PRAIA-Nos últimos dias, a violência policial, abuso de autoridade e casos de alegada tortura voltaram a ser denunciados na comunicação social, com o episódio dos oito jovens na ilha Brava – e internamento de um deles devido aos ferimentos causados pelas agressões – estão a causar alguma revolta no seio da população da “ilha das Flores”.
São casos e mais casos de polícia que dividem a sociedade cabo-verdiana em relação à proporção dos delitos cometidos por jovens delinquentes e não só, e o “castigo” aplicado. Se para uns, os “criminosos” merecem o castigo, já, para outros, estando nós a viver num Estado de Direito, a justiça, ou melhor os tribunais devem funcionar, em vez da “tortura” aplicada.
Até porque, só os tribunais é que têm o poder de condenar, defendendo, assim, os inocentes de responder pelos crimes cometidos por outrem.
Mas os casos de abuso policial, tortura e violência dos agentes da PN acontecem, segundo fontes do nosso jornal, devido a uma selecção muito deficiente dos candidatos à entrada na Polícia Nacional.
LOBBIES NA POLÍCIA
“A maioria das vezes, a selecção é feita na base de ‘lobbies’ entre amigos e familiares. Enfim, a entrada na polícia, deixa a entender claro, que não está sendo rigorosa. Parece ser um autêntico “Centro do Emprego’”, dizem. “Esses aspectos mencionados podem não cair no agrado de muita gente, em especial na nossa instituição policial. Mas, se se fizer um inquérito profundo e rigoroso, de certeza, irão constatar todos os factos apontados”, garantem.
E são vários os casos de Polícia que merecem alguma preocupação da sociedade cabo-verdiana, ou seja, a forma abusiva e violenta como actuam no terreno, dizem as nossas fontes, muito familiarizados com questões policiais. Vejamos alguns factos que Liberal conseguiu apurar:
- Os familiares de 8 jovens detidos por desacatos na Ilha Brava acusam a polícia de tortura. Todos eles foram conduzidos ao Centro de Saúde e um deles ficou internado com ferimentos de alguma gravidade;
- Um agente de trânsito, aborda um condutor, sem se cumprimentar, pediu-lhe os documentos. O condutor, muito educado, disse-lhe que, pelo menos desse um “bom dia”. De imediato, o agente repostou: “o Sr. está preso”. O condutor disse-lhe, OK, estou preso. E foram à Esquadra;
- Um grupo de agentes, de serviço em Palmarejo, aborda um adolescente que ia da casa dos pais para a casa da tia. Depois das bruscas revistas e interrogatórios libertaram-no com uma carga de “tabefes”;
- Um Sub-chefe da polícia, em estado de embriagues, chega a um local de venda de bebidas, pede a um cidadão que lhe pague uma bebida. Este, concordando, paga-lhe a tal bebida. O sub-chefe, depois de um certo show e invenções, acabou por prender o cidadão por 24 horas numa cela imunda sem direito a contactar a família;
- Agentes da BAC, chamados para intervenção de um caso, chega, sem abordagem, agridem com as algemas ao suposto indivíduo em questão fracturando-lhe o nariz. O interessante nessa forma de actuar é que o agredido era um agente da polícia;
- Um formando da polícia, sai durante um fim-de-semana, embebeda-se numa festa, dança com uma moça comprometida, arrasta as asas pela moça, faz distúrbios, pede desculpas, arranja complicações de novo, intimida as pessoas identificando-se como sendo agente da polícia e, por fim, agride a moça com uma garrafa, levando esta 40 pontos;
- Um agente da Polícia de Fronteira aborda de forma deselegante um condutor no Aeroporto da Praia por mau estacionamento. Quando este pediu ao agente para ter modos, o agente chamou mais dois polícias, multaram o indivíduo por estacionamento quando este estava sim a recolher um peão. E ainda por cima ameaçaram o condutor com palavras elucidativas: “depôs nu ta peg’al”. Assistido por muita gente que mais tarde reportou ao Liberal este caso de abuso de autoridade.
- Um agente à paisana, récem-formado, todo bêbado, em plena luz do dia (11 horas da manhã), entra numa esquina, sem se preocupar com as pessoas, faz o seu “xixi”. Abordado por um cidadão pelo seu acto, respondeu mal ao cidadão e depois de algumas “bocas” ele prometeu tiro. A partir daí é que se viu que era um agente da polícia;
- Um sub-chefe da polícia, num fim-de-semana, vai à esquadra, na companhia de uns colegas libertar um cidadão. Na esquadra, os colegas interrogaram ao sub-chefe se iria libertar o tal preso sem um correctivo. Esta é a prática de quase todos os agentes da PN;
- A BAC é accionada para intervir num bairro da Capital. Chega ao local, um dos agentes viu um adolescente a fugir, reage de imediato com um tiro na nuca;
- Um agente da PN leva detido à esquadra um adolescente. Ali, o adolescente é castigado com o cabo de uma faca no “olho” de um dos pés;
- A polícia, chamada, aparece no local, aprisiona um cidadão, leva-o à esquadra, dá uma tremenda sova ao indivíduo que ficou com fracturas no braço e na perna. Depois, o porta-voz da polícia justifica que as fracturas foram motivadas pela tentativa de fuga do preso ao tentar saltar o muro da Esquadra da Achada de Stº. António;
- Agentes, da polícia e da guarda prisional, chegam num bairro, aprisionam um jovem, algemam-no e dão-lhe um tiro pelas costas.
Na verdade, toda a população, perante esse clima de (in)segurança e (in)justiça reinante no País e ainda pela forma de actuação de uma boa parte dos agentes da PN, quer ver a tropa (PM) nas ruas. “Se isto trás mais segurança à população, porque não formar jovens, como a tropa, bem preparada e incorporar na polícia? Ou então formar uma força especial de jovens, bem seleccionados, com vocação para polícia, com boa postura e liderança, para ajudar na solução dessa situação de insegurança?”, são questões levantadas por quem conhece a profissão.
De certa forma, muita gente não concorda com a PM nas ruas, porque não há garantias de segurança quando estão de folga ou quando passam à Disponibilidade. Além disso, a arma dos militares é de guerra. Contudo, aqueles que não se preocupam com a segurança dos soldados, é a favor, porque também quer a segurança pessoal e do País.
LIBERAL.SAPO.CV(OM)
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