terça-feira, 2 de junho de 2009

ARISTIDES PEREIRA FALA DA MORTE DE NINO


LISBOA-O assassínio do Presidente guineense, “Nino” Vieira, foi o desembocar de um processo iniciado com o golpe de Estado de 1980, altura em que “começou toda a trama de quem manda, quem mata, quem tem arma na mão”.
A frase é do primeiro Presidente de Cabo Verde, Aristides Pereira, que, numa entrevista à Agência Lusa, na Cidade da Praia, considerou que “Nino” Vieira se deixou levar por “questões e ambições pessoais”.
“O assassínio de “Nino” Vieira foi o desembocar de todo um processo que se iniciou com o golpe de Estado de 1980. Foi aí que começou toda a trama de quem manda e quem mata, quem tem a arma na mão”, afirmou Aristides Pereira, na primeira declaração pública sobre a morte do Presidente guineense, em Março último.
Salientando que, apesar de não se poder admitir num país que um Presidente “seja morto daquela forma”, Aristides Pereira insistiu, contudo, não ter qualquer dúvida que esse processo, a que “Nino” deu origem, “já vinha de longe”.
Questionado sobre se a questão da droga poderá ser encaixada no “puzzle” da morte de “Nino” Vieira e também na do chefe das Forças Armadas guineenses, general Tagmé Na Waié, o primeiro Presidente de Cabo Verde afirmou que “é possível”.
“É possível, porque infelizmente a droga já está muito encastrada na sociedade guineense e isso vai ser muito difícil de combater”, respondeu.
O golpe de Estado de 1980 na Guiné-Bissau, conhecido também por “Movimento Reajustador”, acabou por afastar Luís Cabral da presidência e levar “Nino” Vieira ao poder, ao mesmo tempo que deu um “golpe final” no ideal de Amílcar Cabral da junção da Guiné-Bissau e Cabo Verde e ditou ainda o fim das relações entre as alas cabo-verdiana e guineense do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
A este propósito, Aristides Pereira lembrou a então troca de correspondência com “Nino” Vieira, a quem pediu inicialmente para voltar atrás, mas que, depois, face à irredutibilidade do até então primeiro-ministro guineense, acabou no corte de relações, mais tarde retomado por iniciativa do antigo Presidente moçambicano Samora Machel, mas apenas numa perspectiva de Estado a Estado.
“Quem esteve na base dessa iniciativa foi o Samora Machel. Organizou um encontro em Maputo. Encontrámo-nos. Estabelecemos relações Estado a Estado, mas na base de que os partidos não têm nada a ver um com o outro”, disse.
Daí a ruptura com o PAIGC e a criação, em 1981, do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV).
Questionado sobre se, com o golpe de Estado de 1980, “Nino” Vieira acabou por “trair” o sonho das independências, Aristides Pereira defendeu a ideia de que o então golpista se deixou levar por questões e ambições pessoais.
“Não diria bem que traiu. Mas a verdade é que se deixou levar por questões pessoais, por ambições pessoais. E, para servir ambições pessoais, todos os argumentos servem”, declarou.Fonte: Lusa

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