Vive em Cobham, perto do centro de treinos e longe de Londres. Há dois anos no Chelsea, Deco não esconde que deseja voltar ao Brasil. Mas tem outra meta: o Mundial, onde quer explodir e ajudar Portugal a fazer boa figura.
Estamos muito perto do Campeonato do Mundo. O que acha que pode fazer Portugal na fase final da África do Sul?
Estamos de acordo se dissermos que não há obrigação de sermos campeões, embora ache que há selecções tão boas como a nossa, mas nenhuma melhor! Devemos, em primeiro lugar, tentar passar a primeira fase. Sermos eliminados seria, de facto, uma grande decepção. Acredito que vamos ser apurados e que tudo é possível. Num só jogo podemos perfeitamente ganhar a Espanha, à Argentina ou ao Brasil. Com os jogadores que temos, sinceramente, não vejo ninguém superior. Talvez a Espanha tenha mais soluções, mas não há outra selecção superior à nossa. Mas uma coisa deve ser levada em conta: não somos tão favoritos como Itália, Brasil, Argentina ou Alemanha. Mas se passarmos a primeira fase tudo pode acontecer.
Em termos pessoais, o que espera do Mundial?
Em primeiro lugar espero ser convocado! Estou a preparar-me da melhor forma e vou chegar bem ao Mundial. Vou estar a 100 por cento em termos físicos e mentalmente vou estar disponível, com a motivação nos índices máximos. Acredito, sinceramente, que vou fazer um grande Mundial.
Como se sentirá quando defrontar o Brasil? Já teve essa experiência, na estreia por Portugal...
Certamente que é um jogo especial, por ser brasileiro, por ter toda a minha vida ligada ao Brasil. Claro que é um jogo diferente de todos os outros, mas evidentemente que quero vencer. Quis jogar por Portugal e vou defender a camisola até ao fim. Quando tomei essa decisão sabia que estes jogos poderiam acontecer. E, se marcar, nenhum brasileiro poderá ver isso como uma traição à nação onde nasci.
Disse que é brasileiro, uma frase que causou alguma polémica em Portugal. Quer comentar?
Jogar por Portugal era o que mais queria e não me arrependo nem me arrependerei dessa decisão. Quando vou ao Brasil digo o mesmo aos meus amigos e familiares. Pelos vistos houve gente que ficou chocada por eu ter dito que sou brasileiro, mas não sou hipócrita para dizer que sou português, porque não nasci cá. São Bernardo do Campo não é Vila Nova de Gaia nem pertence ao Porto. Estive no Brasil até aos 17 anos, mas depois vim para Portugal e aprendi a amar o País. Tenho filhos que nasceram em Portugal, fiz amigos em Portugal, alguns deles importantíssimos na minha vida, e o que mais me importa é sentir-me bem comigo mesmo, perante a decisão que tomei. As pessoas podem ter certeza de uma coisa: estou na Selecção de corpo e alma e tenho um intenso sentido de gratidão a Portugal, se calhar até mesmo mais do que alguns portugueses...
Há quem diga que quis jogar por Portugal porque não conseguiria chegar à selecção do Brasil. Como reage quando ouve essas opiniões?
Com a minha carreira a coisa mais normal seria ter jogado pelo Brasil. Há jogadores que não fizeram metade que já vestiram aquela camisola. Jogar na selecção brasileira seria a coisa mais fácil e natural para quem ganhou tudo no FC Porto, foi titular indiscutível no Barcelona durante quatro anos e joga num dos principais clubes do Mundo. A minha carreira fala por mim. Aliás, quando me decidi por Portugal, em 2003, o Brasil não tinha jogadores com as minhas características.
Sente-se triste por isso.
É uma estupidez! Sinto que estou no mesmo barco da Naide Gomes e do Obikwelu: quando ganhamos somos portugueses, quando perdemos somos estrangeiros! Quando ganhei troféus, falavam de mim como o internacional português, mas quando havia notícias menos agradáveis, como derrotas ou lesões, dizia-se e escrevia-se jogador brasileiro. Só deixo um exemplo: o maior ídolo do futebol no País não nasceu em Portugal. As pessoas devem pensar duas vezes antes de falarem.
ABOLA.PT
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