Assassinado à facada em casa de amigos
CAMINHA-"Ajuda-me por favor, estou cheio de dores." O último pedido de socorro de David Carvalho, assassinado à facada na madrugada de ontem, durante uma festa cabo-verdiana numa casa de amigos em Vila Praia de Âncora, Caminha, ecoa na cabeça de Walter a cada instante. Não consegue esquecer o momento em que viu o amigo, 24 anos, ensanguentado e com a mão na barriga. "Saímos da festa e levámos com gás pimenta na cara. Não sei quem atirou. Durante muito tempo não vi nada. Quando dei por ela já o David estava sentado a um canto cheio de sangue", conta ao CM Walter, ainda abalado.
Os amigos que estavam com a vítima na festa foram ontem ouvidos como testemunhas pela Polícia Judiciária. No entanto, à hora de fecho desta edição o homicida ainda não tinha sido identificado. As autoridades tentaram ainda contactar os proprietários da casa onde a festa decorreu, mas ontem o seu paradeiro era desconhecido.
O crime aconteceu por volta das 05h30, quando David saía da festa de uns amigos. O que se passou de seguida ninguém consegue explicar. O grupo foi atingido por gás pimenta e, no meio da confusão, o jovem foi esfaqueado. 'Vimos que ele estava a sangrar e metemo-lo no carro. Pelo caminho chamámos a ambulância, que veio ao nosso encontro. Ele perdeu muito sangue e morreu no hospital', contou Walter.
David Carvalho nasceu em Cabo Verde, mas há três anos veio morar para Portugal. O jovem frequentava o 3º ano do curso de Educação Física do Instituto Superior da Maia. 'Ele veio para Portugal para tirar o curso, era o sonho dele. Estudou muito e ganhou uma bolsa de estudo. O meu filho era um rapaz sensacional e não merecia o que lhe fizeram', lamentou ao CM Daniel Carvalho, pai da vítima, que reside em Lisboa.
Antes de seguir para a festa o jovem ainda ligou ao pai, a quem disse estar bem. 'Disse-me que estava bem e perguntou como estava', contou o pai. Ontem, ao final da manhã, a mãe de David, que vive em França, foi informada da morte do filho. 'Ela já está a caminho de Portugal. Está muito triste porque a última vez que viu o filho foi no Natal', afirmou Albertina Mascarenhas, madrasta do jovem. A autópsia ao corpo da vítima do crime deverá realizar-se hoje.
PORMENORES
TRÊS IRMÃOS
David, que viveu em Cabo Verde até há bem pouco tempo, tinha três irmãos mais novos. Os pais estão divorciados há já alguns anos e a mãe vive em França.
MUDANÇA DE CASA
A vítima, que residia com amigos na Maia, queria mudar de casa. Segundo o pai de David, o jovem queixava-se de que os colegas faziam muito barulho
"NÃO CONSEGUI VER O CORPO"
Quando viram David ensanguentado, os amigos não hesitaram: colocaram-no no carro e decidiram levá-lo ao hospital. Pelo caminho, os jovens ligaram ao INEM a pedir uma ambulância e combinaram esperar junto à farmácia de Carreço. "Não queríamos perder tempo e decidimos levá-lo ao hospital. Junto à farmácia ele passou para a ambulância", disse Walter.
Ainda antes de ser assistido, no carro dos amigos, David sofreu uma paragem cardio-respiratória. "O coração dele parou durante algum tempo e voltou a bater. Os enfermeiros disseram logo que ele estava muito mal e que ia ser difícil resistir", recordou o amigo.
David Carvalho ainda chegou a dar entrada no Hospital de Viana do Castelo, mas acabou por falecer pouco tempo depois. "Ainda não consegui ver o corpo do meu filho, não sei se vou ter coragem", disse Daniel, entre lágrimas.
CORREIO DA MANHÃ-Ana Isabel Fonseca/Alexandre Panda
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