WASHINGTON-Barack Obama demitiu ontem o general que comandava as tropas norte-americanas e da NATO no conflito do Afeganistão, para mostrar que quem manda é o poder civil e político e não o militar. E garantiu que apesar de mudar a pessoa não muda a estratégia para vencer em solo afegão.
Stanley McChrystal tinha posto o cargo à disposição depois de revelado o conteúdo de um artigo da conhecida revista Rolling Stone, no qual critica o presidente e comandante em chefe das Forças Armadas dos EUA, bem como membros da sua Administração. Na parte da manhã esteve reunido meia hora com Obama, depois saiu e não mais voltou.
David Petraeus, general bem sucedido com a sua estratégia de contra-insurreição no Iraque, foi o escolhido para assumir o comando das forças aliadas no Afeganistão, 142 mil homens, 266 dos quais são portugueses.
"Tenho grande admiração pelos general McChrystal. Mas a sua conduta não preenche os padrões e mina o controlo civil sobre os militares e, assim, todos percebem que o código de conduta é para aplicar a todos da mesma forma", disse o chefe do Estado americano num comunicado à imprensa nos jardins da Casa Branca.
Ladeado por Petraeus, mas também pelo vice-presidente dos EUA, Joe Biden, Obama garantiu que mantém o compromisso de derrotar os talibãs e a Al-Qaeda. "Houve uma mudança de pessoal, mas não de política", afirmou, depois de agradecer o sacrifício pessoal e familiar que aceitou fazer o general Petraeus.
Na origem do ataque de fúria do líder dos Estados Unidos está o artigo que amanhã vai ser publicado na Rolling Stone. Aí, McChrystal, que fora nomeado há um ano, diz ter ficado com a impressão de que Obama não tinha preparação para lidar com o conflito afegão e que o seu primeiro encontro fora uma oportunidade para uma foto que não durou mais de dez minutos. Além disso o general e os seus assessores gozam com Biden, com o enviado especial americano ao Afeganistão Richard Holbrooke e o embaixador Karl Eikenberry.
"Há um desacordo que já é demasiado público entre os decisores militares e os civis e políticos, pois uns acham que o calendários dos outros não é realista", disse ao DN Miguel Monjardino, especialista em assuntos internacionais da Universidade Católica. Obama, quando aceitou pedir mais 30 mil homens para o Afeganistão, fixou para Julho de 2011 o início da retirada de tropas. McChrystal e outros não estavam de acordo.
O artigo terá sido uma "forma de pressionar o presidente, mas ele é o comandante supremo", referiu, ao DN, Carlos Gaspar. O presidente do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova admitiu que dado o contexto actual do teatro de operações do Afeganistão a retirada "vai demorar mais algum tempo do que Julho de 2011".
Os talibãs não dão mostras de grande enfraquecimento, o número de baixas ocidentais parece aumentar com as novas regras de tratar como civis todos aqueles que não tiverem na sua posse armas, vários países membros da NATO querem retirar o quanto antes. Na Holanda o governo caiu, a Polónia quer discutir um calendário de retirada na cimeira da Aliança Atlântica em Lisboa em Novembro. E O Reino Unido, com novo Governo, quer repensar a sua participação.
As reacções à troca de generais foram das mais variadas. Hamid Karzai, líder afegão, diz que respeita a decisão de Obama. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia, Carl Bildt, criticou-a. O ministro da Defesa português, Santos Silva, citado pela Lusa, lembrou que os objectivos no Afeganistão "são políticos e não militares". E deixou uma sugestão: "Cautela com os napoleões."
DN.PT-por PATRÍCIA VIEGAS
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