RIO DE JANEIRO-O temporal é já considerado o pior da história do Rio de Janeiro: as chuvas bateram recordes e deixaram a cidade e o estado num caos, provocando dezenas de mortos, em números que iam sendo revistos em alta e que poderiam ainda aumentar devido ao grande número de desaparecidos.
As ruas da cidade estavam ontem transformadas em rios – em algumas zonas havia mesmo barcos improvisados a cobrar um real (cerca de 40 cêntimos) para quem quisesse passar para o outro lado.
O estádio do Maracanã ficou coberto de lama, o ginásio alagado com a água a chegar a mais de um metro de altura e alguns atletas ficaram a dormir na tribuna da imprensa – a chuva tinha começado a cair ainda na segunda-feira à noite.
Havia relatos de moradores que tentaram regressar a casa na noite de segunda-feira e chegaram apenas hoje de manhã. Havia histórias de pessoas que desistiram de voltar a casa e dormiram no local de trabalho, histórias de autocarros que levaram seis horas a fazer seis quilómetros. Isto, claro, para além de pessoas que ainda estavam soterradas, especialmente nas favelas, e das dezenas de feridos.
As principais causas das mortes foram os aluimentos e desabamentos de terras em particular nas favelas construídas em morros ou encostas, segundo os bombeiros, citados pelo jornal “Folha de São Paulo”. Entre as vítimas mortais estavam um bebé de sete meses e uma criança de nove anos.
“Perdi todos os meus móveis. Mas pelo menos estou vivo”, comentava ontem um morador do Rio, Antônio Hélio da Silva, ao diário “O Globo”. “Não aparece ninguém para ajudar. É uma desolação ver a água pela janela”, queixou-se.
Dois meses de chuva num dia
Em 12 horas choveu o dobro do que se esperava que chovesse em todo o mês de Abril. Foi a maior precipitação acumulada no Rio num período de 24 horas: 278 milímetros contra os 245 do anterior recorde, de 1966.
A dimensão do temporal foi uma surpresa: ainda segunda-feira à tarde o boletim meteorológico previa apenas chuvas moderadas e ventos fortes, segundo o prefeito do Rio, Eduardo Paes.
Foi declarado o estado de emergência e a cidade estava em alerta vermelho: previa-se que as chuvas continuassem ainda pelo menos até hoje.
A cidade entretanto ficou praticamente paralisada: as aulas foram suspensas em escolas e universidades; nos aeroportos que servem o Rio (Galeão e Santos Dumont) os aviões mantinham-se em terra – o que causou demoras no aeroporto de Congonhas, em São Paulo – e as autoridades apelavam a que as pessoas não saíssem se casa e sobretudo não se dirigissem ao centro para permitir a circulação rápida das equipas de resgate.
O Presidente Lula apelou mesmo aos empregadores para que não descontassem o dia de trabalho a quem ficou em casa.
A excepção ao apelo de não sair era apenas a dos moradores das encostas, que foram aconselhados a fugir: “Nesse caso, é suicida ficar em casa”, comentou o governador do Rio, Sérgio Cabral.
Muitas vias estavam de qualquer modo intransitáveis com a água e a terra a impedirem a passagem. O temporal fez cair muitas árvores e fez com que fosse interrompido o abastecimento de energia eléctrica: os moradores foram avisados para não usar elevadores por causa do risco de corte de energia.
Houve ainda uma subida extraordinária das águas das lagoas. “Para vocês terem uma ideia, a Lagoa Rodrigo de Freitas, em geral, tem 50 centímetros. Hoje está com 1,40m”, disse o prefeito da cidade, Eduardo Paes, citado no diário Estado de São Paulo.
PUBLICO.PT
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