sexta-feira, 25 de junho de 2010

POLITICA:Os rostos femininos à frente da Finlândia, Eslováquia e Austrália. Nenhuma foi eleita pelo povo

Três dias, três mulheres no poder
Há muito que a política deixou de ser uma coisa de homens, mas ter três mulheres a serem designadas primeiras-ministras em três dias consecutivos não acontece todas as semanas. Finlândia, Eslováquia e Austrália têm agora um rosto feminino à frente do Governo. O mais curioso é que Mari Kiviniemi, Iveta Radicova e Julia Gillard não foram eleitas pelo povo.
Na Austrália, a ex-advogada de 48 anos chegou ontem ao poder depois de um verdadeiro golpe interno no Partido Trabalhista. Julia Gillard lançou um desafio ao primeiro-ministro Kevin Rud,d que, abalado por uma queda de popularidade e diante de uma derrota que se imaginava embaraçosa, desistiu do embate. Os 112 deputados trabalhistas não hesitaram em apoiar aquela que, até agora, era a vice-primeira-ministra.
Gillard há meses que garantia a Rudd que o apoiava, apesar de o homem que chegou a ser conhecido como Sr. 60% (por causa da sua enorme popularidade) ter vindo a cair nas sondagens. Em causa está principalmente o facto de o Governo australiano ter abandonado o plano de carbono zero, quando antes o país estava na vanguarda na luta contra o aquecimento climático, e uma polémica taxa aos lucros das companhias mineiras.
A notícia de que o primeiro-ministro tinha pedido ao seu chefe de gabinete para sondar nos bastidores qual era o seu nível de apoio terá desencadeado em Gillard a decisão de desafiar Rudd. A primeira mulher a assumir a liderança do Governo australiano mostrava-se ontem muito feliz, esperando poder servir de modelo. Sabendo contudo que não foi eleita pelo povo, indicou que pretende antecipar as eleições (em princípio para Outubro).
Na Eslováquia, a liberal Iveta Radicova foi a representante da União Democrática Cristã Eslovaca (SDKU-DS) nas eleições de 12 de Junho. Contudo, não foi ela a mais votada. A vitória nas legislativas coube a Roberto Fico, o primeiro-ministro cessante, mas o líder do partido de esquerda Smer-SD não conseguiu a maioria e foi incapaz de formar Governo. Por isso, na quarta-feira, o Presidente Ivan Gasparovic convidou Radicova para ser primeira-ministra. Junto com três outros partidos, terá uma confortável maioria de 79 dos 150 lugares no Parlamento.
"Sinto-me honrada por aceitar esta tarefa", disse a antiga socióloga prometendo um Governo para os cidadãos, de responsabilidade civil e cooperação. Faltarão apenas acertos finais para garantir a coligação - que defende uma reforma fiscal e judicial, assim como o fim do endividamento da Eslováquia - e Radicova se tornar na primeira mulher a chefiar o Executivo deste país, independente desde 1993.
Na Finlândia, Mari Kiviniemi tomou posse na terça-feira, após ter sido eleita para liderar o Partido do Centro. Matti Vanhannen tinha anunciado que pretendia renunciar, oficialmente porque vai ser sujeito a uma operação, mas a verdade é que o seu partido tem estado no centro de um escândalo financeiro - que não atinge contudo Kiviniemi. A sucessora de Vanhannen foi eleita no Parlamento com 115 votos a favor e 56 contra, sendo depois a nomeação confirmada pela Presidente Tarja Halonen. A Finlândia tem assim duas mulheres nos cargos de poder.
Desde a Antiguidade que as mulheres têm estado à frente dos destinos das nações - como Nefertiti no século XIV a.C. no Egipto. Mas só no século XX começaram a ser eleitas para cargos de liderança, depois de serem nomeadas para pastas ministeriais após a I Guerra Mundial - a estreia coube a Nina Bang, ministra da Educação da Dinamarca de 1924 a 1926. A precursora na chefia de um Governo foi Sirivamo Bandaranaike, eleita em 1960 primeira-ministra do Sri Lanka (então Ceilão). Os argentinos foram os primeiros a ter uma mulher presidente, após María Estela Martínez (Isabelita), suceder ao marido, Juan Domingo Perón, em Julho de 1974.
Em Portugal, Maria de Lurdes Pintasilgo foi a única a ocupar a chefia do Governo nos anos conturbados após a revolução do 25 de Abril, de Agosto de 1979 a Janeiro de 1980. No ano passado, Manuel Ferreira Leite, líder do PSD, perdeu as legislativas.
DN.PT-por SUSANA SALVADOR

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