CV(EXPRESSO):Cabo Verde e Canadá querem reforçar laços institucionais

PRAIA-Pela primeira vez, desde que exerce a função, Michaëlle Jean, Governadora Geral do Canadá, e Chefe de Estado em funções, visitará Cabo Verde, entre hoje e amanhã. A deslocação ao arquipélago insere-se no âmbito do périplo africano da responsável política canadiana.
Como membro da Commonwealth, o Canadá tem na Rainha Isabel II, do Reino Unido, o seu mais alto magistrado. A organização política do país estabelece, contudo, que é ao Governador-Geral que cabe exercer o cargo, em efectividade de funções. Daí, a importância atribuída pelas autoridades cabo-verdianas à visita de Michaëlle Jean.
Em conferência de imprensa de apresentação do programa da visita, o director dos assuntos políticos e cooperação, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, destacou que "o Canadá é um grande país no contexto internacional". Para José Luís Rocha, "receber a visita da Chefe de Estado canadiana não é algo banal ou puramente simbólico".
República Democrática do Congo, Ruanda e Senegal são os outros países incluídos da ronda africana de Michaëlle Jean. Consigo traz uma delegação de personalidades que operam em áreas como governação, direitos das mulheres, jornalismo, cultura, juventude e cidadania.
Além dos encontros com Pedro Pires, a homóloga do Presidente cabo-verdiano será recebida pelo presidente da Câmara Municipal do Sal, Jorge Figueiredo, e visitará a Associação Valorizar Sal (ver texto sobre programa da visita).
Cabo Verde e Canadá não têm uma grande tradição de cooperação bilateral. A situação poderá, agora, ser alterada. Na Praia, o embaixador canadiano, Jean-Pierre Bolduc, apontou dois motivos para a deslocação da Governadora Geral. "O primeiro motivo é o interesse que Cabo Verde desperta, pelo progresso e evolução positiva" nos últimos anos. "Em segundo lugar, a escolha é natural, pela partilha de valores comuns, nas áreas dos direitos humanos, boa governação e desenvolvimento".
Dificuldades técnicas no aeroporto da Praia fazem com quem Michaëlle Jean seja recebida, apenas, na ilha do Sal. O avião em que se desloca é demasiado grande para a pista do aeroporto internacional da capital. Situação semelhante ocorreu, em 2009, durante a visita da Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton.
24 horas para produzir resultados
Em território nacional por pouco mais de 24 horas, Michaëlle Jean cumprirá um intenso programa, quase sempre acompanhada por Pedro Pires.
O Presidente da República irá recebê-la ao aeroporto internacional do Sal. O seu avião aterrará na pista do Amílcar Cabral às 15h35 do dia 23. Ainda no aeroporto, os dois manterão um encontro formal, findo o qual será produzida uma declaração conjunta, com direito a perguntas dos jornalistas.
Jean seguirá depois para o hotel, de onde sairá às 20h00, para o jantar oferecido por Pedro Pires.
Sábado, começará com uma deslocação à Câmara Municipal do Sal, onde será recebida por Jorge Figueiredo. Depois da visita à exposição alusiva aos barcos canadianos nos quais, no início do século XX, eram transportadas mercadorias entre as ilhas do arquipélago, a comitiva irá às Salinas de Pedra de Lume.
O almoço do dia 24, com representantes da sociedade civil, ocorrerá no restaurante Odjo d'Água, em Santa Maria.
O último acto público da agenda acontecerá às 14h45, com uma recepção comunitária e encontro com os representantes da Associação Valorizar Sal.
Perfil: De jornalista a representante da rainha
Michaëlle Jean nasceu em Port-au-Prince, Haiti, em 1968. Para fugir à ditadura, cedo fugiu, com a família, para o Canadá.
Fez a sua formação académica na área linguística - é fluente em cinco idiomas: francês, inglês, italiano, espanhol e crioulo do Haiti - e o seu percurso profissional como jornalista. É casada com o cineasta Jean-Daniel Lafond, o que lhe terá valido a participação em alguns filmes documentários.
Foi diversas vezes galardoada com prémios na área da comunicação, entre eles, o troféu da Amnistia Internacional. Faz parte da Ordem dos Cavaleiros da Plêiade, título atribuído pela Assembleia Internacional dos Parlamentares de Língua Francesa.
Chegou ao cargo de Governadora Geral, em 27 de Setembro de 2005. É a vigésima sétima personalidade nomeada para o cargo, desde 1867.
O Canadá faz parte da Commonwealth, uma associação de territórios autónomos, mas dependentes do Reino Unido, criada em 1931 e formada actualmente por 54 nações. Como tal, o seu Chefe de Estado é o monarca britânico, no caso, a Rainha Isabel II. O posto é meramente simbólico. Na prática, o cargo é exercido pelo Governador-Geral. Ou seja, a rainha rege, mas não governa.
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