quinta-feira, 4 de junho de 2009

Receio de abstenção marca eleições europeias


Bruxelas-A percentagem de eleitores que deve comparecer às urnas nas eleições europeias pode ser a menor já registrada na história. Entre quinta-feira e domingo (4 e 7 de junho), cidadãos dos países-membros do bloco econômico elegem novos deputados para um mandato de cinco anos no Parlamento Europeu. Segundo institutos de pesquisa, mais da metade dos 375 milhões de eleitores deve abster-se. A razão da baixa participação é creditada por especialistas à complexa burocracia da União Europeia.
Muitos europeus ainda não compreendem a função e a importância do Parlamento Europeu. Este ano, mais de trinta milhões de euros foram gastos em campanhas para motivar a participação dos cidadãos nos 27 países-membros. Mesmo assim, grande parte do eleitorado ainda não consegue relacionar as atividades do Parlamento Europeu com políticas nacionais. O estudante espanhol Gabriel Fraga De Cal, de vinte e cinco anos, nunca votou nas eleições do parlamento e não pretende votar desta vez. Ele diz que falta comunicação. “Eu acho que o problema é, por uma parte, a apatia dos votantes, mas também um problema da União Européia. Falta informação, não há muita conexão entre os cidadãos e os políticos europeus”, diz ele.
Crise globalA crise global também pode ter contribuído para a apatia dos eleitores nestas eleições. Para Alfredo Valladão, professor no Instituto de Estudos Políticos de Paris, a ineficácia da União Europeia no combate à crise financeira despertou desconfiança nos cidadãos. “A minha impressão é de que os cidadãos europeus estão começando a entender que a União Europeia não possui ainda um nível institucional suficiente para resolver os problemas da globalização. Basta ver o que aconteceu com a crise global. Foi uma resposta onde foi cada um por si, e isso tirou bastante legitimidade das instituições européias”, diz Valladão.
As eleições europeias realizam-se desde 1979. O primeiro pleito contou com a participação de 63% dos eleitores, mas este número vem caindo progressivamente. Nas últimas eleições, em 2004, o comparecimento foi de 45%. Valladão acredita que a apatia dos eleitores está enraizada no próprio funcionamento do bloco econômico. “Hoje nós temos um banco central europeu, nós temos uma moeda comum europeia, que é o euro, mas não temos política econômica comum, não temos impostos comuns, não temos políticas sociais comuns. Isto faz com que a Europa fique muito preocupada em como se posicionar frente a problemas graves como é hoje a crise global.”
O Parlamento Europeu, com sede em Estrasburgo (França), é a única instituição do bloco econômico eleita por voto direto. A nova legislatura contará com 736 deputados pertencentes a grupos políticos que representam diferentes tendências para a integração da Europa. Para Valladão, este será um mandato de grandes desafios. “Eu acho que a Europa está um pouco parada neste momento, porque há uma consciência de que até o nível europeu não é mais suficiente para encarar os problemas mundiais. Hoje todos os problemas são globais e tem que ser encarados por todos os países e blocos globais. Não basta apenas o nível europeu”, diz Valladão.

RNW

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentar com elegância e com respeito para o próximo.