Feita a troca de espiões entre russos e americanos, conhecem-se agora alguns pormenores do acordo. Com o fim do caso, Barack Obama e Dmitri Medvedev respiram de alívio, explicam ao Expresso peritos em assuntos de segurança.
No início da semana, alguns dos filhos dos casais de espiões russos que operavam nos EUA partiram para Moscovo. Era um sinal de que um entendimento para a troca de informadores, consolidado hoje em Viena, estaria iminente. A autorização para a partida desses menores foi uma das condições previstas no acordo entre Washington e Moscovo.
Uma vez chegadas à capital russa, as crianças terão direito a educação gratuita, segundo foi revelado ontem durante uma audiência em tribunal, que terminou com a confissão dos dez espiões russos (condição fundamental para a sua deportação).
Desconhecem-se quais as compensações prometidas aos quatro espiões americanos.
Regresso à Rússia 15 anos depois
Outros dos detalhes revelados foi o de que Vicky Pelaez, o único elemento do grupo sem cidadania russa, teria já recebido a garantia do Governo de Vladimir Putin de que terá direito a casa paga e a uma pensão vitalícia de 2000 dólares (cerca de 1580 euros) mensais.
Em contrapartida, todos os indivíduos (alguns residiam nos EUA desde meados da década de 1990) renunciaram aos bens, ficando proibidos de regressar.
O grupo foi descoberto no início da semana passada, numa operação montada pelo FBI. Quatro casais e mais duas mulheres tinham recebido ordens do SVR (serviços secretos russos) para se infiltrarem na sociedade americana, especialmente junto de círculos de poder, e recolherem informação relevante.
Evidentemente, o caso faz lembrar os tempos áureos da Guerra Fria e os seus contornos (quantias avultadas de dinheiro enterradas em locais secretos, mensagens escritas com tinta invisível e agentes sensuais, peritas na arte da sedução) a saga 007.
A última troca de espiões entre Moscovo e Washington tornada pública ocorreu em 1986, na ponte Glienicke, que ligava as partes ocidental e oriental de Berlim.
Washington e Moscovo respiram de alívio
"Foi do melhor interesse para todos que este fosse o desfecho. É evidente que quer a diplomacia americana quer a diplomacia russa não queriam que este episódio prejudicasse as relações entre os dois países, que têm melhorado de ano para ano, particularmente nos últimos meses, depois da vinda do Presidente Medvedev a Washington", explica ao Expresso Jeffrey Burds, professor de História russa e soviética na Universidade Northeastern, em Boston.
Sinal desse pragmatismo foi a entrevista de ontem à noite de Rahm Emanuel, Chief of Staff da Casa Branca, à televisão pública americana PBS. "O Presidente Obama esteve sempre informado de todo o processo e uma coisa é certa: as relações entre EUA e Rússia continuam a muito bom nível", disse, negando eventuais consequências negativas deste episódio.
"Até hoje, várias trocas ocorreram em segredo. Neste caso, justamente por ter havido tanta publicidade, tenho a certeza de que ambos os lados desejavam que tudo terminasse rapidamente", afirma ao Expresso Mark Stout, um ex-analista de assuntos soviéticos, que durante anos trabalhou para a CIA.
Republicanos protestam
Restam as consequências políticas. Em Washington, a oposição republicana critica a atitude "branda" da administração Obama.
Ontem, Mitt Romney, o ex-governador do estado de Massachusetts e provável candidato à presidência do país em 2012, apelou ao Senado para que rejeite o novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas, acordado no mês passado pelos chefes de Estado americano e russo
Hoje, foi a vez de Peter Hoekstra, líder conservador no Comité de Assuntos de Segurança Interna, mostrar o seu descontentamento: "Embora o Presidente Obama refira que as relações com a Rússia recomeçaram do zero e que foi estabelecido um novo clima de confiança, não sei se do lado deles a atitude é a mesma".
Ricardo Lourenço, correspondente nos EUA (http://www.expresso.pt/)
http://aeiou.expresso.pt/pensao-vitalicia-e-casa-paga-para-os-espioes-russos=f593079
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