, porque quando centralizamos tudo na nossa pessoa, não conseguimos dar conta do recado. Enfim, vou conseguindo fazer as coisas que eu gosto…
NA NOSSA CONVERSA OFF RECORD DISSE QUE TAMBÉM FEZ UMA INCURSÃO RECENTE NA POLÍTICA. É ALGO PARA CONTINUAR OU FOI APENAS UMA CONTRIBUIÇÃO PONTUAL?
Conforme disse no início da nossa conversa, eu sou uma cabo-verdiana de gema, apaixonado pelo meu país. O meu envolvimento na política foi no sentido de dar algum contributo também nessa área. A minha participação foi mesmo essa vontade de ajudar para termos um país melhor e não por procurar cargos políticos ou emprego.
PARA TERMINAR, UMA MENSAGEM PARA OS JOVENS CABO-VERDIANOS NO EXTERIOR NO SENTIDO DE INVESTIREM EM CABO VERDE OU VISITAREM O PAÍS…
Penso ser muito importante os jovens no exterior continuarem ligados às nossas raízes. Cabo Verde é a nossa terra e eles devem vir visitar a terra dos pais, dos avos, enfim, onde tudo começou. Convido os jovens no exterior a visitarem Cabo Verde, com um sentido crítico e apresentando também soluções que possam contribuir para melhorar o nosso país.
Cabo Verde, apesar de parcos recursos, oferece muitas possibilidades de investimento, e os jovens não residentes devem aproveitar essas potencialidades e, com a sua visão e vivência em países com um grau de crescimento maior, ajudar o nosso país rumo a um desenvolvimento sustentado.
(Entrevista conduzida por Norberto Silva)
http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=35314&idSeccao=551&Action=noticia

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentar com elegância e com respeito para o próximo.