sábado, 6 de junho de 2009

RNW DENUNCIA SITUAÇÃO DE ESCRAVIDÃO NA HOLANDA

MONUMENTO QUE LEMBRA O PASSADO ESCLAVAGISTA DA HOLANDA NA CIDADE DE MIDELBURG
Hilversum-"Escravidão moderna na Holanda!". Essa a definição do Presidente de Câmara da pequena cidade de Someren sobre a situação de um campo de cultivo de aspargos.
Os trabalhadores da Romênia - que já foram embora - e os proprietários do campo-empresa poderão responder num tribunal. Um processo que poderia demonstrar que há mais casos similares na agricultura holandesa.
"Escravidão, aqui simplesmente trabalha-se!". Esta foi a reacção irada da produtora de aspargos quando uma inspecção de segurança do corpo de bombeiros acabou encontrando uma situação similar à escravidão na situação de seus empregados.
Os imigrantes romenos dormiam num galpão sem janelas, com alto risco em caso de incêndio. Quando ali chegaram para trabalhar tiveram os passaportes recolhidos e não tinham permissão para abandonar a propriedade. Em vez de receberem o salário mínimo acordado, ficavam apenas por um adiantamento de 50 Euros mensais, suficientes para pagar os preços extorsivos dos produtos comprados no armazém da própria empresa produtora de aspargos.
CARAVANAS SEM AQUECIMENTO
Os vizinhos confessaram que já sabiam há muito tempo que havia muitas irregularidades na empresa, mas ninguém nunca denunciou a situação. Sem a inspecção dos bombeiros a situação calamitosa enfrentada pelos imigrantes poderia ter durado mais tempo. E quem é que garante que a mesma situação de exploração não está ocorrendo em outros sítios e fazendas da Holanda?
"Para nós, os primeiros anos foram os mais duros", diz Daniel, um trabalhador polaco de Zundert, a uns 80 quilômetros de Someren. Daniel chegou há seis anos a Holanda com seu irmão Jacek. "Nos alojávamos numa caravana sem aquecimento. Passávamos muito mal, era muito frio. Felizmente, agora temos um chefe que nos paga sempre em dia e estamos bem".
DISCORDÂNCIA
Os polacos e os romenos não recebem um centavo menos que os holandeses, alega o fazendeiro Ronald Elst, de Zundert. Segundo ele, o contrato de trabalho colectivo é o mesmo para Pedro ou João. "Portanto, não me parece que seja verdade essa história de mão-de-obra barata do Leste europeu". Ele simplesmente acredita que entre os diversos empresários pode haver sempre alguma "maçã podre", que prejudica o prestígio dos bons.
Jacek tem planos de ficar em Zundert. Trabalha numa empresa especializada no plantio de árvores e ganha quase 900 euros, muito mais do que ganharia em seu país. Seu irmão Daniel quer voltar à Polônia dentro de alguns anos. Daniel não está muito convencido de que os abusos dos empregadores holandeses seja coisa do passado: "Muitos de nossos camaradas ainda trabalham com patrões ruins e recebem em torno de quatro Euros por hora e trabalham em jornadas muito longas, sem descanso. Aconselhamos a eles a buscarem outro trabalho. Na Holanda é possível encontrar empregos melhores e ninguém deve ficar com um empresário que o trata mal".
A Polônia integra a União Europeia desde 2004, e a Romênia foi incorporada em 2007.
PASSADO ESCLAVAGISTA DA HOLANDA
No dia 1 de julho de 1863, depois de 200 anos de tráfico de escravos, a Holanda aboliu a escravatura nas antigas colônias do Suriname e Antilhas Holandesas. Na época, já não havia escravos nos Países Baixos, mas a maioria das rotas do tráfico para as colônias incluía os portos da província holandesa de Zelândia.
MERCADORIA VERSUS ESCRAVOS
No século XVII, navios negreiros zarpavam com destino à África, onde trocavam mercadorias por escravos, que eram levados depois ao Suriname ou às Antilhas. Estes navios voltavam carregados de algodão, cacau, café e açúcar, para consumo na Holanda. Todo esse comércio era organizado pela Companhia de Comércio de Midelburgo (MCC). Aproximadamente dois terços dos 600 mil escravos tirados do continente africano pela Holanda foram comercializados pela MCC.
Por isso, há quatro anos, foi erguido um "Monumento à Escravidão" em Midelburgo, capital dessa província. No local houve um acontecimento histórico. Depois que um navio mouro atracou na Holanda, em 1595, 135 africanos escravizados entraram na cidade. Como não havia escravidão no país, o prefeito declarou-os livres. Eles foram, provavelmente, os primeiros habitantes da raça negra na Holanda.
No ano passado, durante a primeira vez que o primeiro-ministro da Holanda, Jan Peter Balkenende, participou da cerimônia anual para relembrar o passado esclavagista holandês, ele disse que a escravidão "é um episódio vergonhoso em nossa história, uma mancha na reputação de nosso país".
Com Tijn Sadée da RNW

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