13 De Maio - Santa Catarina celebrou festas
ASSOMADA-Apesar de contar este ano com o maior orçamento de sempre, a Câmara Municipal de Santa Catarina de Santiago disponibilizou apenas uma pequena parte desta verba para as actividades culturais e desportivas que se realizam naquele concelho. De acordo com o edil Francisco Tavares, em tempos de crise, há que se concentrar os recursos em áreas prioritárias como a habitação, a água, o combate à exclusão educativa e a criação de empregos.
Expresso das ilhas - A CMSC anunciou que as festividades do dia 13 de Maio vão ser celebradas sob o digno da contenção. Que actividades vão então ser prioritárias?
Francisco Tavares - Embora seja o ano em que o município está tendo o maior orçamento de sempre (um milhão e duzentos mil contos), temos, em tempo de crise, de concentrar os recursos em áreas que são de maior prioridade, nomeadamente os problemas de habitação, da água, do combate à exclusão educativa e da criação de emprego para garantir a sobrevivência de muitas famílias pobres. Mesmo assim, as celebrações do 9º aniversário da Cidade da Assomada e das festas da Nossa Senhora da Fátima vão decorrer num ambiente de muita actividade musical. Tivemos já um concerto de Jazz e nos dias 14 e 15 vamos ter o festival de música com Suzana Lubrano e Gylito como cabeças de cartaz. Será um festival de música preenchido, como prioridade absoluta, por artistas do Município de Santa Catarina residentes e da diáspora. Está em curso tendo uma intensa actividade desportiva, para além de actividades de carácter político. O município vai geminar com Boa Vista, acordo esse que visa fazer com que a edilidade promova a devida integração dos naturais de Santa Catarina que trabalham nessa ilha, para que eles também, possam contribuir da melhor forma para o desenvolvimento da Boa Vista. Na nossa parte cuidaremos também devidamente dos naturais da Boa Vista que residem e residirão no futuro em Santa Catarina sobretudo aqueles que virão estudar na universidade de Santiago ou que frequentarão o concelho para negócios. Este protocolo abrange ainda as áreas desportivas, culturais e técnico.
"Sangui ka ta laba"
Vamos também geminar com São Salvador do Mundo que é um concelho que nasceu do desmembramento do antigo concelho de Santa Catarina. Como se diz em bom crioulo ‘sangui ka ta laba'. Por isso Santa Catarina e São Salvador do Mundo não podem viver de costas voltadas, devemos constituir uma única unidade de planeamento. No essencial, devemos promover a coordenação dos nossos recursos para que possamos explorar no máximo as nossas complementaridades e sermos mutuamente úteis um ao outro. No âmbito da programação, vamos ainda inaugurar o polivalente de Nhagar e iniciar obras para várias outras infraestruturas desportivas no concelho.
Diz que ‘sangui ka ta laba'. No caso de Santa Catarina e São Salvador do mundo as cores políticas misturam-se?
As cores políticas foram criadas pelos homens. Ninguém nasce num partido amarado ao pescoço. Antes de mais, Santa Catarina e Picos são formados praticamente pela mesma população. Boa parte das pessoas de Santa Catarina tem familiares nos Picos e vice-versa. Eu pessoalmente, o meu bisavô materno era dos Picos. Por isso digo que a cumplicidade que devemos desenvolver para o bem-estar das duas populações deve situar-se acima das diferenças partidárias que só se manifestam durante as campanhas eleitorais. Todos precisamos um do outro: Picos tem um potencial a explorar que é a economia de conexão, por ser vizinho de um concelho pivot (Santa Catarina) que é o centro da ilha, a meio caminho entre o interior e a Praia.
Alternativa à Praia
Santa Catarina está a preparar para ser alternativa à Praia e ser um verdadeiro pivot no interior de Santiago: é este o desafio que temos que vencer com vista a dinamizar a economia do interior de Santiago e estancar o êxodo para Praia. Temos serviços regionais como o Hospital Regional Santiago Norte, o Centro de Emprego e Formação Profissional, a Escola Técnica, a Universidade de Santiago que mais que regional é nacional. Trata-se da primeira universidade privada criada por cabo-verdianos fora da Praia. Com isso pretendemos criar condições para que a maior região de Cabo Verde, a região de Santiago Norte, seja em termos económicos, em termos de conhecimento e culturais seja uma região pujante e, se calhar, líder em Cabo Verde.
Falou no maior orçamento de sempre, disponibilizado à CMSC. Que fasquia vai para as festividades do dia 13 de Maio?
São cerca de 6 mil e 200 contos e boa parte desta quantia vai para as actividades culturais não só para a cidade de Assomada, mas também para as festas de romaria que são também momentos para produção cultural em várias zonas no município: o 31 de Maio na Ribeira da Barca, vem aí as festas da Tabanka que decorrem durante todo o mês de Maio, primeiro em Chã de Tanque e a partir do 15 de Maio em outras zonas da Ribeira dos Engenhos e por volta de 12 e 13 de Junho em Achada Leite.
Celebra-se também o 9º aniversário da elevação de Assomada à categoria de Cidade. Ao que parece esta elevação não trouxe o esperado impulso ao desenvolvimento do município, mas sim a criação da Universidade de Santiago que tem sido palco de várias actividades académicas e culturais. Será?
A criação da Universidade de Santiago é uma das coisas mais importantes que aconteceu neste século neste município. Nós apostamos a fundo neste projecto. Assinamos um protocolo estruturante para o funcionamento desta universidade e vamos continuar a investir a fundo neste projecto, porque vem ao encontro do nosso objectivo que é transformar Santa Catarina e Assomada num concelho e numa cidade do conhecimento. A Uni-Santiago já tem neste momento 7 centenas de estudantes e já faz emergir uma comunidade académica no concelho. A universidade já está dando, neste momento, um contributo essencial para produzir um choque cultural, porque não só organiza e produz eventos académicos e culturais como obriga as pessoas a serem mais exigentes consigo próprias. Por esta via a cidade sai a ganhar em termos de inovação e desenvolvimento.
Como é que a cidade está preparada para acolher os actuais e futuros estudantes da universidade?
Em 2001, a Assomada ganhou o estatuto de cidade, mas tenho que dizer que, no essencial, muito pouca coisa foi feita nos primeiros 7 anos para dar dotar a cidade das infraestruturas necessárias. Para já a população de cidade duplicou, mas não se duplicou o volume de água disponível, não se fez qualquer investimento na área do saneamento, para não falar da requalificação urbana. Neste momento, a cidade está as infraestruturar-se: está prestes a ser concluído um pólo desportivo que será o melhor de Cabo Verde. Isto fará com que ganhemos uma nova centralidade desportiva: seremos um novo destino para o desporto nacional e internacional. A CMSC assinou, na última sexta-feira, um contrato para o projecto água e saneamento para a cidade de Assomada no valor de um milhão de contos.
Palácio da Cultura de Santa Catarina
Em relação à habitação a cidade vai ser dotada de edifícios em situações concorrenciais com a Praia para que os quadros tanto da universidade como do Hospital Regional possam fixar-se no município. Infraestruturando a cidade com equipamentos desportivos e daqui a pouco com equipamentos culturais também (vamos avançar com o projecto Palácio da Cultura de Santa Catarina), mais modernas infraestruturas urbanas e com oferta de habitação condigna, a cidade tornar-se-á cada vez mais atractiva, enquanto núcleo urbano principal que, por sua vez, irá integrar-se numa rede urbana que vamos promover que incluirá Rubon Manel de Tomba Torre que vai comemorar este ano o primeiro centenário da sua histórica revolta. O município já tem um programa que será apresentado ao governo ainda este mês. O lançamento do programa acontece no mês de Maio e as actividades celebrativas decorrerão no mês de Junho até o final do ano. As comemorações do primeiro centenário vão ser oportunidade para se incentivar que se escreva a verdadeira história da revolta de Rubon Manel da qual se conhecem apenas alguns episódios desgarrados. Da mesma forma essa efeméride dará ensejo para se recentrar a atenção pública sobre esta zona que é um marco na história emancipatória de Cabo Verde.
Podia apresentar mais de perto o projecto do Palácio da Cultura?
O casarão que fica atrás do mercado e que vamos adquirir e restaurar será o futuro Palácio da Cultura de Santa Catarina que albergará a futura Escola de Arte e Cultura de Cabo Verde. Para esse efeito, já estabelecemos contactos com a Uni-Cabo Verde para que ela seja uma unidade associada dessa universidade. Como a nossa universidade pública não tem uma escola superior de arte e cultura e como o interior de Santiago não ganhou ainda um pólo universitário público, achamos por bem começar pela escola de arte e cultura, para que ela nasça, cresça e floresça em Santa Catarina.
Quando é que o Palácio da Cultura abrirá as portas?
Até 2012 estará pronto.
A elevação de Assomada a cidade, em muitos aspectos, não passou de um golpe administrativo. O que pretende fazer até o final do seu mandato para reverter essa situação?
Primeiramente, nós temos uma visão clara para a cidade de Assomada. Aliás, antes de ser candidato, afirmei que concorria à CMSC com o propósito de fazer da Assomada uma cidade alternativa à Praia, nomeadamente nas áreas do conhecimento, da cultura, da prestação de serviços e na área comercial que é a sua vocação. Até o final do meu mandato, no domínio da qualidade urbana, a cidade estará devidamente requalificada, estando já várias obras em curso; a cidade estará dotada de uma moderna rede de esgotos com tecnologia de ponta para tratamento de águas residuais. Até o final do mandato teremos um dos mais avançados sistemas de limpeza urbana. Vamos, para esse fim, registar uma sociedade denominada Assomada Verde que operará na área da limpeza urbana com patrões de países do primeiro mundo. No domínio do comércio, estamos a concluir o mercado novo, a requalificar o mercado velho e vamos ainda construir o centro comercial do Sucupira denominado "Nos Colombo" que será o maior centro comercial de Santiago. Dentro de um mês iremos arrancar com as obras de requalificação do cinema de Assomada, devendo estar aberto e a funcionar por ocasião das festas de Santa Catarina.
Museu Amílcar Cabral em Achada Falcão
O município de Santa Catarina vai avançar com o projecto do Museu Amílcar Cabral que ficará em Achada Falcão na casa onde Cabral viveu parte da sua infância. Vamos trabalhar neste projecto com a Universidade Lusófona com a qual assinamos um protocolo cobrindo exactamente a área da museologia com vista à criação do referido museu. O projecto passará pela compra da casa e da propriedade circundante, porque o museu funcionará como um centro cultural. Vamos ordenar uma boa parte desta área para ser o Centro Cultural Amílcar Cabral. Dessa forma, com Rubon Manel Tomba Torre, enquanto destino turístico à volta da revolta de 1910, com o Centro Cultural/Museu Amílcar Cabral, com todas as valências culturais, na Assomada, a que me referi, com o Museu da Tabanka, em Chã de Tanque, e a Casa do Morgado nos Engenhos, teremos toda uma cintura de ofertas culturais para dinamizar a vida na cidade da Assomada.
A Assomada não escapa também à tendência nacional de rebaptizar espaços culturais por motivos meramente emocionais. Felizmente ficam com um nome compósito. Exemplo: Centro Cultural Norberto Tavares antigo Museu da Tabanka. Será essa a sua via?
Não é essa a minha via, sobretudo porque o rebaptizar não cria nada de novo. Nós temos que ser muito mais ousados. Somos um concelho de gente que sempre se distinguiu pela ousadia e esse é o estilo da maioria que eu dirijo. Aliás, foi isso que nos trouxe a Assomada: desafiar o destino e quem for que seja para fazer da nossa cidade uma verdadeira capital do interior de Santiago. De resto, o Centro Cultural Noberto Tavares tem apenas o nome do músico, não mais do que isso. O Museu da Tabanka que já era um centro cultural fazia bem jus ao valor da tabanka no nosso concelho, embora Chã de Tanque seja uma zona da tabanka por excelência, mas a tabanka não merecia ser acantonada numa zona do concelho. Merecia sim a Praça da Assomada, era ali o seu lugar para mostrar que a tabanka chegou à cidade. Desta forma levou-se a tabanka outra vez para a ribeira.
Como é que se defende das várias críticas que vêm da bancada do PAICV da Assembleia Municipal, nomeadamente perseguição, insultos, nepotismo e megalomania como estratégia de afirmação?
Todas essas críticas não têm nenhuma relação com a realidade e por isso não têm qualquer valor. A oposição tem que fazer o seu papel, mas espero que o faça dentro do sistema e não seja anti-sistema. Dentro do sistema significa que tem que trabalhar enquanto parte com responsabilidade, mas não nessa do bota-baixo. O que existe, de facto, é uma governação em diálogo. Infelizmente a oposição não se dá ao trabalho de ler os nossos documentos e de consultar os nossos projectos. Esperam por algum aspecto criticável para fazerem disso o seu cavalo de batalha. Mas isso para mim, não se reveste de nenhum valor. O que conta, para mim, é o trabalho que eu faço, a gestão transparente e a amizade dos munícipes. Apenas isso.
AM, Expresso das Ilhas
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