sexta-feira, 7 de maio de 2010

REINO UNIDO:JORNALISTA BRITÂNICO ESCREVE SOBRE ELEIÇÕES NO REINO UNIDO

Boas-vindas a um parlamento dividido

1. Entusiasmado, é o termo. Estas foram, sem dúvida, as eleições mais interessantes em décadas. Não apenas pela expectável mudança de governo (a primeira efectiva desde 1997), mas também porque – ao contrário de 1997, quando o Partido Trabalhista ganhou por larga vantagem – o resultado manteve-se (e mantém-se) incerto, com três partidos a disputar a vitória com curta distância entre si. Vai ser por uma unha negra.
2. Outra razão para o entusiasmo de hoje: são as primeiras eleições nacionais desde o escândalo das despesas dos “Members of Parliament” que levou a que politicos rivalizassem com banqueiros na disputa do lugar de pessoas mais impopulares do país. Estará expresso nos votos dos dois grandes partidos?
3. Aqueles de nós que são da esquerda que vê o “New Labour” como um partido de centro-direita (depois da remodelação de Tony Blair), esperam que de facto exista um parlamento dividido. Se nem Trabalhistas nem Conservadores tiverem maioria, como tudo indica, terão de fazer acordos com os Liberais Democratas. Uma das principais mudanças políticas em que os LibDem deverão insistir é num sistema eleitoral assente na representação proporcional.
4. Buckingham, a minha área de voto, 50 milhas a noroeste de Londres, tornou-se um alvo dos media em Inglaterra. É liderada, actualmente, por John Bercow, um ex-conservador da ala esquerda do partido, que foi eleito porta-voz do parlamento no ano passado. É tradição nenhum partido desafiar o lugar do porta-voz. Desta forma, em Buckingham não temos qualquer hipótese de votar em Trabalhistas, Conservadores ou Liberais Democratas. Estamos desfranchisados.
5. Enviaram-se o link de um site (http://www.voterpower.org.uk) que calcula o “poder de voto” de cada eleitor britânico, dependendo da sua área de voto. Na minha, Buckingham, resulta que cada votante tem 0.016 de poder de voto, por causa do nosso sistema de voto. É tempo de mudar, acredito.
6. Antes desta campanha eleitoral começar, foi dito que seria a primeira “eleição na internet”. Verdade seja dita, é a televisão que tem dominado. Os primeiros debates de sempre entre os candidatos a primeiro-ministro galvanizaram a população – especialmente os mais novos – e fizeram com que as pessoas se interessassem pela “política”. Os resultados apurados parecem mostrar que o número de eleitores aumentou substancialmente face a 2005. Nick Clegg, o líder liberal democrata, emergiu como uma estrela, o que não significa que tal se traduza num aumento equivalente nos lugares dos Liberais Democratas no Parlamento.
7. As maiores cadeias de televisão, BBC e ITV, vão estar no ar durante a noite com o Especial Eleições. Durante as primeiras 2 horas a seguir ao fecho das urnas, há na realidade poucos resultados efectivamente apurados. À hora que escrevo, 00h20m, temos cinco círculos apurados. Os Trabalhistas ganharam quatro, e há um para o partido de direita DUP, na Irlanda do Norte. Alguns politicos estão a tentar fazer previsões com base nesta informação. Ridículo!
8. As notícias sobre as pessoas impedidas de votar à hora de fecho das mesas eleitorais são inusitadas na cínica Grã-Bretanha onde tipicamente apenas 2/3 dos eleitores registados efectivamente vota. Todavia, a maior parte das áreas onde estas situações se registaram são de larga maioria trabalhista, o que significa que dificilmente terão impacto no resultado final.
9. Outra surpresa foi saber-se que o primeiro-ministro da Irlanda do Norte, Peter Robinson, perdeu o seu lugar. No ano passado, a mulher de Peter Robinson, também ela política no activo, admitiu ter tido um caso com um teenager. A Aliança da Irlanda do Norte (única, por não ser nem católica nem protestante) conquistou pela primeira vez o primeiro lugar. Este resultado vai ter grande impacto nas políticas locais.
10. Gordon Brown, actual Primeiro-Ministro, fez o seu discurso de aceitação após ter conquistado o seu lugar de deputado pela Escócia. O discurso soou a uma despedida com o sumário das suas conquistas. Tanto ele como a mulher Sarah pareciam tristes.
11. Chegam mais resultados e o Labour, apesar de em quebra face a 2005, está a aguentar-se. Vai ser uma noite longa.
12 Outra tendência começa a desenhar-se. O partido Liberal Democrata falha, até aqui, na conquista de novos lugares no Parlamento, apesar do sucesso do seu líder, Nick Clegg nos debates televisivos. Torna menos provável que os LibDems sejam o fiel da balança do poder.
Sapo.Pt/Philip Harriss, jornalista britânico

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentar com elegância e com respeito para o próximo.