quarta-feira, 21 de abril de 2010

HOLANDA:PEDRAS NO CAMINHO DA POLÍTICA HOLANDESA

HAIA-A Holanda se prepara para eleições parlamentares em tempos turbulentos, confrontada com o corte massivo de 30 bilhões de euros no orçamento e dividida por um debate acalorado sobre imigração.
A eleição, em 9 de Junho, foi marcada quando o actual gabinete entrou em colapso, após uma enorme tempestade política sobre o prolongamento da missão das tropas holandesas no Afeganistão. O colapso do governo foi o quarto seguido no gabinete liderado pelo democrata-cristão Jan Peter Balkenende, o que mostra o quão dividida se tornou a política holandesa, antes tão estável.
O tema mais importante nesta eleição é o corte no orçamento. Por causa da recente crise financeira, o governo holandês está operando com deficit. O próximo governo será forçado a fazer cortes, talvez drásticos. Partidos políticos têm apresentado suas plataformas e cada partido, da esquerda até a direita, propõe cortar despesas administrativas entre 10 e 30 bilhões de euros nos próximos cinco anos.
Propostas drásticas
Algumas das propostas mais drásticas incluem eliminar a ajuda ao desenvolvimento, reduzir o exército pela metade e demitir milhares de funcionários públicos. Estas têm poucas chances de serem aprovadas, mas os eleitores encaram a possibilidade real de ter que pagar mais por serviços de saúde, ter os benefícios do seguro desemprego diminuídos e precisar trabalhar por mais tempo.
Além do prospecto de cortes massivos, problemas em torno de questões de imigração e integração também deverão chamar a atenção do eleitor e ter um papel central na campanha para as eleições. Dez por cento dos residentes na Holanda (1,8 milhão) são imigrantes não-ocidentais ou descendentes deles. Alguns partidos políticos, mais notadamente o do político de direita Geert Wilders, Partido da Liberdade (PVV), acertam no alvo com partes do eleitorado ao afirmar que a integração é um problema grave.
Eleitores inconstantes
Esta será apenas a segunda eleição nacional da qual o PVV participa – o partido foi fundado por Geert Wilders em 2005 - depois que este se afastou do partido liberal-conservador VVD. Embora o partido ainda seja muito novo, até recentemente aparecia como o maior nas pesquisas de intenção de voto. Um partido anterior, com posições similares, a Lista Pim Fortuyn (LPF), quase chegou a ser o maior na primeira vez em que participou nas eleições nacionais, em 2002.
Recentemente, o PVV teve sucesso nas eleições municipais, vencendo em Almere e ficando em segundo em Haia, as duas únicas cidades em que tinha candidatos.
O PVV de Geert Wilders, assim como o partido de Pim Fortuyn antes dele, se beneficia de uma nova tendência na política holandesa: eleitores se tornaram inconstantes. Eles já não são leais a um partido de uma eleição para a outra, mas gostam de procurar aqui e ali. Geert Wilders e Pim Fortuyn – assassinado em 2002 – souberam como conquistar estes eleitores.
Muitos partidos
O facto de que há muitos partidos na Holanda também ajuda. Não há limites para quantas cadeiras um partido precisa ter no parlamento. Se um partido tem votos suficientes para um único lugar (cerca de 65 mil votos), ele está dentro.
O actual parlamento holandês conta com onze partidos, e ter doze ou treze não é incomum. Sessenta e um partidos estão registados para participar das eleições em Junho.
Dor de cabeça
Ter muitos partidos também significa muita dor de cabeça na hora de governar. Um partido nunca consegue vencer com maioria absoluta no parlamento (76 cadeiras). Portanto, após as eleições, o partido com o maior número de votos tem que procurar parceiros para formar uma coalizão. Os últimos governos tiveram três partidos na coligação.
Mas este ano deverá ser ainda mais difícil formar uma coligação. Os três principais partidos não têm se saído tão bem quanto antigamente nas pesquisas, perdendo popularidade para partidos como o PVV. Muitos acreditam que serão necessários pelo menos quatro partidos para se chegar a uma maioria, tornando muito complicadas as negociações sobre que políticas serão implementadas e a divisão de postos ministeriais.
E isso num período em que o debate popular é dominado por temas potencialmente explosivos - os cortes nos gastos públicos e a integração. O caminho diante da política holandesa é de muitas pedras.
RNW Por John Tyler (RNW)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentar com elegância e com respeito para o próximo.