AMSTERDAM-“O livro Max Havelaar, de Eduard Douwes Dekker, é tão importante para as ciências sociais na Holanda quanto o livro A Origem das Espécies, de Darwin, para a biologia”, ressalta o estudante Pablo Moleman na abertura do Simpósio Max Havelaar e Comércio Justo, organizado pela Universidade Livre de Amesterdão em 18 de Maio.
Em 2010 completam-se 150 anos que o livro Max Havelaar, escrito pelo holandês Douwes Dekker, foi publicado. O romance, considerado um clássico da literatura holandesa, foi traduzido para 140 idiomas. Chegou a Portugal, mas não ao Brasil.
No entanto, o objectivo de Douwes Dekker não era se tornar famoso como escritor. Tanto é que escreveu o livro sob o pseudónimo de Multatuli. O autor considerava sua obra como um panfleto mal redigido. A única coisa que queria com o romance, em 1860, era agitar a opinião pública em relação à opressão aos javaneses pelos colonos holandeses.
Colonização à força
Tom Pfijfer, da Sociedade Multatuli, falou ao auditório universitário sobre o poder de influência que a Holanda exercia nas Índias Orientais Holandesas (actual Indonésia) quando Douwes Dekker ali vivia. Um tempo em que 200 funcionários holandeses controlavam à força 20 milhões de habitantes. “Os nativos eram obrigados a trabalhar arduamente nas plantações e não podiam sequer ficar doentes,” contou Pfijfer.
Douwes Dekker estava à serviço do governo holandês na ilha de Java, então colónia holandesa. Quando percebeu que seu país estava enriquecendo às custas da exploração da população local, pediu demissão, se exilou na Bélgica e escreveu Max Havelaar, narrando em forma de romance o que viu e adiantando a preocupação pelo comércio justo na Holanda. Sinalizou condições que só melhoraram para os agricultores de países pobres com o passar dos séculos.
Max Havelaar
Desde 1988, Max Havelaar dá nome ao selo que garante aos consumidores de 23 países que o café ou a banana que adquirem foram produzidos de uma maneira justa em países de desenvolvimento. No ano passado, 2,9 dos 7,31 milhões de lares holandeses adquiriram produtos de comércio justo.
Peter D’Angremond, director da Associação Max Havelaar, também participou do simpósio. Ele ressaltou que o comércio justo proporciona melhores condições de trabalho aos agricultores, ajuda a igualar os direitos dos homens e das mulheres e reduz o trabalho infantil no campo. D’Angremond também afirmou que esse tipo de produção contribui com o meio ambiente por estimular a agricultura orgânica e reduzir ao mínimo o uso de pesticidas no solo.
A contribuição do comércio justo para o meio ambiente foi questionada pelo professor Michiel Keyzer, da Universidade Livre de Amesterdão. Keyzer diz que a Associação Max Havelaar não apresenta nenhum dado concreto sobre essa questão.
Na opinião de Keyzer, o comércio justo ajuda principalmente um grupo de agricultores que já está estabelecido. Como exemplo, cita que a produção de bananas e café é proveniente, em sua maioria, da América Latina e não dos países dos continentes africanos e asiáticos que são os que mais sofrem com a fome no mundo.
De volta às origens
O estudante Martin Van ‘t Veld, da Universidade de Amesterdão, foi convidado pela Universidade Livre para apresentar dados do estudo que realizou. O estudante entrevistou nove responsáveis pelo processo do estabelecimento de comércio justo na Holanda.
Para Van ‘t Veld, o mercado de comércio justo contribui para que o objectivo de Douwes Dekker seja atingido, ou seja, faz com que aumente a consciência dos consumidores para o fato de que aqueles que plantam os alimentos que vão parar na mesa dos holandeses devam ter seus direitos humanos, sociais e trabalhistas respeitados, já que a exploração, como nos temos do herói Max Havelaar, continua existindo.
RWN- Por Daniela Stefano (Foto: Nagillum)
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