quinta-feira, 15 de julho de 2010

FRANÇA:Polémica e boicotes marcam presença africana no desfile da Tomada da Bastilha

PARIS-O fotógrafo Denys Vinson não gosta muito "de militares a desfilar de metralhadora" mas esta quarta-feira esteve nos Campos Elíseos, em Paris, "para ver as cores e a multidão e para partilhar, pelo menos por um dia, um sentimento de unidade"."Não tenho a certeza se essa união dos franceses é real, mas pelo menos o 14 de julho serve para marcar um ideal republicano", acrescentou o fotógrafo.
A festa nacional da França contou, pela primeira vez, com a participação de 13 ex-colónias e protetorados da antiga África Ocidental e Equatorial Francesa, que este ano comemoram 50 anos de independência.
Entre o Arco do Triunfo e a praça da Concórdia, descendo os Campos Elíseos, desfilaram por ordem alfabética militares do Benim (um contingente exclusivamente feminino), Burkina Faso, Camarões, República Centro Africana, Congo, Gabão, Madagáscar, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal, Chade e Togo.
As cores africanas abriram o desfile a pé, cumprindo o protocolo de o cortejo de tropas do 14 de julho ser encabeçado pelos convidados.
Desfilaram depois 4400 militares franceses, com unidades envolvidas em teatros de guerra como o Afeganistão. A Legião Estrangeira encerrou o desfile a pé, em passo mais lento (88 passos por minuto, contra 120 do resto das tropas).
Blindados de transporte, canhões, tanques de guerra, estacionados desde manhã cedo nas avenidas radiais do Arco do Triunfo, num total de 269 veículos, desfilaram também perante os milhares de pessoas que se aglomeravam ao longo do percurso, desafiando a chuva por vezes torrencial.
A cerimónia teve também um desfile aéreo sobre os Campos Elíseos e a tribuna de honra instalada na Concórdia.
A associação da Tomada da Bastilha e da Revolução Francesa de 1789 à efeméride das independências africanas em 1960 desencadeou uma polémica sobre a oportunidade e o significado do convite aos 14 países francófonos.
"A independência é uma festa nossa e festejamo-la entre nós", afirmou o presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, que recusou o convite francês e boicotou o desfile do 14 de julho.
Na véspera do desfile, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, rejeitou qualquer sombra de "nostalgia colonial" durante o almoço oficial com 12 chefes de Estado africanos (o outro ausente deste 14 de julho foi o líder golpista de Madagáscar, Andry Rajoelina, que não foi convidado).
Sarkozy sublinhou que a participação de 13 nações africanas é uma homenagem não aos militares que participaram hoje no desfile mas aos que combateram e caíram pela França.
O presidente francês anunciou "uma prenda" aos seus convidados: uma proposta de lei para a equiparação das pensões de todos os antigos combatentes, sem distinção de origem ou país de residência.
Várias organizações francesas e africanas criticaram, porém, "o paradoxo da antiga potência colonial que festeja as independências das suas possessões".
Noutra frente, a Federação Internacional dos Direitos Humanos (FIDH) pediu a Sarkozy, em carta aberta publicada na segunda-feira, que divulgasse "a composição das delegações estrangeiras convidadas".
"O 14 de julho não deve ser a festa da impunidade", resumiu Patrick Baudoin, presidente honorário da FIDH.
Polémicas à parte, o desfile convoca uma simbologia, concluiu Denys Vinson. "Nós franceses somos vaidosos do 14 de julho, mesmo sem o dizer. Podíamos falar das 17 mil cabeças guilhotinadas na sequência da Revolução. Mas é bom celebrar a liberdade", disse.
(Este texto foi escrito ao abrigo no novo Acordo Ortográfico)
Lusa/Sic

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