HAIA-Dormir entre baratas em colchões sujos. Trabalhar 14 horas por dia em cozinhas minúsculas e que oferecem grande perigo, para ganhar 25 euros. No ano passado, 35 indonésios que trabalhavam ilegalmente na Holanda foram encontrados nestas condições em diferentes endereços de Haia, Gouda e Roterdão. A mídia considerou como escravidão. O julgamento que começa hoje considera como tráfico de pessoas.
Nas pequenas cozinhas, cheias de fios eléctricos expostos, os indonésios tinham que fritar bolinhos de arroz e fazer ‘sambal’ – um tipo de mistura de pimentas – para restaurantes de comida indonésia na Holanda. Eles foram atraídos para a rica Holanda por uma rede de traficantes de pessoas. Eles teriam bons trabalhos numa fábrica de sapatos em Haia, com possibilidade de um emprego fixo. Cada um pagou cerca de 5 mil euros aos contrabandistas de pessoas pela viagem até a Holanda, um visto de duas semanas e um bom emprego.
Tráfico de pessoas
No julgamento que iniciou 9 de Abril no tribunal de Haia, seis suspeitos são acusados de tráfico e contrabando de seres humanos. Eles também teriam infringido leis alimentares e de mercadorias.
Trata-se de quatro javaneses-surinameses e um casal de indonésios. A mulher da Indonésia teria uma relação com o principal suspeito surinamês.
Rudi, uma das vítimas, está disposto a testemunhar contra seu antigo patrão. Ele quer que outros aprendam com o que aconteceu com ele. O agente em Jacarta havia prometido que ele ganharia 25 euros por 4 horas de trabalho. Ele veio para a Europa para pagar suas dívidas. Sua esposa é doente e ele não conseguia mais pagar os médicos e hospitais. O agente arranjou seu passaporte, visto e uma passagem para Paris.
”De lá eu vim de comboio para a Holanda e fui acolhido pelo braço direito do chefe. Fui levado para um endereço em Haia onde morava uma mulher indonésia a quem eu tive que dar dinheiro. Em seguida, fui levado para o local de trabalho.”
Montanhas de dinheiro
Junto com outros ilegais indonésios, Rudi tinha que fazer chips de banana e mandiopã de arroz. No primeiro mês, ele trabalhou apenas 5 dias e recebeu 125 euros. Mas este dinheiro ele teve que devolver para pagar pelo quarto em que dormia. Ele conseguia comer com um pouco de dinheiro que tinha trazido da Indonésia. Quase sempre só comia uma sopa simples ou restos que outros tinham pegado de um restaurante. Ele nunca viu as montanhas de dinheiro que tinham sido prometidas.
O advogado dos acusados, Van Duijne Strobosch, admite que as vítimas trabalhavam em péssimas condições, mas afirma que a acusação de tráfico de pessoas não pode ser comprovada.
"Do lado da defesa dos acusados é dada ênfase ao facto de que estas pessoas vieram por vontade própria. Que eram livres para ficar ou partir, se quisessem. Que recebiam um local para pernoitarem por um determinado valor. Mesmo que não recebessem o que um holandês recebe como salário mínimo, segundo as regras geralmente aplicadas.”
Vizinhos
O caso foi descoberto graças a denúncias de moradores das proximidades da Hobbemaplein, em Haia. Em Julho do ano passado, foram apanhados no local os primeiros 11 indonésios ilegais. Eles moravam e dormiam numa cozinha suja e quente no andar superior de um prédio de apartamentos. Lá os inspectores encontraram baratas sob tudo o que pegavam. A comida que era preparada ali era vendida em pequenos mercados de comida étnica – os chamados ‘tokos’ - em Haia.
Mais tarde, outros indonésios que viviam e trabalhavam em condições similares também foram encontrados em Roterdão e Gouda. Por mês, eles não recebiam mais que 200 euros. Não podiam trabalhar mais que 8 dias por mês e assim permaneciam dependentes das pessoas que os trouxeram para a Holanda. E quando alguém conseguia escapar desta situação, um novo indonésio era trazido.
RADIO NEDERLAND- Por Sebastiaan Gottlieb e Fediya Andina
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