terça-feira, 25 de maio de 2010

Suriname: Desi Bouterse deve ser eleito

Paramaribo-Uma mulher indígena abraça Desi Bouterse quando este sai dos estúdios de uma rádio. Bouterse aperta a mão dela amigavelmente. Nesse momento, a mulher começa a cantar uma música em sua língua materna. Sua voz aguda ressoa. Depois de terminar, a mulher explica: “essa canção diz que você terá muito êxito nas eleições dessa terça-feira. Que você será o presidente desse país e que, finalmente, as coisas vão melhorar para gente. E sabemos que você não vai esquecer os indígenas que moram no interior.” A mulher, visivelmente emocionada, abraça o líder da MC (“Mega Combinação”).
A MC, com o NDP de Bouterse como partido mais relevante, sobe cada vez mais nas pesquisas de intenção de voto. Apesar dos elogiosos artigos na imprensa holandesa sobre o crescimento da economia surinamenha e as cifras macroeconómicas que asseguram que tudo anda bem com o país, liderado pelo governo da Nova Frente, uma parte importante da população tem outra opinião.
Não à Nova Frente
Trees cuida sozinha de seus três filhos. É funcionária pública, mas não vai ao trabalho e ninguém se importa com isso. Por isso, pode complementar sua renda com os rolinhos de primavera, e bananas fritas que vende na barraquinha que montou em frente a sua casa. “Eu tenho vergonha de receber um salário do governo sem trabalhar, mas se não fizer isso, como vou poder viver?”. Trees deposita suas esperanças em um governo sem a Nova Frente. Vai votar, mas ainda não sabe em quem.
“Não há estabilidade económica no Suriname”, afirma o empresário Dilip Sardjoe. Sardjoe é presidente do BVD, um partido que em 1996 se separou do VHP, sócio da Nova Frente Hindu. “Não se confia no dólar do Suriname.” Segundo Sardjoe, as boas cifras económicas são o resultado de um corte drástico no orçamento governamental, combinado com os elevados preços do ouro. “Isso camufla a imagem da economia real, que está ruim.”
Rezar e mendigar
“Este governo só sabe rezar e mendigar”, diz o empresário holandês Jerry, que continua preso às burocracias para conseguir uma licença para trabalhar. “Todos os grandes projectos que são realizados nesse país têm o apoio estrangeiro. A produção interna e a aquisição da experiência e conhecimento são conceitos que este governo desconhece. Foi preciso mendigar ajuda do presidente venezuelano Hugo Chaves até mesmo para se estabelecer uma empresa de peixes defumados.
Na campanha eleitoral, a Nova Frente (NF) alerta para a grande ameaça da Mega Combinação: “Teremos menos liberdade de imprensa e a liberdade de expressão e o orçamento público será saqueado de novo”. Os partidos da NF se referem ao período militar de 25 anos atrás, e à política do governo de Wijdenbosch, entre 1996 e 2000. Seu instinto de gastar e o carácter arrebatador do presidente do Banco Central, Henk Giedschalk, foram os responsáveis por esvaziar o caixa estatal.
Retrovisor
No entanto, a campanha do medo da NF tem o efeito contrário. “O espelho retrovisor” – como se chama nas ruas – contrasta com a campanha do homem sobre o qual tentam advertir os antigos líderes. “Temos que nos concentrar no futuro. E não no futuro dos próximos cinco anos, mas para os próximos 30”, afirma Desi Bouterse. Boutersa pleiteia por projectos de moradias em grande escala, pontes sobre os rios fronteiriços, uma rodovia até o vizinho Brasil e o estabelecimento de uma empresa estatal de ouro que possa aumentar a exportação.
Wilfred (27 anos) não se importa com o caixa vazio do passado. “Wijdenbosch gastou o dinheiro nessa ponte maravilhosa sobre o rio Suriname, que nos permite chegar rapidamente à Guiana Francesa." Wilfred trabalha no país vizinho. “O que ganho no Suriname em um mês de trabalho, tiro em uma semana na Guiana Francesa. E no fim-de-semana posso estar em casa junto da minha esposa e filha.” Wilfred é simpatizante do NDP. Reconhece que é complicado o fato de Bouterse ter que se apresentar diante de um processo penal pelos assassinatos de 8 de Dezembro de 1982 e que na Holanda tenha sido sentenciado por envolvimento no tráfico de drogas. “Claro que isso não devia ter acontecido, mas foi há muito tempo. Teriam que ter aberto um processo imediatamente, depois da ditadura. Eu vivo agora e espero melhoras.”
Contrato social
As campanhas eleitorais de todos os partidos se encerraram na noite do último domingo. A maior parte das coisas já está dita, no entanto ainda há espaço para entretenimento – como acontece com frequência no Suriname. Bandas de rap e estrelas locais estão nos palcos, inclusive uma banda holandesa.
Se os políticos falam, continuam mostrando a mesma imagem: de um lado o medo do passado dos partidos da Nova Frente e por outras as palavras reconciliadoras e o chamamento do “pai da pátria”, Desi Bouterse. Bouterse encontrou outra maneira para dar peso às promessas de seu partido: assinou um 'Contrato social' com o povo do Suriname. Dentro de cinco anos, veremos se o cumpriu.
RNW-Por Harmen Boerboom
(Foto: HB)

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