quarta-feira, 24 de março de 2010

CPLP:"Não há donos do português" - embaixador António Monteiro

O embaixador António Monteiro, ex-ministro português dos Negócios Estrangeiros, afirmou à Agência Lusa em Paris que "não há donos da língua" e que uma "atitude sentimental" em relação ao português clássico apenas será prejudicial a Portugal.
"Não há donos da língua e o português só ganha em ser percebido como uma língua que é de todos e de cada um que a utiliza", declarou António Monteiro, entrevistado pela Lusa numa visita recente à capital francesa.
António Monteiro frisou que "o português tem novas possibilidades de se impor, porque é um instrumento de trabalho e é essencial para entrar em certos mercados", como é o caso de Angola.
"Temos de fazer uma reflexão muito mais orientada para a ação do que aquela que fazemos, (que) é muito intelectual e sentimental, mas pouco eficaz em termos de utilização", declarou António Monteiro, em vésperas de uma conferência internacional sobre o futuro da língua portuguesa, a partir de quinta feira e durante uma semana em Brasília.
"Se queremos desaparecer, passe o exagero, é ter essa atitude. Se queremos dar a dimensão internacional ao português, temos de aceitar o português falado como os povos que o falam entendem falá-lo", acrescentou o diplomata.
As discussões em torno do novo Acordo Ortográfico "são exercícios intelectuais extremamente interessantes", segundo o diplomata português, que considera "importante manter uma ligação ao português clássico e erudito". E defende "que o desenvolvimento da língua vá de par com o desenvolvimento da escola".
"Não penso que se deva entrar em caminhos de rejeição, quem perde somos nós, não são os outros", avisa, no entanto, António Monteiro.
Dando o exemplo do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, António Monteiro salienta que "o Brasil, pela primeira vez, assumiu plenamente a origem europeia do português e fê-lo frontalmente, mencionando depois tudo aquilo que tem dado - e é muito - à língua portuguesa".
"Temos uma língua que tem poder à escala mundial e esse poder é o Brasil. E interessa também ao Brasil ter na sua identidade como potência algo que o distingue dos outros. Isso é bom para os países africanos, para Portugal e para todas as regiões onde se fala português", afirmou António Monteiro.
"A boa imagem que Portugal tem vem muito da nossa cultura, da simplicidade da nossa ação com a gente local, mas também da língua portuguesa, por exemplo com os nomes que ficaram, como os vocábulos de origem portuguesa do malaio ou do japonês", sublinhou o ex-chefe da diplomacia portuguesa.
"Sou a favor da diversidade porque sempre achei que a diversidade faz a riqueza da língua. Temos de evitar que um dia haja o português e o brasileiro, o moçambicano ou o angolano" como línguas diferentes, alertou o embaixador.
"Nós, portugueses, também falamos português", concluiu António Monteiro, citando outro antigo chefe da diplomacia portuguesa, Adriano Moreira.
Destak/Lusa
destak@destak.pt

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