terça-feira, 26 de maio de 2009

QUEM MATOU AMILCAR CABRAL?




Portugueses utilizaram divergências entre guineenses e cabo-verdianos para assinar Amílcar Cabral.


As autoridades militares portuguesas conseguiram liquidar Amílcar Cabral, dirigente do PAIGC, só à segunda tentativa e aproveitando-se das contradições existentes dentro do movimento de libertação nacional da Guiné Bissau e de Cabo Verde, escreve nas suas memórias o diplomata soviético Pavel Danilov.Pavel Danilov, na altura 1º Secretário e Conselheiro da Embaixada da URSS na Guiné-Conacry considera que o general Spínola recebeu ordens para realizar uma operação militar contra a Guiné-Conacri com dois objectivos.“O objectivo consistia em liquidar o estado-maior do PAIGC…Também era importante o facto de o PAIGC manter em Conacri presos de guerra portugueses, entre os quais havia parentes de influentes famílias portuguesas”, escreve Danilov em “Meses Agitados em Conacri”, publicado em Moscovo.


Segundo ele, a primeira tentativa ocorreu na noite de 19 para 20 de Novembro de 1970, mas falhou devido à falta de coordenação entre as tropas portuguesas e as forças da oposição ao Presidente guineense Sekou Touré. Por exemplo, o agente do serviço de informações da República Federal Alemã, que participava na operação e devia dar o sinal para o seu início, falhou a sua missão por o seu carro ser semelhante ao de Amílcar Cabral.“Visto que o seu Wolkswagen branco era da mesma marca, cor e modelo do automóvel de Amílcar Cabral, secretário-geral do PAIGC, foi-lhe dado ordem para parar no primeiro posto montado pelos mercenários. Em vez de travar, ele carregou no acelerador. O carro avançou, seguiu-se um tiro de lança-granadas. O agente foi assassinado e a sua secretária ferida”, recorda Danilov.


A segunda tentativa para liquidar os dirigentes do PAIGC foi feita em Janeiro de 1973 e foi parcialmente coroada de êxito.“O fracasso da agressão militar directa contra a Guiné e da tentativa de liquidação do estado-maior do PAIGC, que desde 1960 se encontrava em Conacri, não fez desistir os colonizadores portugueses de novas tentativas de destruição desse estado-maior e aprisionamento dos seus dirigentes. Os portugueses optaram pela táctica do descrédito dos que eram mulatos, originários de Cabo Verde. No plano propagandista, insistia-se no atiçamento do ódio dos povos autóctones da Guiné-Bissau em relação aos mulatos, não só para os afastar da direcção da luta armada, mas também para liquidar fisicamente Amílcar Cabral, Aristides Pereira e outros dirigentes do movimento de libertação nacional”, recorda Danilov.“Os agentes da PIDE”, continua ele, “conseguíram infiltrar homens seus na segurança da sede do PAIGC e para o cargo de chefe interino da segurança foi nomeado um seu agente activo…, que gozava da confiança de Amílcar Cabral. Ao todo, para participar na conjura foram preparados cerca de 50 homens, dispersos por diversos pontos de aquartelamento dos destacamentos do PAIGC”.O diplomata soviético descreve assim o assassinato de Amílcar Cabral: Na noite de 20 de Janeiro, Amílcar Cabral e a sua esposa Ana Maria regressavam de uma recepção na embaixada polaca. Ele estacionou o automóvel perto de sua casa. Nesse momento, de detrás da casa apareceu um jeep. Inocêncio, um dos dirigentes da conspiração, saiu dele, abriu a porta do carro de Amílcar e ordenou-lhe que saísse. Os conspiradores que o acompanhavam apontaram as metralhadoras para Amílcar e Ana Maria. Depois de sair do automóvel, Amílcar Cabral perguntou: “O que significa isto?” Os conspiradores tentaram amarrá-lo. Como ele não deixou fazer isso, Inocêncio deu-lhe um tiro de pistola. À luz dos faróis, Ana Maria viu como Amílcar se sentou no chão e o sangue corria rapidamente através da roupa. Depois de encostar a mão ao ferimento, ele disse: “Que fazem? Os colonizadores ainda não saíram da nossa terra e vós já os servis, traidores!” Algum tempo depois, Inocêncio ordenou assassinar Amílcar Cabral. O seu cúmplice, Bacar, baixou a metralhadora e disparou uma rajada. Amílcar ficou deitado a alguns metros de sua casa”.Os executores da operação conseguíram também aprisionar “Aristides Pereira, Vasco Cabral, José Araújo e outros militantes mulatos do PAIGC” e tentaram levá-los em lanchas para Bissau, mas, devido à intervenção de um navio de guerra soviético que se encontrava em Conacri, todos eles foram libertados.Segundo Danilov, Aristides Pereira, que sucedeu a Amílcar Cabral à frente do PAIGC, teve de receber tratamento em Moscovo a fim de evitar a amputação das mãos. Ele tinha sido amarrado com força pelos raptores e esteve assim durante muitas horas no porão de uma das lanchas.


Fonte:Texto de José Milhazes

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