CIDADE VELHA-As mil e uma peripécias por que passou a Ribeira Grande de Santiago vão ser revisitadas a partir de sexta-feira, uma vez que, no dia seguinte, se celebra o primeiro aniversário da sua elevação a Património Mundial da Humanidade.
Localidade mítica e até considerada mística, a agora também conhecida por Cidade Velha, 15 quilómetros a oeste da capital de Cabo Verde foi o primeiro núcleo populacional erigido por europeus, neste caso portugueses, nos trópicos e comemora, paralelamente, os 550 anos da sua descoberta, em 1460.
Palco de aventuras desde então, a Ribeira Grande de Santiago, berço da nacionalidade, está a tentar recuperar das cinzas a que esteve votada até há bem poucos anos, pois, até ao início deste século, era mais uma localidade do arquipélago, com a sua Sé Catedral e a sua Fortaleza de São Filipe a aguardar por melhores dias.
Primeira capital do arquipélago a que os portugueses chamariam Cabo Verde, a Ribeira Grande de Santiago foi colonizada em 1462 e palco da evangelização cristã - chegou a ter, em proporção, mais igrejas que Roma -, mas, por oposição, do tráfico negreiro que prosperou entre os séculos XVI e XIX, com Portugal à cabeça.
Já então entreposto estratégico no Atlântico Médio - foi capital do arquipélago até 1770, altura em que passou oficialmente para a Praia de Santa Maria, agora Cidade da Praia -, a actual Cidade Velha sofreu, por isso mesmo, a cobiça dos "reis dos mares", os piratas.
São célebres, nalguns casos lendárias, as destruições consumadas pelo talvez mais conhecido corsário de todos, o britânico Francis Drake, que, não só destruiu a cidade em várias ocasiões, como a própria Sé, a primeira construída em África.
A Sé Catedral da Ribeira Grande de Santiago demorou cerca de 200 anos a ser construída e, poucos anos depois de concluída, levou apenas uma semana para ser destruída pelas balas de canhão das diversas "armadas" de corsários que atacavam a localidade em busca da riqueza nela existente.
No começo deste século, e face ao passado histórico da localidade, o Governo deu início ao processo de elevação da Cidade Velha a Património Mundial da Humanidade, decisão que a UNESCO daria provimento a 26 de Junho de 2009.
Desde então, os esforços de alindamento da Cidade Velha foram redobrados e a localidade começou a ganhar cor, saindo, aos poucos, do cinzento e do desleixo que, por exemplo, inviabilizou, durante muitas décadas, as investigações ao sub solo que, desde 2009, recomeçaram em força, permitindo descobrir o que verdadeiramente de histórico há sob as suas ruínas.
Por baixo da cidade, os arqueólogos descobriram uma outra, dando a conhecer um novo mapa que, sem ninguém dar por isso ao longo dos séculos, se foi escondendo sob as "novas velhas" construções. Casa dos Escravos, capitania, um segundo porto, balas de canhão, ossadas e fardas foram algumas das descobertas.
OJE/LUSA-Por José Sousa Dias, da Agência Lusa
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