João do Carmo viu o seu projecto autárquico "morrer na praia" há poucos meses do início da campanha. Mas Do Carmo pode ter deixado um "presente envenenado" através da aprovação do Orçamento Rectificativo da Câmara Municipal graças à sua inexplicável ausência na última assembleia municipal. Com o agravante de o PAICV correr, uma vez mais, o risco de ir para a disputa autárquica dividido em São Vicente.
Depois de quase quatro anos a trabalhar para ser o candidato do PAICV em São Vicente, num trabalho que acabou por levar Isaura Gomes para fora do jogo, João do Carmo não podia esperar pior desfecho na reunião de sábado passado. Dos 15 membros da CPR (Comissão Política Regional) - são 16, mas um esteve em Santo Antão em missão de serviço -, reunidos no Auditório da Academia Jotamont, foram dez a favor de Vieira e cinco votaram em Do Carmo. De nada lhe valeu ser o presidente desse órgão regional do PAICV.
As reais razões que levaram a maioria da CPR a voltar as costas ao seu presidente não foram tornadas públicas mas já são várias as vozes que apontam para a perda da legitimidade política para Do Carmo manter-se à frente do PAICV na ilha. "Quando a sua própria equipa não aceita seu projecto autárquico", pergunta uma fonte próxima do PAICV/S.Vicente, "qual é a sua legitimidade para continuar como responsável máximo do PAICV na ilha?"
SENTIDO DE VOTO
O sentido da votação também poderá ter sido influenciado pelo estudo de opinião encomendado pelo partido e que colocava Nelita no topo das preferências. Foram 46,3 porcento (%) os eleitores inquiridos a afirmar que o PAICV deveria escolhê-la para candidata, enquanto apenas 20,9% preferiram Do Carmo. O estudo ainda demonstrou que 5,8% preferiam um outro candidato, e 27,0% não sabiam ou não responderam.
Naquilo que poderia ser considerado uma "operação de charme", Filomena Vieira já havia declarado durante a assembleia de militantes do partido em São Vicente, a 22 de Novembro, que não estaria disposta a recorrer para as primárias, caso o impasse mantivesse entre ela e Do Carmo. Isto porque o estatuto do PAICV permite que sejam os militantes a escolher o candidato quando há disputas internas. Em vez disso, preferiu-se a decisão da cúpula do partido e Vieira saiu sorridente.
O certo é que, ao contrário de "Nelita" (como Filomena Vieira é trada entre os mais chegados), Do Carmo sempre deixou bem claro que "levaria até às últimas consequências" o seu projecto autárquico de candidatar-se à presidência da CMSV. Este finca-pé obrigou a três reuniões que tentaram conciliar os dois projectos mas sem sucesso.
QUEDO E MUDO
Até agora, João do Carmo ainda não se pronunciou sobre o seu futuro político e sobre seu projecto autárquico que vinha trabalhando nesses últimos anos. E pelo que A NAÇÃO apurou ele não vai integrar as listas do PAICV às próximas autárquicas, até porque, como vereador, pouco ou nada fez na actual Câmara Municipal de São Vicente.
Enquanto isso, Filomena Vieira afirma estar "em condições de assumir uma campanha de muito trabalho, baseada na ética, na transparência e nos pressupostos legais", e que já estava a fazer um trabalho de bastidores ainda antes do anúncio do candidato pelo PAICV.
UM PRESENTE ENVENENADO?
Recentemente, o presidente da CPR e também vereador da CMSV, João do Carmo, faltou à sessão plenária da Câmara que serviria para aprovar o Orçamento Rectificativo. Esta "falta" permitiu que o presidente Augusto Neves (MpD) pudesse ir à banca buscar 60 mil contos para realizar obras no município, o que provocou a ira em muitos militantes e dirigentes tambarinas locais.
Mas agora que se conhece o resultado da votação, esta "falta" de comparência ganha novos contornos. "Até que ponto estaria Do Carmo consciente da falta de apoio da CPR antes da aprovação do Orçamento Rectificativo da CMSV?", pergunta nossa fonte, para quem Do Carmo deixa um "presente envenenado" para a candidata do PAICV.
É que graças a ausência de Do Carmo, o candidato do MpD, Augusto Neves, parte com um "bónus" de milhares de contos investidos em obras quando estamos a poucos meses da campanha eleitoral, o que poderá jogar contra Filomena Vieira durante a disputa dos votos.
O certo agora é que Vieira está escolhida como aquela que merece o apoio do PAICV para tentar conquistar a Câmara de São Vicente. Uma tarefa complicada, tendo em conta que os tambarinas nunca conseguiram este feito desde que acontecem eleições autárquicas em Cabo Verde.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentar com elegância e com respeito para o próximo.