sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

HOLANDA:Islamofobia mais difundida do que se pensava



Entre 2005 e 2010 aconteceram mais de uma centena de incidentes em mesquitas na Holanda. Uma cifra impressionante e muito maior que a de outros países. É o que mostra um novo livro sobre islamofobia e discriminação. Os autores destas ações geralmente permanecem impunes e os muçulmanos, muitas vezes, não registram queixa.


Nos anos ’90 a Holanda era vista como um país excepcionalmente tolerante em relação a outras religiões, lembra o professor emérito Frank Bovenkerk, da Universidade de Amsterdã.


 “Até que, de repente, pesquisas começaram a mostrar que uma significativa aversão ao islã estava se desenvolvendo. Os pesquisadores pensaram: não pode ser, um rompimento tão radical com o passado. Mas realmente aconteceu.”
Então vieram os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e o assassinato do cineasta Theo van Gogh na Holanda, em 2004. A política holandesa despertou ainda mais o ódio contra os muçulmanos, acredita Bovenkerk: “O então vice-primeiro-ministro Gerrit Zalm disse, após a morte de Van Gogh: ‘Nós agora estamos em guerra’.”
Nos Estados Unidos aconteceu de maneira diferente. “A primeira coisa que o presidente Bush fez após o 9/11 foi ir a uma mesquita, porque sabia que não podia estragar seu relacionamento com a população muçulmana. Portanto, lá eles agiram com muito cuidado. Mas na Holanda fomos muito facilmente influenciados por políticos como Pim Fortuyn e depois Geert Wilders, que usaram a aversão contra o islã para ganhos políticos.”
Incidentes
Ineke van der Valk fez uma pesquisa sobre ‘Islamofobia e discriminação’ - título do livro que lançou esta semana. Ela contabilizou 117 incidentes em mesquitas na Holanda entre 2005 e 2010. Nos Estados Unidos foram 42 no mesmo período.
Foram incêndios, pichações, vandalismo e muito mais: “Uma carta com pó, um telefonema ameaçador, mas também ações como pendurar uma ovelha morta na fachada com o texto ‘Mesquitas não!’, uma cabeça de porco, ou manchar as paredes da mesquita com sangue de ovelha ou de porco, o que os muçulmanos consideram provocador e ofensivo.”
Chama a atenção o fato de que muitos incidentes aconteceram em cidades pequenas. Nas grandes cidades a aceitação de imigrantes é maior porque eles já vivem nestes locais há mais tempo, acredita a pesquisadora.
Queixa
Nem todos os incidentes são registrados. Às vezes, a conselho da própria polícia, às vezes porque os conselheiros das mesquitas têm medo de que voltem a acontecer. E também por uma certa indiferença, diz Aissa Zanzen, da Organização de Mesquitas Marroquinas de Amsterdã e Região.
“As pessoas argumentam: isso é o que acontece. A sociedade endureceu, há um certo clima, e se escuta isso o tempo todo na mídia: os muçulmanos levam a culpa de tudo e mais um pouco. Além disso, as pessoas acham que a polícia não vai fazer nada mesmo, e registrar uma queixa custa muito tempo e dinheiro. E um outro fator pode ser o domínio do idioma, que também é um obstáculo.”
Os autores raramente são descobertos: em 99 dos 117 casos eles não são conhecidos. “Isso dá o que pensar”, diz Van der Valk. “Já é hora da justiça e da polícia fazerem mais a este respeito.”
Internet
E ainda há a islamofobia na internet. Ronald Eissens, da linha de atendimento sobre discriminação na internet: “Em 2011 houve 290 denúncias sobre atos de islamofobia, quase um quinto do total de denúncias sobre discriminação.”
A discriminação na parte de língua holandesa da internet é cada vez mais comum, segundo Eissens: “Dos becos escuros e sujos vai para a luz do dia, em fóruns populares da web que todo mundo lê.”
Valores
E o que se pode fazer a respeito? Ineke van der Valk: “É preciso lidar com seriedade com problemas sociais que podem levar as pessoas à discriminar. Quem é vítima de um crime cometido por um muçulmano tem mais tendência a discriminar.”
Além disso é preciso enfatizar a abertura da sociedade e defender os valores da diversidade. A Noruega agiu muito bem após o atentado de Anders Breivink, diz Ineke van der Valk: “Acho que nós podemos seguir o exemplo, porque aqui, entre políticos, há muita tendência de olhar para o outro lado e esperar que a islamofobia saia da ‘moda’. Temos que nos ater mais a nossas próprias convicções e defender valores que achamos importantes para a democracia e o Estado de Direito.”
Por Peter Hooghiemstra (Foto: Audringje/Flickr CC)

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